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Entrevista: Alfredo Nascimento – “aprendi a fazer a política do bem”

MARCELO PERES

Face: @marcelo-peres   Twitter: @jcommercio 

Alfredo Nascimento tem uma trajetória política de pelo menos 38 anos. Já foi deputado federal, vice-governador, senador e ministro de Estado. Agora, volta a concorrer a um novo mandato, desta vez como postulante a uma vaga para deputado federal.

Hoje, ele diz estar muito amadurecido e promete emprestar sua experiência para proporcionar mais benefícios à população. Alfredo é um dos articuladores da candidatura à reeleição de Jair Bolsonaro (PL), partido do qual é presidente estadual.

Antes, estava cotado para ser candidato ao governo e ao Senado, mas se decidiu pela Câmara Federal. Como deputado, ele avalia que terá mais espaço para colocar em prática as suas propostas, principalmente em relação ao interior do Estado, onde não há quase nenhuma atividade econômica, obrigando a maioria da população a recorrer à agricultura de subsistência, sobrevivendo ainda dos poucos recursos oriundos de repasses estaduais e federais.

Segundo Alfredo, o seu maior aprendizado como político no Amazonas, apesar de não ter nascido no Estado, foi como prefeito da capital. “Aprendi a fazer política do bem em Manaus. Agora, me sinto na obrigação de continuar dando a contrapartida a uma população que me acolheu há 46 anos”, ressalta ele.

Alfredo diz também ser muito grato ao Amazonas por tê-lo transformado em um político de projeção nacional, abrindo espaço para que ele, como deputado federal, viabilize recursos para fomentar atividades econômicas, somando-se às empresas da ZFM (Zona Franca de Manaus), gerando mais empregos e renda na região.

“Acho que posso contribuir. Tenho muita entrada em Brasília, onde passei 16 anos da minha vida. E tenho a convicção de que vou poder conseguir muitos espaços, abrir muitos recursos para ajudar tanto o meu Estado como a minha querida cidade de Manaus”, acrescenta o ex-prefeito e ex-governador.

O candidato afirma, ainda, que existem muitos interesses por trás dos gargalos existentes para a recuperação da BR-319, rodovia fundamental para tornar mais competitivos os produtos da ZFM, fomentando também o turismo.

De acordo com Alfredo, o maior opositor da pavimentação da estrada é a indústria paulista, que não quer baratear os custos de transporte para a exportação da produção da Zona Franca. “O Amazonas está isolado praticamente do resto do País. E vender os produtos lá fora torna-se mais caro, impactando em menor competividade do polo industrial local”, afirma.

Recentemente, saiu a licença prévia para a recuperação do trecho do meio da BR-319, mas é ainda um primeiro passo para a viabilização das obras. “Todo o mérito é do presidente Bolsonaro, que vem se empenhando em restaurar a via”, diz ele.

Alfredo Nascimento participou da live ‘JC às 15h’, comandada pelos jornalistas Caubi Cerquinho e Fred Novaes, diretor de redação do Jornal do Commercio,

Jornal do Commercio – O sr. disse que já foi ex de várias coisas. Agora, qual o grande objetivo de ser deputado federal pelo Amazonas?

Alfredo Nascimento – Eu tinha desistido da política. Tive insucesso nas últimas eleições. E hoje fazer política é muito difícil. É uma atividade hoje muito desacreditada.

E eu tinha desistido de parar. Já fui tudo. Fui prefeitos de Manaus três vezes, vice-governador, superintendente da Suframa, secretário de Fazenda do Estado, deputado federal, senador, ministro. E já não pensava em me candidatar a absolutamente nada.

Tive Covid da forma grave, mas depois comecei a repensar a minha decisão. E vi que não seria justo a esse Estado que me recebeu há 46 anos, e sequer nasci nele, ter me transformado num político conhecido nacionalmente, eu ficar acomodado em casa sem dar a minha contribuição

Poderia ter sido candidato ao governo, ao Senado. Mas resolvi ser candidato a deputado federal porque quero liberdade, não quero fazer acordos para estar amarrado lá na frente a compromissos.

Quero ter liberdade para não brigar com ninguém, com o governador, o prefeito e nem com o presidente, mas sim colocar o meu mandato a serviço da população que me recebeu a há 46 anos.

