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‘Somos o para-choque das soluções’, diz Aderson Frota

O presidente da Fecomércio-AM (Federação do Comércio do Estado do Amazonas), Aderson Frota, prevê boas perspectivas para este ano, apesar das dificuldades geradas durante as duas ondas da pandemia que se abateram sobre a região em 2020 e 2021.

Ele projeta um crescimento superior a 10% no último trimestre no segmento, corroborando para uma retomada das atividades comerciais em 2022, mesmo com o surgimento da nova variante ômicron no Amazonas.

“O comércio está se reinventando, acompanhando constantemente as mudanças que se impõem no relacionamento entre empresários e clientes. Somos o setor que mais emprega, hoje, no Amazonas, com participação de quase 55% de toda a arrecadação do ICMS”, ressalta o empresário.

Segundo Aderson Frota, o setor comercial não goza, porém, dos mesmos privilégios de outros segmentos. Os comerciantes pagam antecipadamente os impostos, diferente da indústria que recolhe o ICMS só na venda dos produtos. O líder empresarial avalia que o comércio está na linha de frente na relação com a população – encampa uma missão de muita responsabilidade e credibilidade, compartilhada por milhares de empresas envolvidas nessas atividades.

“Somos o para-choque das soluções”, acrescenta. Ele destaca que o consumidor está, hoje, mais consciente sobre as suas reais necessidades, principalmente em função da alta inflacionária puxada pelos aumentos da gasolina, das commodities, refletindo em todos os preços praticados nas atividades econômicas. “É uma reação em cadeia”, diz.

Frota também se entusiasma com a proposta de criação da ‘BR dos Rio’, inspirada no recém-criado projeto ‘BR do Mar’, uma iniciativa do governo federal através do Ministério da Infraestrutura, que conectará todos os portos do litoral à rede rodoviária e ferroviária do País, possibilitando preços mais justos praticados na cabotagem e mais eficiência nas operações.

“O ministro (Tarcísio de Freitas) disse que iria criar a ‘BR dos Rios’ para dar uma maior dinâmica à logística no Amazonas, barateando os custos com logística e dando mais competitividade às empresas. Mas vêm agora as eleições e ele provavelmente deve deixar o governo”, informou.

Aderson Frota participou da live ‘JC às 15h’, comandada pelos jornalistas Caubi Cerquinho e Fred Novaes, diretor de redação do Jornal do Commercio.

 Jornal do Commercio – A população corre para comprar o material escolar. A Delegacia do Consumidor dá dicas para evitar eventuais problemas. É um momento de pesquisar para não se deixar enganar…

Aderson Frota – Todo pai de família tem que ter em foco primeiro pesquisar se aquela relação de material é compatível com aquele momento da educação do jovem. Já vivenciamos isso e sabemos dos problemas que acontecem.

O consumidor conhece muito essa nova dinâmica. Antigamente, falava-se às pessoas que o tempo é dinheiro, e elas não entendiam muito.

Fizemos uma pesquisa. O perfil do consumidor está completamente mudado. Tem noção de dificuldades de trânsito, de estacionamento e ainda de um elemento que gera toda essa instabilidade, que é o preço do combustível,

Antes, via-se que o consumidor se deslocava a esmo. Seis anos atrás, tínhamos um supermercado na Torquato. Hoje, temos nove. Significa que os empresários do setor de alimentos perceberam que quase dois terços da população estava localizada nas zonas norte e leste. E eles se deslocaram nesse eixo.

Então, a mente do consumidor sofreu uma metamorfose muito grande. Ou o empresário se desloca para atender aquela fração da população ou então ele perde negócio. É por isso que os supermercados estão se concentrando cada vez mais nos eixos principais da nossa cidade.

JC – São 80% de linhas de ônibus que passam pela Torquato Tapajós e pela Constantino Nery. Já é uma prova maior…

AF – E o consumidor já está percebendo isso. Antigamente, ele nem percebia a complexidade do trânsito. Que ia ter dificuldade pra estacionar. Hoje, a percepção está muito forte. O preço da gasolina está muito alto.

