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Virgílio Viana vai aconselhar Papa Francisco sobre Amazônia

Em cerimônia realizada no Vaticano, no dia 29 passado, o superintendente geral da FAS (Fundação Amazônia Sustentável), Virgílio Viana, foi oficialmente integrado à Pontifícia Academia de Ciências Sociais do Vaticano. O evento foi realizado na Sala do Consistório, localizada no terceiro andar do Palácio Apostólico. É uma sala especial, decorada com afrescos e tapeçarias de mestres italianos, onde os papas tomam suas decisões com o colegiado de cardeais.

A Academia é formada por um grupo de especialistas para dar conselhos ao papa sobre meio ambiente, mudanças climáticas e Amazônia.

Virgílio Viana é engenheiro florestal e PhD em biologia pela Universidade de Harvard. Foi presidente da Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia e membro da Comissão The Lancet Covid-19. Do Vaticano, ele deu essa entrevista ao Jornal do Commercio. 

Jornal do Commercio: O que significa se tornar membro da Pontifícia Academia de Ciências Sociais do Vaticano?

Virgílio Viana: Significa fazer parte de um grupo de elevadíssimo nível acadêmico com pessoas de diferentes países e que representa uma oportunidade única, não só de aprendizagem pela interação do grupo, mas também de contribuir com reflexões que poderão servir de base para o posicionamento do papa Francisco e com influências para diferentes instituições que veem na Pontifícia Academia uma referência de alta credibilidade.

JC: Quantas pessoas fazem parte dessa Academia e quais suas ações enquanto membros?

VV: São cerca de 30 membros que fazem parte da Academia e suas ações envolvem participações nos estudos em publicações de natureza acadêmica.

JC: Como seu nome chegou aos ouvidos do papa Francisco?

VV: O meu nome, acredito eu, pode ter surgido a partir da minha participação como convidado especial para diferentes atividades da Academia e, a partir das interações e contribuições que eu fiz, isso foi identificado como algo que me qualificava, junto com meu currículo pessoal, acadêmico e profissional, para essa posição.  

JC: Antes de você, o papa já tinha alguém falando, com conhecimento de causa, sobre os acontecimentos na Amazônia?

VV: O papa tem uma referência muito importante no que diz respeito à Amazônia: o cardeal Dom Cláudio Hummes, que foi presidente da Repan (Rede Eclesial Pan-amazônica), e da Conferência Eclesial da Amazônia, e historicamente é a pessoa que mais influência teve, e tem, nesse assunto, no Vaticano, assim como diversos outros nomes.

JC: Que informações você pretende repassar para a Academia?

VV: Na verdade, não se trata de repassar informações para a Academia, mas sintetizar resultados de publicações científicas feitas por diferentes atores e a partir do conhecimento científico internacional produzir material de alta qualidade de excelência acadêmica. 

JC: Como funciona a Academia? Quando se encontram? Como escolhem as pautas? Quem leva as informações para o papa?

VV: A Academia funciona com eventos, seminários, de cerca de três dias, três a quatro vezes ao ano e tem as sessões plenárias de dois em dois anos. A duração do mandato é de dez anos, renováveis por mais dez, e as pautas são escolhidas pelo presidente da Academia em conjunto com o chanceler da Academia e mais três outras pessoas que fazem parte do comitê diretivo. Todas as informações são compartilhadas com o papa, por exemplo, acabamos de ter um seminário sobre a família e o papel da família no futuro da humanidade e isso foi apresentado para o papa e ele fez uma fala muito bonita sobre o tema.

JC: Acredita que, a partir de agora, você poderá corrigir as informações distorcidas que os europeus têm sobre o que ocorre na Amazônia?

VV: Acredito que tenhamos a necessidade de um aprofundamento das análises que são feitas, e muitas vezes temos a necessidade de despolitizar e desideologizar o debate sobre a Amazônia com mais racionalidade científica a partir de dados científicos e que nos permitam ver o quão importante é a região para o futuro da humanidade, o quanto isso demandaria de recursos para manter não só a floresta em pé, mas gerar prosperidade para aqueles que vivem na Amazônia e ao mesmo tempo analisar esse tema do colapso ecológico que é o termo utilizado para descrever a mudança no regime de chuvas, que pode ter consequências seríssimas pro futuro, não só da Amazônia, com o aumento de cheias e secas, mas também para o restante do Brasil e da América do Sul, resvalando no agronegócio e produção agropecuária, além da geração de energia hidrelétrica do Brasil, e abastecimento urbano de água, por isso essas questões precisam ser aprofundadas e obviamente isso é um tema que necessita ser tratado com base científica e não com posições ideológicas e amadoras.     

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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