Acho que eu posso contribuir. Tenho muita entrada em Brasília, onde passei 16 anos da minha vida. E tenho a convicção de que vou poder conseguir muitos espaços, abrir muitos recursos para ajudar tanto o meu Estado como a minha querida cidade de Manaus..

JC – Sendo um político com lastro e reconhecimento nacional, como você vê o Alfredo, que antes cedo estava no sol e nas ruas, para o Alfredo que hoje se lança como candidato?

AN– É a experiência. Acho que meu maior aprendizado político foi a cidade de Manaus, onde aprendi a fazer política do bem. Que difere do fazer do servir. Foi o maior cargo de todos os cargos que ocupei na minha vida.

Foi de muito aprendizado e de muita satisfação. Fui um bom prefeito. Por duas vezes fui escolhido o melhor prefeito o País. Fiz uma administração muito voltada para o social e às pessoas.

A diferença é que hoje sou uma pessoa mais vivida, mais experiente. Eu conheço a política por dentro, nas suas entranhas. Sei o que presta e o que não presta.

E tenho a certeza que, por conhecer a política como conheço, vou poder dar uma contribuição muito maior. É muito fácil. É muito fácil ser candidato, e essa é a forma tradicional. Serei defensor intransigente da Zona Franca de Manaus, prometo trazer muito dinheiro….

Hoje tenho uma proposta diferente. Acho que minha experiência me fez enxergar a política dessa forma. Quero ser aliado do Estado e da minha comunidade.

Um senador representa o Estado, um deputado federal representa o povo. Eu vou ser um deputado diferente. Conheço muito bem a política e sei como um deputado pode ser tornar melhor porque não vou estar muito preocupado em falar bonito e dizer o que as pessoas querem ouvir, fazer belos discursos.

Vou fazer coisas para melhorar a vida das pessoas. Por exemplo, posso conversar com o prefeito da cidade e dizer pra ele que a gente tem que trazer de volta um programa de prevenção à saúde.

O problema que vive hoje a saúde de nosso Estado, principalmente a cidade de Manaus, é a falta de um programa de prevenção. A saúde só funciona bem nas cidades e em qualquer lugar do mundo onde tem um bom serviço de prevenção.

Quando fui prefeito, o Médico da Família, que colocava o médio para atender em casa, prescrevia os remédios e a agente de saúde entregava, fez com que fossem esvaziados os serviços especializados, de emergência, mas isso acabou em Manaus.

Essa saúde, que não é plurativa, precisa ser trazida de volta a Manaus. Naturalmente, o prefeito não deve ter os recursos, tem uma visão diferente.

Eu vou buscar dinheiro, tem dinheiro pra isso, estabelecendo uma regra para que a gente tenha, como era na minha época, um serviço de saúde bem próximo da casa da pessoa.

Não para tratar grandes problemas. Quando os problemas forem graves, podem ser encaminhados para os hospitais especializados, como também para urgência e emergência.

Precisa também que alguém cuide do setor primário do nosso Estado. O setor nunca teve a atenção que deveria do governo federal. Existem recursos e se pode viabilizar isso. É preciso investir no setor primário. O segmento é subsidiado no mundo inteiro. A produção de alimentos também.

Aqui no Brasil, isso é raro, e no amazonas é quase nada. Não tem subsídios para produzir. Saímos de uma pandemia, mas os produtores rurais estavam lá produzindo para abastecer

A educação também é importante. Estou fazendo muitos diálogos para ajudar o setor. Serei um deputado diferente. Já estou na política há 38 anos, não sou de briga, só vou defender o interesse das pessoas.

JC – Você falou de saúde, de educação….Nesses encontros com as comunidades, principalmente no interior, quais são hoje as principais reivindicações da população?

AN– No interior, principalmente empregos. Nosso Estado é diferente de todos os Estados do País porque Manaus é uma cidade-Estado. Temos um excesso de concentração e poder econômico na capital, com mais de 90% da nossa economia, tem cerca de 60% da população e 40% nos municípios.

E o interior fica com menos de 10% da nossa riqueza. Existe uma centralização excessiva em Manaus e não tem atividade econômica no interior.

O governo, tanto o estadual como o municipal, tem que se voltar para coisas que gerem empregos. A atividade econômica não existe em nenhum dos municípios do interior. O dinheiro que circula é de recursos para servidores, pensionistas, aposentados, bolsas, auxílios….

O maior problema hoje é a geração de empregos. Claro, que o projeto ZFM é exitoso, mas precisa de outras atividades.

