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Ensino de Física e o Pisa – parte 2

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É preciso chamar a aten­ção para alguns fatos: o interesse pela Ciência é proporcional ao ensino e ao estímulo que o estudante recebe. Nós e muitos de nossos colegas esco­lhemos fazer Física devido ao incentivo de um professor excelente, ou, em alguns casos, de mais de um. Transmitir a beleza do universo para um estudante e a curiosidade que nos impele a compreendê-lo é uma tarefa importante do professor. Talvez a mais importante. Estamos convencidos de que o homem, em qualquer idade, se move pela curiosidade e pelo prazer de realizar suas tarefas, de ser criativo. Como nos ensina o sociólogo italiano Domenico de Massi, na sociedade pós-moderna do século 21, eminentemente científica, apenas a criatividade pode tornar o homem competitivo.

Uma questão importante é identificar que comunidades ou instituições estão envolvi­­­das nessa questão? Acreditamos que, em primeiro lugar, aqueles que são responsáveis pelas agências financiadoras; as autoridades políticas que até agora não revelaram uma atitude muito menos um planejamento estratégico de médio e longo prazo que possa reverter a triste situação atual. É impos­sível chegar a qualquer me­lhora da qualidade do ensino de Ciências, ou de qual­­quer outra área, sem um incentivo salarial apropriado. Essa questão é tão clara que nos leva a dar exemplos que conhe­cemos de perto. Em vários países desenvolvidos, conhecemos pesquisadores que são casados com professoras do ensino fundamental. Todas recebem salários acima daquele do cônjuge pesquisador. A categoria já conquistou o direito anual de participação em cursos avançados, para que os professores do ensino médio melhorem suas práticas, suas práxis pedagógicas e se atualizem permanentemente. Alguns são doutores em Física e assim por diante. Como competir com situação como esta? Portanto, esta seria uma primeira provi­dência, necessária, mas não suficiente: melhorar a situação dos professores do ponto de vista sa­­larial, tirando-os de uma si­­­­tuação ridiculamente cons­trangedora, sem falar na percepção clara que os alunos e a sociedade possuem deste fato: a desvalorização da educação.

Outra envolvida é a grande mídia. Os jornais não dão ênfase à divulgação da Ciência e, quando o fazem, muitas ve­­zes traduzem notícias veiculadas no exterior. Imaginem, como falou um ex-presiden­te da SBPC, que todos os campos de futebol fossem transformados em campos de Ciência. Poderíamos imaginar o im­pacto que haveria se um décimo do espaço ocupado pelo futebol nos jornais e nas televisões fosse ocupado pela divulgação científica. Uma ocasião, ao sugerirmos novas diretrizes para um efetivo e continuado projeto de divulgação científica para um grande jornal, recebemos a seguinte resposta: “teríamos leitores para isto?”.

É importante entender que estamos diante de um abismo. É para isto que o resultado da avaliação Pisa aponta. Como disse uma vez H.G. Wells: “Entramos numa corrida entre a educação e a catástrofe”. Não há qualquer exagero nessa frase, ainda mais verdadeira hoje, uma vez que se perdeu a dimensão de que o objetivo da educação não é apenas o co­nhecimento de fatos, mas, sobretudo, de valores. Este sé­culo 21 é o século da Ciência. Seu ensino, portanto, será res­ponsável pela compreensão do mundo em que vivemos e viveremos. Preocupados com isto dois físicos Georges Charpak (prêmio Nobel de Física de 1992) e Roland Omnès lançaram recentemente um livro, já traduzido no Brasil com o título “Sejam sábios, tornem-se profetas”,­ sobre a questão da migração dos jovens às grandes bruxa­­­­­­rias, às drogas etc., por in­­­­­compreensão do mundo em que vivem, por falta de uma visão mais aberta deste mun­­­do e de uma boa formação pa­­­­­ra compreendê-lo .

A última comunidade en­­­volvida, finalmente, é a pró­pria comunidade científica, que reage às necessidades urgentes de mudança de forma extremamente conservadora. Mudar currículos que ensinam a Física de alguns séculos é imperativo, assim como a lógica perversa de que cada segme

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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