MARCELO PERES
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A disputa pelo governo do Amazonas também envolve um tema polêmico usado como mote de campanha nas eleições deste ano –a grave crise na área de saúde, que foi impactada pelas duas fases da pandemia de coronavírus.
A disseminação do coronavírus no Estado ficou sob os holofotes do mundo. Hospitais lotados, doentes morrendo nas filas para atendimento, cadáveres sendo enterrados em valas coletivas, enfim um cenário de guerra, mostram o quanto o Estado estava despreparado para enfrentar situações tão adversas como essas.
Tanta tragédia serve agora de pano de fundo para quem tem ambições políticas pensando em uma possível vitória em outubro. Dos candidatos ao cargo majoritário no próximo pleito, três centralizam seus planos de governo em melhorar o atendimento médico à população –um governador, que disputa a reeleição, e dois ex-governadores. O trio detém, respectivamente, o primeiro, segundo e terceiro lugares na preferência do eleitorado amazonense, segundo as últimas pesquisas de intenção de votos.
Wilson Lima (UB), atual governador, tenta resgatar a imagem abalada durante a pandemia. Foi acusado de fazer parte de escândalos envolvendo verbas destinadas pelo governo federal para a saúde, mas até agora nada foi provado contra ele. O superfaturamento na compra de respiradores ainda está na memória recente da maioria da população.
Com apoio do prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), hoje o seu maior cabo eleitoral, Lima continua liderando a nova corrida pelo Palácio Rio Nego, seguido de Amazonino Mendes (Cidadania) e Eduardo Braga (MDB), os dois últimos, ex-governadores.
A estratégia da campanha de Wilson Lima é se desvincular da imagem negativa por conta do caos da saúde que se instalou durante a proliferação da Covid-19, algo que começa a se diluir junto aos eleitores amazonenses, segundo analistas.
“Lima agora está mais tranquilo e deve se reeleger em outubro. O apoio do prefeito, hoje bem avaliado pela população manauara, recupera a sua imagem, fortalecendo-o para sair vitorioso em outubro. provavelmente já no primeiro turno”, avalia o sociólogo Celso Lima, que diz acompanhar de perto a tendência do eleitorado local. “Suas chances são maiores que Amazonino Mendes e Eduardo Braga”, acrescenta.
Outro dado que conspira para a reeleição de Lima é o apoio de pelo menos 50% dos prefeitos do interior. Nos últimos meses, o governador vem aumentando os benefícios destinados para as cidades ribeirinhas – melhorias nas áreas de saúde, linhas de crédito para os produtores rurais e obras para a modernização e ampliação da infraestrutura urbana.
Em seu novo plano de governo, o governador promete ampliar o número de leitos em UTIs no interior e instauração de policlínicas nos municípios polos para levar serviços de medicina especializada aos usuários. E promover ainda mutirões permanentes de saúde nas regiões metropolitanas e nas cidades ribeirinhas, ampliando o acesso às consultas, exames e cirurgias.
“Meu governo continuará dando o suporte necessário na área de saúde na capital e também no interior do Estado”, ressalta Wilson Lima. Ele critica potenciais oponentes que se aproveitam da pandemia para prejudicar a sua gestão. “Nunca o setor esteve antes tão aparelhado como hoje. As equipes da saúde levam atendimento para até regiões remotas do Estado”, destaca o candidato.
Outros projetos
Na área social, Wilson Lima promete construir ainda a Casa da Mulher Brasileira para atender mulheres em situação de vulnerabilidade social, aperfeiçoando também a rede de proteção para crianças, adolescentes, mulheres, idosos, deficientes e à população LGBTQIAP+ amazonense.
Amazonino Mendes diz que a situação precária vivida hoje por todos os amazonenses o motivou a tentar mais um mandato de governador. Ele critica a atual gestão do Palácio Rio Negro, lembrando o caos que se instalou na área de saúde por conta das duas ondas da pandemia. E que seu coração dói em ver “tanto sofrimento da população amazonense”.
“A crise mostrou os pontos nevrálgicos de um governo que deixou de priorizar a assistência medida à população, levando milhares de pessoas a perecerem pela disseminação da Covid-19”, afirma o candidato.
O ex-governador Amazonino Mendes disse que quer implementar programas de formação continuada aos profissionais de saúde do interior e da capital voltados a atendimentos de urgência e emergência. E ainda pretende restabelecer a política de transplantes na rede estadual, além de assistência multidisciplinar de abordagem ao paciente vítima de acidente vascular cerebral.
Em seu plano de governo, o candidato da federação Cidadania/PSDB destaca que irá estruturar a Telemergência para dar suporte técnico em tempo real aos profissionais do interior em situações de emergência, dando também orientações para estabilização e transporte.
“A reestruturação promoverá o pleno funcionamento da rede hospitalar na capital e no interior, investindo em inovação tecnológica, prestigiando e valorizando os profissionais da saúde, reforma e modernização na estrutura do setor, incluindo pronto-socorro e hospitais referenciados”, enumera o plano de governo do ex-governador Amazonino Mendes
O senador Eduardo Braga, que tem o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na disputa pelo governo do Amazonas, destaca a necessidade de ampliação da área de saúde, promovendo maior assistência, ampliando o número de consultas e acesso a exames simples e de alta complexidade.
“Quero lutar pela qualidade dos serviços de saúde pública e estruturar uma ampla rede de proteção à mulher, às crianças, à juventude, aos idosos, aos indígenas e às pessoas com deficiência”, pontua o candidato em seu plano de governo. Braga afirma que o “plano de governo não é um documento finalizado, mas uma formalização de um compromisso do que acreditamos ser o futuro do Amazonas”.
Os novos postulantes ao governo do Amazonas centralizam também seus planos de governo na bioeconomia, com o aproveitamento das potencialidades dos insumos regionais, viabilizando projetos sustentáveis, gerando mais empregos e renda à população. Igualmente, os candidatos ao Planalto trabalham o tema na preservação da Amazônia, que agora chama mais atenção da comunidade mundial após o crime bárbaro na região do Vale do Javari, no município de Atalaia do Norte (AM), onde foram vítimas o jornalista britânico Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira.
