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Fábricas de frangos e de peixes

Muitas coisas que existem não são vistas porque estão perdidas na imensidão da Amazônia. Um dia um visitante me disse que tinha visto muito pouco pássaro no Amazonas e perguntou se realmente eram raros. Respondi que tinha passado por uma experiência, no interior do estado, que o faria mudar de opinião. Foi quando a empresa da qual eu fazia parte, resolveu plantar arroz no meio da selva. Quando esse arroz formou cachos atraiu tanto pássaro e em tal variedade que formavam um espetáculo indescritível.
Tal fartura que o morador acaba descobrindo, pode passar despercebida ao visitante ocasional. Assim também acontece com o peixe, que na cheia se “esconde” no alagado e na seca volta ao leito principal, onde se torna uma presa mais fácil de ser pescada. Essa facilidade e abundância fizeram com que durante muito tempo jamais alguém pensasse em reproduzir peixe em cativeiro, porque a natureza providenciava de tudo que se precisasse.
Hoje, a tecnologia para criação de peixe da espécie amazônica limita-se ao tambaqui e a matrinxã. Sobre o pirarucu, que é o maior peixe de escamas do mundo, a Embrapa tem apontamentos, mas ainda não tem uma tecnologia que possa ser disponibilizada para que um pretendente criador tenha segurança. E tecnologia nunca está totalmente disponibilizada porque, em se tratando de seres vivos, sempre é dinâmica. Assim, as técnicas de criação de peixe em cativeiro estão sendo modificadas a todo instante.
Essa reflexão nos remete a um outro ponto: a aceitação popular do peixe de cativeiro. Há cinco anos, falava com um senhor idoso que dizia não compreender como as pessoas comiam um peixe com sabor tão diferente. Comparava o tambaqui da natureza com o de cativeiro e dizia que “aquilo não tem gosto de tambaqui”.
Argumentei que, no final dos anos 70, eu estava no Pará e por lá corria um ditado que “quando paraense come galinha um dos dois está doente”. Referiam-se a galinha de quintal, pé duro, com sete meses de vida. Hoje o consumo de frango congelado rivaliza e, às vezes, leva vantagem sobre o peixe. O mesmo acontece aqui no Amazonas, onde o peixe é abundante e a galinha vem de outras plagas.
No final dos anos 50, quando se implantou a criação intensiva de frango para abate no oeste de Santa Catarina as pessoas torciam o nariz dizendo que essas galinhas tinham gosto de remédio. Imagine só o que fazem para uma galinha chegar ao peso de um quilo e meio com apenas 60 dias de vida. Bem, hoje as galinhas têm 40 dias de vida e pesam quase o dobro quando são abatidas. O consumo continua subindo.
Nesse criatório “em escala industrial” há espaço para o peixe, também. O Amazonas tem água sobrando e o mundo gosta de comer peixe. O valor nutritivo e a facilidade de digestão fazem do peixe a carne mais procurada. Barragens e tanques redes com certeza são bem menos agressivas à natureza que a pecuária. O ciclo de criação do peixe e o espaço são outros fatores que depõe a seu favor quando comparado à pecuária bovina. As experiências pioneiras mostram que é um negócio rentável. Não criemos a ilusão de que num curto espaço de tempo teremos peixe ao preço de galinhas, mas com certeza a um preço mais acessível.
O Amazonas pode e deve focalizar seus olhos na direção da indústria do pescado, uma vez que esta é uma função natural. Só assim, em vez de ser um importador de alimentos poderá transformar essa atividade comercial num mero intercâmbio de valores.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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