Manaus tem hoje 800 mil automóveis –  se botar três pessoas em cada automóvel, ninguém anda mais a pé. E isso gera complexidade, demandas por estacionamentos.

O comerciante tem que se deslocar pra atender às necessidades dos clientes. Tem que se aperfeiçoar. Aprender a empreender pra atender realmente à população.

JC – Estamos começando 2022, há várias perspectivas. Mas como foi o ano de 2021 para o comércio, aprenderam algumas lições, principalmente com a pandemia? É sempre tempo de ensinamentos….

AF – Praticamente, inauguramos a primeira e segunda ondas da Covid-19 no Brasil. Em 2020, foram 111 dias com restrições no comércio que funcionou precariamente. Houve muitas multas. Naquele momento diziam que o comércio era o grande responsável pelas aglomerações.

Fizemos parte do comitê de crise. Percebemos que o papel da atividade comercial não era bem entendido. O empresário goza, hoje, de um conceito muito frágil. Dizem que o comerciante só quer especular, ganhar.

Hoje, o comércio paga imposto antecipadamente. As empresas armazenam mercadorias e também impostos. E muita gente ficou inadimplente com o fisco por conta da pandemia.

Foi por isso que lutamos junto ao governo do Estado e à prefeitura pra criar o Refis estadual e depois o Refis municipal. Isso é até uma oportunidade de  garantir o recebimento dos impostos.

E o que é mais grave – quando uma empresa vai à falência vem na esteira uma onda de desempregos. Que é uma crise social com proporções que a gente não percebe de imediato. Já tivemos 15 milhões de desempregados, algo em torno de 12% da população.

Numa economia estabilizada, o desemprego não passa de 5%, mas estamos ainda muito além.

Só no Caged, que é emprego formalizado, de carteira assinada, temos 13 milhões de desempregados. E os informais já estão beirando os 40 milhões, isso tudo gera deformidades, demanda de toda natureza, e o Estado acaba gastando muito mais. Temos necessidade de explicar como funciona isso.

Nós (o comércio) não temos benefícios fiscais, nós pagamos antecipadamente. O comércio e o setor de serviços são os maiores empregadores do Estado do Amazonas (temos hoje mais de 350 mil pessoas empregadas nos dois segmentos).

Quem fornece crédito para o consumidor? É o comércio

Quem entrega mercadoria a custo zero para o consumidor? O comércio

Quem é que se responsabiliza num primeiro minuto por um produto que se danifique? O comércio. Então, é preciso falar ao consumidor sobre o papel do comércio, mostrar com educação, com objetividade. O papel da atividade comercial precisa ser entendida.

JC – Até os governantes não percebem….

AF – Sim, não percebem. Antes, diziam que os comerciantes eram tubarões, só visavam lucro. Isso já passou, o comércio não tem grandes favores. Ao contrário, o comércio não tem benefício fiscal, pois paga antecipadamente os seus tributos.

E é o maior responsável pela receita dos cofres do Estado. Só pra gente fazer um paralelo, nada de confronto ou coisa ruim.

Enquanto que a indústria responde por 37% do ICMS e só paga quando vende o seu produto, o comércio paga antecipado e responde por quase 55% da arrecadação do ICMS. Então, a nossa contribuição é muito forte, muito grande, e sem privilégios, sem benefícios.

JC – Houve um ganho muito grande com essa relação de compra pela internet, levando a uma prática corriqueira. De alguma forma, isso concorre com as lojas físicas?

AF – Isso mexe com uma arquitetura. Anteriormente, o comércio vivia praticamente das lojas físicas. Era no tête-à-tête.  Questão do trânsito, dificuldades para estacionamento, o combustível mais caro. O consumidor já percebe isso. E tempo é dinheiro.

JC – E ainda tem a questão da aglomeração….

