O que tem a ver a psicologia com o mundo voraz das empresas modernas? Efetivamente tudo. A conotação existencial do trabalho é evidenciada pela necessidade dos indivíduos de se sentirem produtivos, socialmente incluídos e obterem reconhecimento pessoal. Cada tipo de organização, com suas singularidades, terá impacto sobre as pessoas e seus processos psicológicos, o que vai interferir nos processos laborais e no desempenho da organização como um todo. Ao se preocupar com o mundo do trabalho, a Psicologia vai explorar as práticas, as políticas e estratégias de como lidar com as pessoas em contextos organizacionais.
A psicologia apareceu como área inovadora na análise das condutas humanas no século XIX, pelos estudos de Frederick Taylor, pioneiro da administração científica, relacionados ao aumento da produtividade. Na época, o ritmo intenso das indústrias aliado à carência de direitos trabalhistas provocou muitas baixas e motivou estudos sobre fadiga, acidentes e fluxos produtivos, criando o espaço onde a Psicologia Organizacional e do Trabalho (POT) deu os primeiros passos.
Antes restrita à área de gestão de pessoas, em problemas como seleção de pessoal, ajuste dos indivíduos às tarefas e avaliação de desempenho, a Psicologia foi ampliando sua atuação para treinamento, qualificação e desenvolvimento de carreira, e cada vez tem dado mais ênfase na qualidade de vida no trabalho (QVT), procurando identificar e corrigir situações desencadeadoras de tensão e adoecimento. Esse resgate da importância das condições de trabalho saudáveis é uma das faces mais promissores da POT atualmente.
Entre as décadas de 70 e 80 as questões humanistas, direcionadas para a satisfação dos indivíduos em suas atividades dentro das organizações, passaram a ser priorizadas. A partir dos anos 90, com as discussões sobre qualidade e competitividade, evidenciou-se o fato de que não era possível separar a produtividade de qualidade de vida no trabalho. Consolida-se gradativamente nos dias atuais a idéia de que a humanização no trabalho é fator importante tanto na promoção da saúde quanto na prevenção de doenças, especialmente as mentais e comportamentais.
O objetivo do psicólogo nas organizações é promover e assegurar um ambiente saudável e produtivo, mas que contemple as necessidades tanto dos empregados quando da organização, buscando meios para que as pessoas e as corporações lidem com as mudanças da melhor forma possível. O que a psicologia no trabalho intenta em última instância é a auto-regulação do trabalhador, embora haja um descompasso entre o discurso “humanizador” e a prática de gestão na maior parte das empresas.
Naquelas em que a valorização do trabalhador é efetivamente praticada, o psicólogo tem papel fundamental, podendo vir a contribuir, inclusive, no planejamento estratégico, na busca de alternativas para que os interesses da empresa sejam compatíveis com a saúde do trabalhador, estando a melhoria do desempenho e alta produtividade integradas a um crescimento compartilhado, sendo respeitada não só a cultura organizacional, como os padrões culturais singulares do contexto social, que podem interferir na dinâmica de trabalho.
O grande desafio para o profissional é mostrar às empresas que esse ideal humanizador não está em oposição ao propósito de sucesso e lucro. Ao contrário, empresas mais humanas tendem a ser rentáveis por mais tempo, porque se tornam confiáveis para o trabalhador, que precisa mais do que incentivo financeiro como lastro motivacional. Mas isto já é outra história.
O psicólogo nas organizações modernas
Redação
Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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