Pesquisar
Close this search box.

Copa e a culpa pelo anafalbetismo

https://www.jcam.com.br/artigo_cad1_0711.jpg

Alegria, regozijo geral, celebrações nas praças como resultado preliminar do anúncio de que o Brasil sediará a Copa do Mundo de Futebol do ano de 2014. Todo esse estardalhaço ocupou boa parte do noticiário, sa lientando as vantagens econômicas de patrocinar um evento desse porte. Dentre os aspectos positivos, foi ressaltado pelos especialistas, o aumento do número de turistas e o conseqüente numerário em circulação pelo país pátria do futebol. Foi enfocado, ainda, que a Copa do Mundo é na verdade uma grande vitrine capaz de projetar para todo o globo as belezas naturais de uma nação, atraindo, sobremaneira o interesse para a visitação. Além do notório crescimento do número de visitantes estrangeiros, foi destacada a parte da infra-estrutura, como legado dos preparativos que antecedem o certame esportivo. Dessa forma, Manaus potencial cidade para albergar alguns jogos, receberia dentre outros aperfeiçoamentos, um metrô de superfície.

Sorriso escancarado dos amantes do futebol, expressão de admiração do cidadão não tão aficionado pela “pelada” e a triste constatação de que o futebol tornou-se mola mestra do desenvolvimento, elemento capaz de despertar nos governantes brasileiros, sede de desenvolvimento, gana expansionista e “tesão” progressista.

É a evidência maior de que o Brasil carente de doutores, cientistas, estudiosos, em todos os setores do conhecimento humano, continuará necessitado desses cérebros privilegiados por muito tempo. Atrelar o avanço de um país a um acontecimento futebolístico, pode até ter reflexos posi tivos para as agências de viagens, setor hoteleiro e de restaurantes, mas não estimulará o surgimento de jovens preocupados com o desenvolvimento de outros segmentos emergenciais. Se o Brasil não possui um prêmio Nobel e ainda se encontra em posição questionável no índice de desenvolvimento humano, é porque inexiste motivação para a prática e desenvolvimento de outras atividades, tão ou mais nobres, que a disputa entre as duas traves.

A Copa redunda dessa forma, na culpa pela falta de priorização no que tange a violência, ao analfabetismo, a crise ambiental, só para exemplificar algumas das mazelas da ausência de políticas públicas direcionadas densamente para a educação. É muito divertido quando a mídia divulga a ascensão de meninos humildes, quase sempre oriundos da periferia e sua meteórica incursão nos dólares e euros dos milionários times internacionais. É transmitida a inequívoca impressão de que esse Brasil continente não necessita de engenheiros, médicos, advogados, e sim de craques da “pelota”, com penteados que relembram a aterrorizante Medusa grega e a reluzente calva, popularmente adotada em todas as divisões dos campeonatos. Salta aos olhos a disputa pré-futebolística dos governadores “brazucas” por uma chance de abrigar em seus respectivos Estados uma parte da competição. Vale tudo, promessas à rodo, alegorias urbanísticas, soluções mirabolantes para toda e qualquer mácula capaz de repelir os representantes da Fifa.

Aparentemente, o Brasil reviverá não só as emoções de 1950, (augurando-se um final feliz) mas também a dúbia oportunidade de extirpar das ruas uma população de desvalidos, mendigos, como ocorreu durante a Rio/ECO/92 e os Jogos Panamericanos de 2007. Essa “limpeza” não é só hipócrita, como também atentatória aos preceitos mínimos de humanidade e dignidade. Eugenia futebolística só nessas bandas da América do Sul.

A Argentina, detentora de alguns Prêmios Nobel, pode até colorir sua bandeira com o verde da inveja, mas por certo continuará a estimular novos talentos que no futuro, farão muito mais do que percorrer um gramado durante 90 minutos. Para aqueles que enxergarem nesse texto pontos negativos, contra aquele que é o indigitado esporte das massas, símbolo da reação ao imperialismo do basebol e do basquetebol, estejam certos que o escopo dessas linhas é visceralmente propagar a inclusão de temas que não se restrinjam unicamente ao futebol entre os jovens brasileiros.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
Compartilhe:​

Qual sua opinião? Deixe seu comentário

Notícias Recentes

Pesquisar