AF – Tudo isso está hoje dentro da percepção do consumidor que sabe muito bem que ele não pode fazer conclusões apressadas, ele agora pesquisa tudo. O cliente percebe com clareza e também não quer se  expor à pandemia.

A arquitetura das empresas está se alterando em função dessas mudanças. Existem novas formas de vender. O marketplace é hoje uma realidade, todos frequentamos com naturalidade muito grande. Agora, inverteu a polaridade, mas não diminuiu a responsabilidade do comércio.

A tendência é cada vez mais o e-commerce funcionar. As pessoas têm hoje um volume de informações que antigamente não tinham.

Estamos hoje mudando a capacitação de trabalhadores porque muitas funções vão acabar com a robotização. Há uma necessidade de robotizar os trabalhos porque o custo do emprego ainda é muito alto.

O comércio hoje está se reinventando, as vendas não têm a mesma geografia. É outro tipo de venda. A cada dia, os comerciantes têm que aprender a ir para as novas vendas, a fazer o marketplace e entender o mecanismo de atender à população. Então, é um outro momento para as vendas.

JC – E essa modernidade veio principalmente com a pandemia….É uma das lições que a tecnologia proporcionou ao segmento?

AF –  Em 2021, tivemos uma série de acontecimentos que mexeram com as atividades comerciais. Houve o aumento das commodities. O preço do barril de petróleo, que em fevereiro de 2020 custava 15 dólares, chegou a 82 dólares.

Em função disso, tivemos o aumento da gasolina, da energia, das operações portuárias que são outro fator muito grande porque vai refletir nos preços. Tivemos a escalada do dólar, a falta de navios e contêineres. A China segurou tudo.

Três empresas dominam completamente o cenário de cabotagem no Amazonas. Duas delas disseram que quando tinha navios, não tinha contêineres. E quanto tinha contêineres, não havia navios. Esses detalhes todos contribuíram para o aumento dos preços. Também a escalada no mercado financeiro.

E veio uma inadimplência brutal. Você pode elencar uma variedade de direitos para o trabalhador, mas não vai adiantar se não houver empregos.

Temos conversado com as autoridades de que precisamos melhorar os ambientes de negócios. Então, quando o governo entrega um bem público para a iniciativa privada, tende a melhorar a estrutura.

Por exemplo, o governo federal acabou de aprovar, através do Ministério da infraestrutura, a ‘BR Mar’. O objetivo é implementar a cabotagem dando a ela preços mais justos e mais eficiência nas operações.

O projeto conectou os portos do litoral à rede rodoviária e ferroviária. Isso vai dar uma dinâmica diferenciada que alavancará a economia acima de 30%. A ideia é fantástica.

Quando tomamos conhecimento, nós lembramos que no período militar o rio Amazonas foi considerado um braço de mar. Falamos isso ao ministro. O rio Amazonas corta a maior extensão do Brasil, de oeste a leste, servida por 13 afluentes e que desaguam no oceano Atlântico. E que também foi considerada braço de mar.

Mas tínhamos sido esquecidos, não fomos incluídos nesse projeto. E gostaríamos que o ministro examinasse essa possibilidade. E ele nos respondeu que iria criar a ‘BR dos Rios’. Mas veio o ano eleitoral, ele vai sair agora, e até que o Congresso retome suas atividades…..

JC – Bem interessante a ‘BR dos Rios’…

AF– A ‘BR dos Rios’ vai dar celeridade. Temos um rodofluvial que vem de qualquer lugar do Brasil através de Belém. Ou vem por Porto Velho e desce o rio Madeira até Manaus. Só que o Madeira é um rio de leito irregular, assoreia muito fácil, as balsas encalham, e isso dificulta.

O ministro disse que iria quebrar o assoreamento do rio Madeira, mas não é tudo. Porque um dos maiores custos que temos no Amazonas é com uma logística muito complicada, muito pobre. Só temos dois modais que são economicamente viáveis – o caminhão (mais caro) e o navio (meio desaparelhado, não tem contêineres).

