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Os Curuminz mostram a beleza do seu grafite

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Em Parintins, todos sabem que o grande precursor das artes na ilha foi o religioso Irmão Miguel de Pascale, que durante décadas ensinou aos jovens parintinenses as artes do desenho, da pintura e da escultura. Muitos dos primeiros artistas dos bumbás Garantido e Caprichoso foram seus discípulos. Mas Irmão Miguel morreu em 2010, e os artistas não pararam de surgir na ilha, como se o religioso tivesse espalhado sementes por toda aquela terra, sementes que não param de eclodir.

Kemerson de Souza Freitas e Alzenei Pereira, ambos com 23 anos, começaram a fazer seus primeiros rabiscos ainda muito crianças, com seis, sete anos.

“Via os desenhos na televisão e rabiscava os personagens. Foi assim que desenvolvi a minha arte”, lembrou Kemerson, o mais falante dos dois.

Da mesma forma Alzenei entrou no mundo da arte. Interessante é que os rapazes, mesmo morando numa ilha onde quase todo mundo se conhece, nunca haviam se visto antes de entrar na faculdade.

Alzenei mora no Itaúna e Kemerson no Centro de Parintins, próximo à catedral de N. Sra. do Carmo. Em 2014 entraram para a Ufam, no curso de artes visuais. Só então se conheceram e logo se tornaram amigos.

“Nas aulas de desenho percebemos que nossos desenhos eram bem parecidos, tínhamos as mesmas idéias e estilos em comum”, contou Kemerson. “Eu queria fazer artes visuais ou design. Ele também. Nosso interesse pelo grafite era o mesmo”, completou.

Grafite pioneiro

Direcionados pelos professores, os jovens começaram a pesquisar os trabalhos de grafiteiros contemporâneos famosos como Eduardo Kobra e os Gêmeos (Otávio e Gustavo Pandolfo). Nascidos em São Paulo, estes três grafiteiros se tornaram os mais destacados do Brasil, com trabalhos realizados nos Estados Unidos, Inglaterra, França, Rússia, Grécia, Itália, Suécia e Polônia (Kobra); Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, Grécia e Cuba (Gêmeos). Kemerson e Alzenei perseguem a mesma fama, por isso criaram até um nome para a dupla: ‘Curuminz’ (com ‘z’ mesmo).

“Foi inspirados nos trabalhos deles que nos interessamos pela arte de rua, o grafite. Começamos a fazer nossos trabalhos nos muros abandonados de Parintins, para nos tornarmos conhecidos. E deu certo. Logo começaram a aparecer clientes. Foi aí que os ‘Curuminz’ nasceram”, destacou.

“Não sei se fomos os pioneiros em grafitar muros, aqui em Parintins, no nosso estilo regionalista, mas só via o pessoal desenhar aquelas figuras do hip hop. Agora já tem gente fazendo o mesmo tipo de arte urbana, parecida com a nossa”, revelou.

Mais interessante ainda na dualidade de Kemerson e Alzenei, além da mesma idade e do interesse por igual tipo de arte, é um completar o desenho do outro. Eles não desenham e pintam cada um por si. Um desenha e o outro colore, sempre se revezando.

“Eu faço o desenho em preto e branco e o Alzenei completa com o colorido. Outras vezes ele faz o desenho e eu dou as cores. E um não interfere no trabalho do outro, ainda que seja o mesmo trabalho. Desenhamos e colorimos do jeito que queremos. É como se fosse uma só cabeça pensando”, falou.

Base em Manaus

Apesar de o sonho de grande parte dos garotos de Parintins ser trabalhar para os bumbás, visando ganhar dinheiro e fama, Kemerson falou que nunca passou pela cabeça dos ‘Curuminz’ fazer esse estágio.

“Gostamos de criar livremente, e nos bumbás teríamos que fazer o que eles determinassem. Não queremos trabalhar assim”, contou.

Ao menos numa coisa os ‘Curuminz’ pensam diferente. Alzenei torce pelo Caprichoso e Kemerson pelo Garantido.

“Mas só durante o Festival, mesmo assim, nada de fanatismo. Não ficamos com raiva se o nosso boi perde, nem ficamos gozando o perdedor”, garantiu… e caprichou.

Kemerson se formou na Ufam no ano passado. Alzenei ficou devendo algumas disciplinas e se forma este ano. Os dois já sabem que sua profissão será o grafismo. Dinheiro eles já estão ganhando. Agora correm atrás da fama.

“O pessoal sempre nos pede para fazer painéis em seus comércios e residências. Ainda grafitamos muros, para embelezar a cidade. Agora começamos a pintar quadros, porque são mais fáceis de vender para os turistas que visitam a cidade”, explicou.

Em maio do ano passado os ‘Curuminz’ estrearam em grande estilo, em Manaus. Realizaram sua primeira exposição, com curadoria de Cristovão Coutinho, na Galeria do Largo.

“Trouxemos seis painéis de 2m x 1,20m e ainda pintamos um grafite na parede da Galeria. Vendemos dois painéis”, revelou.

Seu mais recente trabalho (matéria no Jornal do Commercio) foram figuras e grafismos indígenas no flutuante Tarumanos Float, da cantora Márcia Novo, no Tarumã. E eles querem montar sua base de trabalho em Manaus.

“Sim. Assim que o Alzenei se formar, vamos mudar para Manaus onde, temos certeza, mais portas se abrirão para nós e, quem sabe, ganhemos o Brasil e o mundo”, previu.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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