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Projeto resgata tradição cultural de Maués

O tambor de gambá é um instrumento de percussão da família dos membranofones. Originado na etnia sateré-mawé, o Gambá de Maués utiliza como instrumento principal um tambor, que na linguagem do povo indígena chama-se justamente ‘gambá’, e significa ‘tronco oco’, fazendo referência ao tronco coletado para sua confecção. Geralmente o tambor é tocado com mais dois instrumentos, o caracaxá (uma espécie de reco-reco) e o tamborinho (da família das caixas guerreiras europeias). Juntos, os três formam um conjunto de gambá, onde seus três tocadores sentam-se sobre eles e batem o couro, com as duas mãos.

“Dessa tradição nasceu o ‘Tamboreando Cultura na Terra do Guaraná’, projeto concretizado pelo Idesam (Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia), patrocinado pelo Ministério do Turismo, Secretaria Especial de Cultura, Ambev e Guaraná Antarctica, através da Lei Rouanet. Sua operacionalização fica a cargo da AGM (Aliança Guaraná de Maués), sediada em Maués”, explicou Mariana Guimarães, coordenadora geral do Tamboreando.

O Tamboreando nasceu da interação entre o Idesam e dois mestres de cultura popular do Amazonas, Ricardo Macedo e Waldo Mafra, o Mestre Barrô, donos de conhecimentos notáveis sobre a arte dos tambores regionais, especialmente o Tambor de Gambá, e expressões folclóricas, como a Dança dos Pássaros.

Tanto Ricardo Macêdo quanto Waldo Mafra faleceram no período entre a elaboração das primeiras ideias e o início da execução do projeto, porém, um time de professores oficineiros dará continuidade ao trabalho dos dois mestres, entre eles, o luthier parintinense Alessandro Cabral, que foi regente de um grupo percussivo de 640 integrantes, a Batucada do Garantido.

Tradição passada às novas geração/Crédito: Divulgação

Fazendo e tocando

O Tamboreando visa a formação de ao menos 90 alunos nas práticas de Luthieria Percussiva e Tambor de Gambá, além da realização de dez apresentações artísticas na cidade de Maués. Com duração de dez meses, o curso de Luthieria Percussiva objetiva atender a ao menos 50 alunos com idade preferencialmente a partir de sete anos. Iniciado em outubro com duração até julho de 2022, ensina em cinco módulos a tradição de desenho e montagem de instrumentos de percussão. Como desdobramento, o professor orienta o grupo para a formação de uma orquestra, intitulada Grupo Troar de Tambores, que pretende realizar cinco apresentações ao longo do período, contemplando uma média de 500 espectadores com esta ação.

Já os cursos de Tambor de Gambá possuem duração de cinco meses, cada, acontecendo tanto na cidade de Maués quanto na comunidade Nossa Senhora Aparecida do Pedreiro. Em Maués, o curso acontece desde novembro e irá até abril de 2022, enquanto que no interior ele acontecerá de fevereiro a julho de 2022. Igualmente ao curso de Luthieria, os cursos de Tambor de Gambá recebem preferencialmente alunos a partir dos sete anos. Cada curso de gambá oferece 20 vagas para este público. Assim, como o Grupo Troar dos Tambores será formado com os alunos de Luthieria, os alunos de Gambá terão a oportunidade de exercitar o que aprenderam fazendo a sonorização ao vivo das apresentações da Dança dos Pássaros e Folclore, outro produto oferecido pelo projeto.

Valorização da região

O município de Maués foi escolhido como ponto focal do projeto por apresentar rica diversidade de saberes culturais tradicionais e originários, que são transmitidos de geração a geração.

“Os materiais do projeto possuem referência direta à natureza do município, trazendo singularidade a essas manifestações e fazendo com que sua prática fortaleça o sentimento de identidade. Por tudo isso, o Tamboreando não seria possível de ser realizado em outro local”, esclareceu Mariana.

Toda a ação é coordenada pela AGM e tem patrocínio do Guaraná Antárctica e da Ambev. A AGM teve início em outubro de 2017, com a missão de proporcionar ambientes coletivos de formação para a proposição de ações, com participação social e governamental, para o desenvolvimento de Maués, tendo o Idesam à frente de sua secretaria executiva.

“A iniciativa busca não só a valorização biocultural da região como também a melhoria na qualidade de vida da população mauesense, interagindo e construindo junto com os diversos atores locais”, informou a coordenadora.

“As metas incluem: melhorias aos produtores rurais e a implantação de métodos sustentáveis de produção; inserção da identidade local nas escolas e apoio a atividades extracurriculares aos alunos da rede pública; criação e ampliação de roteiros turísticos e capacitação do receptivo local; fortalecimento de grupos culturais tradicionais como gambazeiros (ritmo musical tradicional), parteiras e artesãos, entre outras ações, que valorizam o amplo aspecto do guaraná e que promovem impactos positivos nas mais diversas áreas”, concluiu.

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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