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Ameríndios do Brasil estão expostos no Musa

Hoje é o Dia do Índio, data determinada em 1940, durante a realização do Primeiro Congresso Indigenista Interamericano, acontecido no México, e que reuniu delegados indígenas de várias etnias do continente.

Naquele ano ainda nem havia começado a Expedição Roncador-Xingu, que ocorreria três anos depois, criada pelo governo federal com o objetivo de conhecer e desbravar as áreas mostradas em branco nas cartas geográficas brasileiras. À frente da expedição estavam os irmãos Villas-Bôas, Orlando, Cláudio e Leonardo que, nas décadas seguintes manteriam estreita relação com os povos indígenas surgidos em seus caminhos e os trariam à luz para o resto do país.

Muita coisa mudou de lá para cá. De povos inteiros vivendo em meio à floresta, completamente nus a, agora, cidadãos brasileiros, cientes de seus direitos e deveres, antenados com o mundo através da internet, formados doutores e lideranças em suas comunidades, porém, sem esquecer ou apagar a riqueza da cultura de seus antepassados.

E é isso que a exposição ‘Amazônia indígena’, do fotógrafo Renato Soares, que estreia hoje no Musa (Museu da Amazônia, av. Margarita, 6305 – Cidade de Deus), às 11h, mostra para o público visitante.

Mas nada de fotografias penduradas nas paredes de uma grande sala. As fotos estão dispostas nas trilhas que cortam a floresta do Musa, em 61 painéis de grandes dimensões (120 x 180 cm) que retratam a vida e cultura indígenas. As imagens foram registradas entre 1994 e 2019 por Renato, em sucessivas viagens e longas estadias em comunidades indígenas da Amazônia. Renato Soares chegou a trabalhar com Orlando, o último dos irmãos Villas-Bôas vivo.

Diferenças diversas

As fotografias da exposição retratam cenas do cotidiano de 20 etnias amazônicas. São parte do projeto ‘Ameríndios do Brasil’, iniciado por Renato em 2005, em que são registradas imagens de indígenas de todo o país.

“Já estive entre os tikuna, cambeba, dessana, tukano, marubo, matsé, kanamari, kulina, apalai-malana, kaiapó, kalapalo, kuikuro, yawalapiti, kamaiurá, e muitos outros grupos, inclusive estive ontem (14), com os tuyuka. O projeto completo visa documentar as atuais 305 etnias do Brasil, com as suas 274 línguas. Os aspectos culturais e a diversidade humana são o que eu busco. É o projeto da minha vida. Já perdi as contas de quantas etnias fotografei. Parei de contar quando chegou a 60. Trata-se de uma busca por essa gente feliz, bonita, interessante e diferente”, explicou.

E quem comemora o Dia do Índio através daquela figura estereotipada de uma pessoa vestida apenas com tanga, pinturas no rosto e corpo, e penas na cabeça, se engana com esse personagem.

“As diferenças são diversas. Os povos da Amazônia são da floresta, são diferentes dos povos do cerrado, que são diferentes dos povos do litoral, que são diferentes dos povos que vivem em montanhas ou nos campos. Sempre há diferenças, não só cultural como física, porque em cada região se tem uma maneira de pescar, de caçar, de plantar, com uma grande diversidade de plantas e frutas, além da língua de cada um desses povos”, falou.

Em 1995, trabalhando junto a Orlando Villas-Boas, este lhe disse que Renato precisava criar algo onde o índio tivesse uma resposta de seu trabalho.

“Orlando foi para mim um grande mentor, um grande mestre, um grande amigo. A partir dessa sua fala, eu passei, através de contrato, a pagar os índios pelo direito do uso de sua imagem. Depois disso eu resolvi criar o ‘Ameríndios do Brasil’, pelo qual continuo fotografando povos pelo país até hoje”, contou.

As fotografias de Renato Soares estão presentes em livros didáticos e foram expostas em galerias e museus no Brasil e exterior.

“A importância desse trabalho é mostrar para as pessoas que não somos apenas um povo. Existem muitos povos e esse é o momento de mostrar a diversidade humana nos nossos biomas. Se não enxergarmos a importância dos indígenas em nossa sociedade, teremos uma falência na sociedade como um todo”, concluiu.

Outras atividades

Um manifesto publicado pelo Musa, diz o seguinte: “Reparar é preciso. Respeitar as terras que os povos indígenas ocupam. As demarcadas e as não demarcadas. Defender os direitos estabelecidos na Constituição de 1988: viver de modos diferentes, falar línguas próprias (são mais de 150), preservar a cultura, a memória, as crenças e hábitos, a fraternidade com a natureza. As fotos em exposição cantam momentos felizes, entre sombras e luzes contam histórias. Renato Soares, maestro e fotógrafo, as ouviu e gravou com rara sensibilidade. Nas trilhas do Musa, deslumbrados, as vemos e ouvimos”.

Também hoje será reaberta ao público a exposição ‘Aturás, mandiocas e beijus’ e na casa de farinha, com o apoio da Amarn (Associacão das Mulheres Indígenas do Alto Rio Negro), serão preparadas tapiocas e beijus. Com as educadoras Maria Alice Paulino, Karapanã, Laura Scheine, Kokama o Musa está promovendo uma oficina de teatro com o objetivo de preservar a memória das histórias mitos e línguas indígenas.

“Nós, povos indígenas do Brasil e do mundo, estamos juntos, fortalecendo nosso espírito, nossa ancestralidade, nosso território, nossa língua”, observou Altaci Rubim Kokama

 ‘Aturás, mandiocas e beijus’ e ‘Peixe e gente’ são as exposições mais antigas no Musa, que resgatam tradições, conhecimentos e tecnologias cotidianas de pesca e cultivo de povos indígenas do Alto Rio Negro. Para conhecer mais, acesse: www.museudaamazonia.org.br

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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