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Dinheiro está mais difícil e caro para todos

Marco Dassori

Twitter: @marco.dassori

Impulsionados pelos aumentos da Selic e pelas incertezas na economia, os juros bancários voltaram a escalar em junho. Segundo a Anefac (Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade) essa foi a 18ª alta consecutiva e, mais uma vez, se deu em todas as modalidades de crédito. Os aumentos ocorreram em todas as modalidades de crédito, tanto para pessoas físicas, quanto jurídicas. A alta foi puxada principalmente pelo CDC para aquisição de veículos e financiamento para capital de giro.

A Anefac reafirma, no texto da pesquisa, que os empréstimos estão mais caros em virtude da alta dos juros futuros no mercado financeiro e das expectativas de mais aumentos da taxa básica, mediante o avanço da inflação. Mas, o ponto nevrálgico continua nas estimativas em relação à taxa de inadimplência, que é favorecida pelo “desemprego elevado” e maior seletividade dos bancos para emprestar. A elevação da CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido) dos bancos para custear a abertura do programa de renegociação de dívidas de empresas do Simples também entra nessa conta. 

De acordo com o levantamento, o acréscimo médio nos juros para as pessoas físicas foi de 1,05% (+0,07 p.p.), no mês passado. A taxa mensal foi reposicionada de 6,68% para 6,75%, mantendo a correção anual dos empréstimos na casa dos três dígitos (+118,99%). O incremento no custo dos financiamentos para as pessoas jurídicas também correspondeu a 1,05% (+0,04 p.p.), sendo esta a maior taxa desde dezembro de 2018. Com isso, os juros passaram para 3,81% ao mês e 57,35% ao ano, o maior patamar desde junho de 2018.

O CDC bancário para veículos (+2,51%), que tradicionalmente é a modalidade mais barata, já que conta com garantia, registrou a majoração mais salgada para as famílias, levando a taxa a 2,04% por mês e 27,42% ao ano. Na sequência estão empréstimos pessoais nos bancos (+1,27%) e financeiras (+1,26%), cartão de crédito (+1,23%), juros no comércio (+0,95%) e cheque especial (+0,50%). Cartão de crédito (13,96% mensais e 379,77% anuais) e cheque especial (7,98% e 151,26%) ainda são as modalidades mais proibitivas.

Do lado das pessoas jurídicas, a alta foi puxada pelo capital de giro (+2,25%), crédito vital para proporcionar oxigênio e sobrevivência às empresas, especialmente em tempos de vendas oscilantes. A taxa já está em 1,82% mês e em 24,16% ao ano. Os juros para esse tipo de público, no entanto, ainda são mais pesados para a conta garantida (7,82% e 146,83%), que recebeu acréscimo de 0,90% em sua remuneração. O desconto de duplicatas (1,91% e 15,49%) teve reajuste ainda maior (+1,06%).  

A Anefac aponta que a disparada dos juros bancários ficou aquém dos aumentos da Selic. Consideradas todas as elevações promovidas pelo BC, entre janeiro de 2021 (2%) e junho de 2022 (13,25%), a taxa básica de juros avançou 562,50% (+11,25 pontos percentuais). No mesmo período, o custo médio do dinheiro para pessoas físicas ficou 28,51% (+26,40 p.p.) mais caro, ao passar de 92,59% para 118,99% anuais. Para as pessoas jurídicas, a elevação foi de 39,20% (+16,15 p.p.), saltando de 41,20% para 57,35% ao ano.

Decisões adiadas

A ex-vice-presidente do Corecon-AM (Conselho Regional de Economia do Amazonas) e professora universitária, Michele Lins Aracaty e Silva, assinala que os reajustes já eram esperados e que é necessário acompanhar o movimento da Selic para verificar o comportamento das taxas cobradas nas linhas de crédito. A economista avalia, contudo, que o atual panorama econômico não favorece reduções no custo do dinheiro neste ano.

“Com o receio de não receber no prazo, os bancos se resguardam elevando-nos as taxas. Todas essas modalidades tiveram impacto na conjuntura, sendo que crédito mais caro inibe consumo e inovação. Além de sentirem dificuldades em quitar as dívidas no prazo, empresa e consumidor possivelmente irão adiar decisões de contratar novos empréstimos. No caso do capital de giro e da conta garantida, tem-se retração de investimento e também na inovação e na competitividade”, lamentou.

“Passos lentos”

O ex-presidente do Corecon-AM, professor universitário e consultor empresarial, Francisco de Assis Mourão Júnior, chama a atenção para o fator inadimplência na composição da taxa de riscos dos empréstimos, e lembra que desde os governos Dilma (2011-2016), o percentual de mal pagadores aumentou significativamente. O economista enfatiza que as diferenças de taxas entre as modalidades se dão conforme “o perigo do calote” e a possibilidade de o banco ter alguma garantia nessa eventualidade. 

“Infelizmente, temos uma inflação alta e uma economia que cresce a passos lentos, alternando PIBs positivos e negativos. A situação será essa, enquanto não tivermos uma perspectiva de redução da inadimplência, para que esses juros se comportem perto do normal da Selic. Há a perspectiva de um segundo semestre melhor, mas a guerra na Ucrânia, entre outros fatores, traz o risco de uma recessão mundial”, alertou.

Gasolina e alimentos

O consultor econômico e coordenador regional da Abed (Associação Brasileira de Economistas pela Democracia) no Amazonas, Inaldo Seixas, lembra que o “avanço dos preços” se consolidou em 2022, a partir da guerra na Ucrânia, levando o BC a apertar ainda mais o crédito. Ele lamenta os impactos dessa dinâmica na saúde das empresas, que muitas vezes precisam recorrer ao mercado para financiar seu capital de giro, diante de atrasos de pagamentos e outras variáveis. Para o economista, a situação tende a ficar assim no segundo semestre, apesar da relativa desaceleração dos indicadores de inflação. 

“A tendência é de manutenção dos juros em patamares elevados, tendo em vista que o BC avisou que vai aumentar a Selic, se a inflação der sinais de persistência em níveis elevados. A taxa tinha passado de 1%, mas já está na casa de 0,5%. Talvez, com a gasolina um pouquinho mais baixa, o Banco Central dê uma freada, embora tenhamos de ver como vão se comportar os preços dos alimentos”, ponderou, acrescentando que o aumento dos juros americanos também ajuda a alavancar os custos dos empréstimos. 

“Momento de prudência”

A consultora empresarial, professora e também integrante da seção regional da Abed, Denise Kassama, aponta outros fatores que ajudam a alavancar a inflação e os juros ainda que indiretamente, a exemplo do efeito do câmbio na inflação e nos custos dos investimentos. A economista lista ainda os reajustes nos fretes, que encarecem o custo logístico e de produção, assim como os impactos da mudança climática nas safras e na pecuária. E inclui também a PEC Kamikaze como fator de risco.  

“O próprio comércio está com juros proibitivos. Isso tem a ver com a inadimplência, e a ideia é que quem paga cubra quem não paga. O banco nunca perde. A tendência é que haja mais aumento, para controlar o mercado e deixar o governo mais à vontade para emplacar a PEC. O momento é de prudência porque, além desse cenário econômico que vivemos, o país passa por um processo eleitoral. As pessoas precisam refletir, antes de se decidirem por compras a longo prazo, por conta dessa taxa de juros que está aí”, concluiu.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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