Não é o poder público que gera empregos, é a atividade econômica, mas ela precisa ser incentivada. A Zona Franca só existe porque nós pagamos para que essas empresas estejam aqui. Pagamos com isenção de impostos.

Falta vicinal para escoamento da produção no interior. Hoje tenho uma visão muito mais aberta. Tenho uma boa noção do que pode ser aproveitado no interior do Estado.

JC – O Brasil vive um ambiente de polarização já há algum tempo. E se mantém agora nas eleições. Você já esteve nos dois lados. Como avalia hoje as diferenças?

AN – São momentos difíceis. A vida é muito mutante. E feliz daquele que tem capacidade de mudar de posição, trocar de opinião.

Sou partidário. Sou um homem de partido. Fui presidente nacional do PL, sou presidente de honra, sou da executiva nacional do partido, e atualmente sou presidente estadual do partido.

Então, lido muito com isso. Sou o segundo cara mais antigo do partido. E somos um partido de centro. Fomos aliados a um partido de esquerda. E eu participei representando o partido no governo do Lula como ministro da Infraestrutura.

Agora, o meu partido resolveu se aliar à direita. E o nosso entendimento é que apoiar o presidente Bolsonaro partidariamente era muito melhor para nós. Então, começamos daí a decisão.

E não se tem como sair dessa polarização. A eleição vai ser polarizada. Não se tem nada disso como dizem as pesquisas – já ganhou ou não. Naturalmente, você tem pesquisas contratadas para orientar a campanha de seu candidato à Presidência da República.

Então, é uma eleição que está extremada, ela vai ser muito acirrada, será uma eleição de dois turnos. E o eleitor que vai decidir a eleição é o que está no meio, que está indeciso.

A opção que fizemos por Bolsonaro é a melhor no nosso entendimento e que seja feita a vontade do povo, a vontade de Deus.

JC – Você já foi superintendente da Suframa. Como deputado federal, é possível fazer alguma coisa pelo CBA? E também pela BR-319?

AN –Quando você tenta tratar esse assunto lá em Brasília, é muito difícil de ser conduzido. A Zona Franca é um projeto exitoso, mas foi criado durante o regime militar. Se dependesse do regime democrático, nós jamais conseguiríamos criar porque somos aqui apenas oito deputados federais e três senadores.

Se compararmos com São Paulo, são 70 deputados federais e três senadores. A ZFM é um projeto exitoso, mas as pessoas veem com maus olhos lá fora. Para nós é essencial e sem eles não sobreviveríamos.

A Zona Franca é fundamental para os empregos que temos. O projeto foi criado para preservar o meio ambiente. Em toda a Região Norte, o Amazonas foi o que mais preservou. Temos mais de 90% de toda a nossa fauna e flora preservadas.

O projeto também foi criado para deslocar um pouco da economia forte do Sul e Sudeste para os Estados mais pobres do norte do País.

Esses objetivos foram alcançados, mas nó também cometemos um erro em não criar outros espaços. A cada ano que passa nós ficamos atrasados em relação à Zona Franca de Manaus. A culpa é muito mais nossa do que da União.

Vou tentar ajudar para que o CBA funcione. Para que a ZFM tenha uma ação diferenciada tomando como base as ações do CBA.

Quando assumi o ministério, o meu sonho era concluir a BR-319. Ela tem 838 quilômetros. Eu concluí mais da metade dela. Faltam 400 quilômetros, a parte do meio. E toda eleição se levanta esse assunto.

E falam que o Alfredo não fez. Antes disso, precisa da licença ambiental. Saí do ministério há 11 anos e desde então não foi colocada nenhuma gota de asfalto no meio da BR-319.

Se aparecer alguém que faz política dizendo que colocou um centavo na recuperação da estrada, não sou mais candidato. Então, é muito fácil falar.

A prova que estou falando a verdade é que saiu a licença prévia da BR-319. É exclusiva do presidente Bolsonaro porque a ordem é dele. Pelo Ministério do Meio Ambiente, isso não sairia nunca.

Não saiu no governo Lula, no governo Dilma. Saiu agora porque Bolsonaro deu a ordem. Ninguém conseguiu nada. O mérito é só do presidente. Não sonhe e nem pense que isso vai ser resolvido agora.

