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Endividamento reforça alta em Manaus, mas nível de inadimplência do consumidor tem leve melhora 

inadimplência

O número de endividados em Manaus avançou pelo quinto mês seguido em março. Mas, os índices locais de consumidores inadimplentes e insolventes pararam de piorar. Ao menos 549.142 famílias da cidade, o equivalente a 82,9% do total, estão com contas a vencer. É uma marca superior à de fevereiro (83,4% ou 551.890), embora menor do que a de 12 meses atrás (89,8% ou 586.546). A situação piorou mais para quem tem renda abaixo de dez salários mínimos, em função dos carnês. Mas, a predominância do cartão de crédito ainda é maior, graças aos que ganham mais.

Já a parcela de famílias com contas atrasadas interrompeu seis meses de alta, ao cair de 53,1% para 52,5%, chegando a 347.550. Com isso, a proporção se manteve a mesma de março do ano passado (52,5%). A mesma dinâmica se deu na fatia de consumidores sem condições de pagamento, que já é de 22,1% (134.868). A inadimplência avançou nas duas faixas de renda, mas ainda é maior no grupo dos mais pobres. É o que revelam os dados locais da Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor), da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo). 

A capital amazonense acompanhou a média nacional. O percentual de famílias brasileiras com dívidas a vencer em meios de pagamentos diversos subiu de 77,9% para 78,1% na variação mensal, e também ficou pouco menor do que o dado de 12 meses atrás (78,3%). Assim como o ocorrido em Manaus, o percentual de inadimplentes (28,6%) também cresceu. Já a quantidade de consumidores sem fôlego para as contas (12%) permaneceu quase estável frente em ambas as comparações. Vale notar que outros levantamentos recentes, como os da CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas) e da Serasa Experian, mostram retrato semelhante.

A nova piora da Peic em Manaus contrasta com a recuperação mostrada na pesquisa da ICF (Intenção de Consumo das da Famílias) local – também da CNC – após o tropeço anterior. Foi uma melhora puxada pelos consumidores com renda acima de dez salários mínimos, favorecida pela percepção sobre renda, perspectivas profissionais e acesso ao crédito, em detrimento da propensão a comprar bens duráveis. Apurado pela mesma entidade, o ICEC (Índice de Confiança do Empresário do Comércio) reforçou alta, em sintonia com os preparativos para o Dia das Mães e maior intenção de contratar – mas não de investir.

Cartões e carnês

O cartão de crédito vem reduzindo sua participação no bolo das dívidas, embora ainda seja o motor do endividamento em Manaus, em sintonia com a praticidade, apesar dos custos. Respondeu por 67,4% das dívidas locais – contra os 65,6% de fevereiro – e seu uso é ainda maior entre as famílias de maior renda (81,8%). Conforme a Anefac (Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), esse ainda é o meio de financiamento mais caro do país, com juros mensais de 14,74% (e 420,69% anuais). E, apesar das quedas seguidas na Selic, os juros continuam subindo nessa modalidade.

Em contrapartida, os carnês (51,3%) aumentaram sul fatia entre os débitos das famílias da cidade e mantiveram a vice-liderança, mas são impulsionados pelos que recebem menos (52,5%). Na sequência estão “outras dívidas” (10,3%), crédito pessoal (10,1%), crédito consignado (8,3%), financiamento de carro (7,9%), e financiamento de casa (4,3%). Dono da segunda maior taxa de juros da lista da Anefac (7,81% por mês e 146,55% por ano), o cheque especial responde por 5,9% das dívidas. Invenção brasileira, o cheque pré-datado (0,8%) vem perdendo adeptos e é usado somente pelos mais pobres.

Conforme a CNC, o percentual de consumidores de Manaus que se dizem “muito endividados” estabilizou em 26,4%, sendo essa uma condição mais comum entre as famílias de menor renda (27,8%). Os “mais ou menos endividados” (22,1%) se equilibram em ambos os segmentos de renda. Os “pouco endividados” (34,5%) ampliaram sua maioria – especialmente entre os que ganham mais (46,3%). 

Em média, as famílias endividadas de Manaus devem levar 28 semanas para quitar seus compromissos. Os devedores com até três meses de compromissos pendentes (32,5%) renovou predominância e ampliou participação. O grupo dos que esperam levar mais de um ano para isso (28,6%) vem logo em seguida. Na média, os consumidores locais têm 30,7% de sua renda comprometidos por dívidas, o mesmo patamar de fevereiro. Mas, 27,8% gastam mais da metade do que ganham e 44% consomem de 11% a 50% de seus rendimentos.

Nada menos do que 63,3% dos endividados locais já está inadimplente, sem grande mudança frente ao levantamento anterior (63,7%). Apenas 20,6% garantem que conseguirão quitar o compromisso integralmente no próximo mês – contra os 21,1% apurados em fevereiro. Há menos consumidores estimam que vão pagar parcialmente (37,3%) e um percentual maior dos que assumem que vão seguir devendo (42,1%). Em média, as dívidas do consumidor de Manaus estão atrasadas há 60 dias, sendo que o grupo de famílias pendentes há mais de 90 dias (40,9%) segue em elevação.

Juros e estiagem

O presidente em exercício da Fecomercio-AM, Aderson Frota, considera que os números do levantamento da CNC confirmam que a situação do consumidor de Manaus “ainda é muito grave” e motivo de preocupações para o varejo local, principalmente diante da perspectiva de uma nova estiagem severa. “Os empresários estão se reprogramando e planejando suas compras. No tocante ao consumo, ainda temos algumas dificuldades, apesar da redução da carga de juros. Isso já ajudou e diminuiu as perspectivas de inadimplência, apesar de todos os problemas que vivemos”, ponderou.

No texto distribuído pela assessoria de imprensa da CNC, o presidente da entidade, José Roberto Tadros, avalia que os números refletem o ciclo de cortes graduais da Selic, iniciado pelo Copom em agosto de 2023. “O momento mais favorável dos juros, com menor custo, tem contribuído para uma maior demanda das famílias por crédito, sobretudo, parcelado”, apontou o dirigente, acrescentado que os dados do Banco Central confirmam um incremento de 1,1% no saldo de operações de crédito para pessoas físicas em janeiro.

No mesmo texto, o economista-chefe da entidade, Felipe Tavares, salienta que a redução gradual do custo do dinheiro contribuiu para uma queda no comprometimento de renda dos consumidores brasileiros. “Para ampliar a renda disponível, as famílias buscaram aumentar o prazo para pagamento das suas dívidas. Tanto que o tempo de comprometimento com dívidas atingiu 7,1 meses em março de 2023, o maior nível desde abril de 2022”, concluiu.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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