“Se eu não morrer de COVID, vou morrer de fome!”
Ouvi essas palavras de uma senhora que vendia pipoca na praia da Ponta Negra. É impossível esquecer o olhar e o desespero com que aquela mulher me marcou no início da Pandemia em março de 2019.
Estamos vivendo novamente um momento crítico de internações, óbitos e suspensão das atividades não essenciais.
Isso significa que os trabalhadores informais, sem garantias legais e sem condições de sustentar suas famílias, voltaram a viver momentos de medo e de fome.
Segundo dados levantados pela Rede de Pesquisa Solidária, comandada por José Tadeu Arantes, da Agência FAPESP, “83,5% dos trabalhadores encontram-se em posições vulneráveis: 36,6% porque possuem vínculos de trabalho informais; 45,9% porque, embora com vínculos formais, atuam em setores bastante afetados pela dinâmica econômica. Os indivíduos com vínculos mais estáveis, em setores essenciais não afetados economicamente, somam apenas 13,8% da força de trabalho ocupada”.
Além disso, o estudo também demonstrou que o padrão de vulnerabilidade acompanha as desigualdades estruturais da sociedade brasileira, ou seja, negros e mulheres detêm os vínculos mais frágeis, sem a proteção das leis trabalhistas e mais sujeitos a perdas salariais.
Nesse contexto, urge uma mobilização social de amparo e proteção aos grupos sociais mais necessitados.
No pico da pandemia no ano passado, inúmeras empresas e voluntários colaboraram com as ações desenvolvidas pela Secretaria de Justiça do Estado enquanto estive à frente daquela pasta. Somente com a união de todos foi possível montar e manter um abrigo para pessoas em situação de rua, unir profissionais de psicologia, fisioterapia e outros atendendo por meio virtual, viabilizar a doação de álcool em gel, máscaras, kits de higiene, hortifrútis, alimentos e cestas básicas para grupos de idosos, mulheres, pessoas com deficiência, indígenas e outros vulneráveis.
Nesta semana a Fundação de Vigilância e Saúde anunciou o alerta roxo, ou seja, estamos além do alerta vermelho e não podemos fechar os olhos para a dor do próximo.
E agora? Onde estão os cidadãos que não perderam seus empregos, os que têm condições de suportar o período de restrição das atividades econômicas? O que estão fazendo pelo próximo além de permanecer em casa para não se contaminar e espalhar o vírus? É preciso mais!!!
É hora de os mais fortes ajudarem os mais fracos. É hora de garantir que não vai faltar comida na mesa de quem está impedido de trabalhar – comerciários, pipoqueiros, garçons, vendedores ambulantes, manicures, artistas, e inúmeras outras categorias de trabalhadores autônomos.
Enquanto os governos preparam seus pacotes econômico-sociais, precisamos fazer a nossa parte. Precisamos novamente unir a sociedade civil, nosso polo industrial, empresários em geral e todos que podem ajudar o próximo para minimizarmos a dor, a fome e a desesperança diante de uma pandemia que está matando pela doença e pela falta de oportunidades de se ganhar o pão nosso de cada dia.