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Boilevard revive brincadeira de rua

Neste domingo (18), aconteceu o Boilevard, o boi azul, o mais novo bumbá de rua de Manaus surgido no ano passado, realizando, novamente, uma grande festa para seus fãs no mesmo palco da Banda do Boulevard. Após a quantidade de pessoas que se fez presente na estréia do bumbá, em 2022, no ‘Arraial do Boilevard’, este ano, mais uma vez, traz a apresentação do boi como carro-chefe.  

O Boilevard é inteiramente azul, não porque seja do mesmo rebanho do contrário de Parintins, mas porque presta uma homenagem ao ‘mais querido e sempre amado’ time de Manaus, o Nacional Futebol Clube, afinal de contas seu idealizador, criador e atual presidente é o juiz Luís Cláudio Chaves, filho de ninguém menos que Manoel do Carmo Chaves, o Maneca, que jogou futebol de salão, no Nacional, em sua juventude, na década de 1950. Em 1972 Maneca foi diretor de futebol do clube e, de 1976 a 1983 chegou à presidência do azul e branco de Adrianópolis. Até hoje, pai e filho mantêm estreita relação com o clube e o bumbá vem reforçar isso.

Este ano, depois de ficar dois anos sem ser realizada por conta da pandemia, a Banda do Boulevard retornou em sua 36ª edição homenageando Teixeira de Manaus. A Banda foi idealizada por Maneca e agora é Luís Cláudio quem está à frente. Não satisfeito em manter uma banda que se tornou tradição no Carnaval de Manaus, Luís Cláudio agora investe nessa outra paixão do manauara, os bois bumbás e suas toadas.

“Não é fácil realizar um evento gigantesco, como é a Banda, e agora dar início a outro, que já está gigantesco, mas é gratificante ver o resultado final com milhares de pessoas se divertindo e a tradição sendo mantida”, falou Luís Cláudio.

Manaus, minha linda

Éber Leão, o chef Leão, é um dos patrocinadores, além de ser um dos maiores entusiastas do Boilevard. Também estão no seu coração a Banda do Boulevard e o Nacional.

“Eu e o Luís Cláudio nascemos aqui no Boulevard Álvaro Maia e, quando crianças, fomos mascotes do Nacional, aqueles menininhos que entram em campo junto com o time, então, essa nossa amizade de décadas me leva a apoiar essas iniciativas festivas realizadas por ele”, destacou o chef Leão.

“Sou um dos fundadores da Banda do Boulevard, bem como, agora, do Boilevard”, revelou.

Este ano a segunda edição do ‘Arraial do Boilevard’ teve a mesma estrutura do ano passado com barracas vendendo comidas típicas ao som de muitas toadas, sendo a principal, ‘Te amo, Manaus, minha linda’, a toada deste ano composta por Paulo Onça e tendo David Assayag como intérprete, uma ode ao que de Manaus tem de melhor.

“E o David Assayag foi a principal atração musical da noite, além de outros intérpretes e bandas que também se apresentaram cantando as toadas mais tradicionais de Garantido e Caprichoso, aquelas que fazem os torcedores vermelhos e azuis vibrarem de emoção”, conta o chef.

“Um dos objetivos do Boilevard é manter na rua a tradição dos bumbás do passado, quando os bois saíam pelas vielas escuras de Manaus, iluminadas pelas lamparinas dos brincantes, dançando nas áreas dos seus respectivos bairros. A única diferença é que o Boilevard só quer brincar, enquanto aqueles bumbás, na alta madrugada, saíam de seus respectivos territórios com a intenção de provocar os adversários e promover verdadeiras batalhas campais”, recordou.

Mina de Ouro, o precursor

Se hoje o Boilevard reina naquela região de Manaus, um dia, há 101 anos, outro bumbá surgiu no local quando nem se sonhava na existência da bela avenida e o que existiam eram casebres em meio a caminhos por entre a mata. Em abril de 1922, na casa de Pedro Albano, localizada na rua Tapajós, 146, foi criado o bumbá Mina de Ouro, que junto com Corre Campo e Tira Prosa se tornariam os grandes bumbás de Manaus, por décadas. De acordo com o pesquisador Alvadir Assunção, em seu livro ‘O auto do boi bumbá Corre Campo e outros famas’, o terreno onde o Mina de Ouro ensaiava ficava na esquina da rua Tapajós com o Boulevard, mudando depois para outro, no Seringal Mirim, próximo ao, hoje, final da Djalma Batista.

O Mina de Ouro passou por várias fases dessa brincadeira junina. Brincou pelas ruas escuras por várias décadas levando as famosas lamparinas para iluminar o trajeto; brigou com os outros bumbás ao encontrá-los (propositalmente) no caminho; conheceu o início do Festival Folclórico do Amazonas, em 1957; se apresentou no famoso General Osório, a praça que existia em frente ao atual Colégio Militar de Manaus; e viu a brincadeira de boi arrefecer, na década de 1970, com a chegada da televisão e o gosto das pessoas por outras diversões. Foi exatamente nesse período que o Mina de Ouro deixou de brincar, e nunca mais voltou a se exibir para seus admiradores.

É exatamente o resgate desses tempos que o Boilevard busca agora.  

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Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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