Quando não temos navios, não temos contêineres, e vice-versa. Na escalada do dólar, o frete de um contêiner de 40 toneladas saltou de 2.500 dólares para 20 mil dólares. Como se explica isso, está fora de contexto. O desempenho do comércio é muito complicado.

JC – Fechamos o segundo Natal da pandemia. Parece que já foi diferente. Será que o segmento vai respirar melhor ou o fantasma da terceira onda continua vagando na cabeça dos empresários?

AF – Nos meses de setembro e outubro, tivemos o desprazer do mercado externo se desaparelhar. Aumento do petróleo, dos juros, do dólar. E vínhamos sofrendo o desabastecimento do comércio com a falta de navios.

Apesar de todas dificuldades, tivemos uma recuperação em novembro, Estávamos prevendo a criação de mil a 1.550 postos de trabalho e criamos 3 mil. Outro fator que evidencia a retomada do crescimento comercial é o aumento da arrecadação de impostos. Estamos recolhendo impostos mesmo antes de vender.

Isso tudo demonstrou a recuperação do Estado. O empresário do comércio tem consciência da responsabilidade de atender à população. Ele se preocupa, essa responsabilidade é exclusivamente dos comerciantes.

É uma missão que nos empurra, nos dá garras para superar as dificuldades. Somos o para-choque das soluções. Uma coisa que me deixa regozijado é que você vai lá no Procon e vê que o comércio não é o maior elo da reclamação, há mais contra outros setores. O comércio está distribuído entre milhares de empresas.

JC – E qual a perspectiva para 2022….?

AF –Em 2022, temos um horizonte sob duas pequenas vertentes – a primeira foi colocada recentemente sobre os efeitos da nova variante ômicron. Sabemos de antemão, como estamos avançados na vacinação, que não iremos ter o mesmo cenário que aconteceu antes.

A variante não tem a mesma letalidade. Antes, havia o espectro da desorganização de tudo. Foi um momento terrível que nós vivemos. Distribuímos água na porta de hospitais e prontos-socorros, não pra granjear. É a nossa obrigação colaborar.

Estamos juntos da população. Tudo isso nos dá uma percepção nesse momento. O efeito da nova variante e o ano eleitoral que está se aproximando.

Historicamente, não tem muito crescimento em anos eleitorais. O Estado para, não licita, não gera obras. Isso tudo mexe um pouco com os efeitos da própria economia.

JC – Na sua percepção, há realmente a possibilidade de serem retomadas as restrições?

AF – Falta-nos ainda a percepção de quais serão os efeitos dessa nova variante. Já sabemos que ela é menos letal e tem uma transmissão mais rápida. O quadro de vacinação nos dá garantias de que não vamos ter casos graves de internação, como antes. Mas é o momento de observar para tomar as decisões certas. Não existe efeito sem causa.

Quando a gente toma uma decisão que não avalia o quadro geral, você pode até passar o remédio errado. O grande empregador do Estado é a economia.

Mas o Estado não responde a todas as demandas das famílias. Então, é preciso mostrar caminhos, criar novos ambientes de negócios, estimular os empreendimentos que vão gerar renda, empregos e melhorar a qualidade de vida.

Temos mantido um diálogo muito bom com o Estado, a prefeitura e os órgãos federais. Mas precisamos rever um pouco desse nosso conceito que tem gerado algumas dificuldades para o segmento comercial e de serviços.

JC – O comércio está otimista?

AF – Sim, está otimista, e muito linkado na sua responsabilidade. Quando você está determinado, não se abate, vai à luta. O comércio tem essa responsabilidade e a noção nítida dessa função.

O ano de 2022 será positivo. No último trimestre, crescemos, por incrível que pareça, mais de 10%, isso é alvissareiro.

Você extrai essas informações do mercado de trabalho e da arrecadação. Esperamos uma recuperação em cima do resultado que tivemos no último trimestre.

Marcelo Peres

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