Saiu a licença prévia que tem 59 exigências, é ainda o primeiro passo. Briguei com isso. A rodovia tem má vontade de todos. A indústria paulista faz qualquer coisa para isso não acontecer porque o nosso produto da ZFM ganha competitividade. Barateia o modal de transporte, com menos custos nos produtos.

Esses 400 quilômetros ligariam o Atlântico ao Pacífico. A rodovia é uma proposição do mundo interior. Comercialmente, isso mexe com muita coisa e muita gente.

Aparece tudo quanto é coisa para a rodovia não ser concluída. Vou me empenhar com o presidente Bolsonaro na viabilização desse projeto. Vamos ter uma realidade econômica totalmente diferente com a recuperação da estrada.

JC – Falando de infraestrutura, vemos que a bancada amazonense consegue emendas. Mas não há sustentação. Não demora e os portos ficam danificados. As prefeituras não dão garantias para que o dinheiro não seja jogado pelo ralo….

AN –Construí 49 portos no interior do Estado. E vi o porto de Manicoré quebrado. O de Atalaia do Norte também está com problemas. O nome disso é falta de cuidados, é safadeza. Fico muito revoltado com isso.

Na realidade, esses portos funcionam como rodoviárias no interior do Estado. Então, há falta de cuidado, de compromisso. Tem que haver uma estrutura de manutenção.

Com mandato, eu vou cobrar muito, não só isso. As pessoas têm que escolher gente que tem compromisso. Hoje, a política está tão desmoralizada que ninguém quer saber disso. A população tem que ser muito mais exigente em relação ao voto que dá aos candidatos.

JC – Temos grandes problemas. Recentemente, houve uma discussão muito grande com relação aos preços das passagens aéreas para o Festival de Parintins. Trabalhando com toda a bancada, acha que é possível baratear os custos para fomentar o turismo?

AN –  É possível. A interferência que tem o parlamento nesse tipo de ação é muito pequena. Porque isso é lei de mercado, oferta e procura. Não há concorrência. É tudo muito concentrado. Não há outras empresas.

Para esse caso específico, é muito difícil fazer interferência. É preciso abrir o mercado para todo mundo, que é feito pela Agência Nacional de  Aviação. E o resto é abuso, como acontece no caso da gasolina, baixa ao preço, mas alguns não atendem à determinação. Infelizmente, isso é cultural no País. Mas se corrige com concorrência.

JC – A política econômica tem buscado maior competitividade para o País como um todo. E a ZFM tem sentido alguns impactos com mudanças no IPI, gerando críticas. Como avalia essa questão, uma vez que dá suporte ao presidente Bolsonaro?

AN -Em toda eleição, tem essa questão. Mas a Constituição Federal preserva a Zona Franca. Tanto que o Amazonas venceu todas as ações. Entendo que num primeiro momento o governo errou ao reduzir em 25% o IPI, que é ótimo para o resto da economia do País.

No último decreto, a vantagem comparativa melhorou para nós. Ninguém vai mexer com a Zona Franca de Manaus, que é o gerador de riquezas e empregos.

Claro que vou defender a Zona Franca. Houve um prejuízo para o segmento de concentrados. Mas nada que não se possa conversar. Só está errada a forma como algumas pessoas fazem essa mobilização.

Política é conversa, não é xingamento. Vamos ser intransigentes em relação a isso, mas não brigando, fazendo confusão. Se sairmos na porrada no Congresso, vamos perder. Somos só oito deputados federais. Precisa conversar.

JC – Recentemente, o Amazonas foi notícia com o crime no Vale do Javari. É possível promover mais segurança às fronteiras?

AN – Conheço bem as fronteiras. O trafico está instalada com uma força comunal. Tem que se armar. Os caras estão com metralhadoras. Tem que colocar o Exército. Não adiante colocar uma meia dúzia de militares.

Lá é território por onde entra e sai quase tudo que é de errado para o País. É fronteira entre três países. Tem que se juntar. Ter um projeto federal para ocupar, precisamos ocupar a nossa Amazônia na tríplice fronteira.

Quantas mortes ocorrem lá que a gente nem sabe. O jornalista e o indigenista eram muito conhecidos.

Mas quantos caboclos não morrem lá? Só reprimindo com muita força. Onde tem dinheiro rolando, droga, madeira, peixe. Todo mundo conhece essas histórias. E o grande problema é que eles vão colocando cada vez mais pessoas. Então, em resumo, é tomar conta da fronteira.

Marcelo Peres

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