Desde o primeiro mandato do Presidente Lula o PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira) amarga um racha interno entre dois grupos. O grupo comandado por Fernando Henrique Cardoso que tem no senador Arthur Virgílio Neto o seu ponta de lança, optou por fazer oposição radical a Lula e não ao governo central do Brasil. Este grupo, segundo o jornalista Kennedy Alencar, age com o fígado, numa espécie de vingança pelo que FHC sofreu com o PT no poder. O segundo grupo encabeçado por José Serra e que tem Aécio Neves como “marketing boy”, decidiu fazer oposição moderada ao governo pressionando-o através do diálogo e do possível entendimento nacional em torno da CPMF. Este diálogo foi fundamental porque Serra e seu grupo conseguiram fazer com que o governo destinasse paulatinamente todos os recursos da CPMF para a saúde.
Serra e Aécio, numa tirada de mestre, escolheram o caminho da paz social porque sabem com exímia perspicácia política que precisam dialogar com o eleitorado de Lula se quiserem chegar ao Planalto. Esta é uma gente de boa cepa antenada inteligentemente com a história e com a dinâmica de ir e vir de um país que começou a entrar na dança da democracia, e que busca resgatar os ideais republicanos. A política (maior) de um país deve ser construída pela via do entendimento nacional antevendo o que é melhor para o povo, o que eleva a nação naquilo que mais necessita que é o desenvolvimento humano equânime e com justiça social. O PSDB de Fernando Henrique Cardoso e Arthur Neto, juntamente com o antigo PFL (Partido da Frente Liberal), são os responsáveis pela retirada do imposto da saúde que era em torno de 40 bilhões anual.
O direito do povo à saúde ficou ainda mais restrito e comprometido, e isto tem uma repercussão extremamente negativa ao PSDB que ensaiava a candidatura de Serra para o Planalto contra Dilma Roussef que é uma petista de marca maior, cuja tortura que sofreu na ditadura com choque na vagina e nos seios, transformou-a numa mulher extremamente forte e combativa. Parece que era isto mesmo que o PSDB de FHC queria: derrubar a candidatura de José Serra. Toda esta contenda dentro do PSDB passa pelo fato de ser Aécio Neves amigo pessoal de Lula. Os bastidores sabem que Aécio ficou balançado a ir para o PT quando recebeu informalmente o convite do próprio amigo.
Aécio não deixou o PSDB até agora porque também é amigo de Serra. Ou seja, a lealdade o impede de deixar o amigo na mão, o que nos lembra Aristóteles na Ética a Nicômano. Faltou ao grupo de FHC a correta avaliação política dos erros que poderia cometer em não aprovar a CPMF, por isso o PSDB está desesperado e querendo “consertar” o estrago que fez com a não aprovação deste imposto pelo Senado no dia 12 de dezembro do ano em curso. O DEM (Partido Democrata) não perdeu nada porque não tem nome para suceder Lula, o qual ficou mais fortalecido para fazer sua sucessão. A história é implacável, os tucanos serão inquiridos a arcar com essa derrota do povo que perde frente aos serviços de saúde. A classe média contrária a CPMF já vota em Serra, o PSDB precisava era do voto das classes populares.
Iraildes Caldas é professora da Ufam e doutora em Ciências Sociais/ Antropologia. E-mail: [email protected]