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Um amazonense em Monte Castelo

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Dia 21 de fevereiro é a data mais importante para os pracinhas, brasileiros que foram lutar na Itália, durante a Segunda Guerra Mundial, integrando a FEB (Força Expedicionária Brasileira). Nesta data, há 75 anos, os pracinhas conquistavam Monte Castelo, na mais importante batalha travada pelos brasileiros ao longo de três meses, nos Montes Apeninos, após cinco investidas contra o inimigo nazista. Durante sua estada na Itália, morreram quase 500 brasileiros.

O que somente alguns poucos historiadores sabem é que, comandando um dos três batalhões que realizaram a quinta e última investida contra os nazistas, estava um amazonense, Sizeno Ramos Sarmento, à frente do batalhão que honrosamente levava seu nome de guerra: Sarmento.

Sizeno nasceu em Manaus, em 03 de junho de 1907. Menino, foi escoteiro e, adolescente, com 16 anos, serviu no 27º BC (Batalhão de Caçadores), força militar cuja sede ficava no atual Colégio Militar.

“No ano seguinte, 1924, Sizeno foi transferido para o Rio de Janeiro, para continuar na carreira militar e lá começaria a deixar seu nome na história”, contou Adriel França, idealizador do projeto ‘Guerreiros do Amazonas’, cujo objetivo é resgatar a história de amazonenses que lutaram em guerras pelo mundo.

No Rio, como 2º tenente, Sizeno apoiou a Revolução de 1930, que colocou Getúlio Vargas no poder e, em 1932, como 1º tenente, lutou contra os revoltosos constitucionalistas. Em 1933 Sizeno foi promovido a capitão.

Sizeno esteve lá

Em 1942, um ano antes de o Brasil declarar guerra contra o Eixo (Alemanha, Itália e Japão), vamos encontrar Sizeno ainda como capitão, comandando o 21º BC em Garanhuns/PE. Quando o primeiro escalão da FEB seguiu para a guerra, em 2 de julho de 1944, Sizeno integrava o grupo.

“Um dia, ouvindo a música ‘Sinhá Lurdinha’, das várias que os pracinhas compuseram enquanto estiveram na Itália, esta me chamou a atenção. Ela diz: ‘Major Sizeno / Também fez a sua guerra / Na conquista de La Sierra / Com todo o seu batalhão’. Fui pesquisar quem seria este major Sizeno e qual não foi minha surpresa ao descobrir que ele era amazonense, nascido em Manaus, e que comandara um batalhão na conquista de Monte Castelo”, disse Adriel.

A batalha de Monte Castelo teve início em 24 de novembro de 1944, quando aconteceu o primeiro ataque da FEB aos nazistas entrincheirados no monte e se encerrou quase três meses depois, durante todo esse tempo sob um frio de menos 20 graus centígrados. 

O ataque final começou ao amanhecer do dia 21 de fevereiro, com o Batalhão Uzeda seguindo pela direita, o Batalhão Franklin na direção frontal ao monte, enquanto o Batalhão Sarmento, nas posições privilegiadas que alcançara durante a noite, aguardava o momento de juntar-se aos outros dois batalhões. Às 17h30 daquele dia, os primeiros soldados do Batalhão Franklin conquistaram o cume do Monte Castelo.

“Diferente dos pracinhas da FEB, que foi desarticulada após a volta deles ao Brasil com a quase totalidade destes homens não tendo a sua coragem e heroísmo reconhecidos pelo Estado brasileiro, Sizeno continuou na carreira militar. Em 1946, sob o governo de Eurico Gaspar Dutra (1946/1951), já como tenente coronel, ele foi indicado para interventor no Amazonas, atuando de setembro de 1946 a março de 1947, quando voltou para o Rio de Janeiro”, revelou.

Onde estava em 1964?

“Na década de 1950, Sizeno aparece com a patente de coronel. Quando acontece a tomada do poder pelos militares, em 1964, ele já é general de divisão e certamente esteve bastante envolvido naquela situação, pois era o comandante do 2º Exército, em São Paulo. Em maio de 1968 Sizeno deixa o comando do 2º Exército e assume o comando do 1º Exército, no Rio”, recordou.

Em 1970, em São Paulo, o Exército criou o DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informações-Centro de Operações de Defesa Interna), local por onde passaram milhares de presos e onde ocorreu a maioria dos casos de execuções e desaparecimentos forçados de opositores ao regime. Sizeno deve ter sabido de todas as operações desses órgãos.

Em 1971 ele deixa o comando do 1º Exército e assume o cargo de ministro do STM (Superior Tribunal Militar). Seis anos depois aparece filiado à Arena (Aliança Renovadora Nacional) concorrendo à indicação para governador do Rio Janeiro. Estranhamente registra sua chapa em junho de 1978 e, dois meses depois, desiste.

Em 16 de novembro de 1983, aos 76 anos, Sizeno Sarmento morre, no Rio de Janeiro, deixando seu nome entre os guerreiros do Amazonas, como o único a comandar companheiros durante a Segunda Guerra.

Outro amazonense, Emílio Rodrigues Ribas Júnior, foi comandante do Estado Maior do 1º DIE (Divisão de Infantaria Expedicionária) e se tornou o único amazonense a ser marechal, mas esta é outra história.

“Agora a minha busca é tentar localizar parentes de Sizeno que tenham ficado em Manaus, pois não consegui descobrir se ele foi só, ou com a família, para o Rio de Janeiro, há mais de cem anos. Em Manaus, existe uma foto sua, enquanto interventor, no Palácio Rio Negro, e medalhas que ganhou na guerra, no Museu Tiradentes. Também uma rua, na Cidade Nova, leva seu nome”, concluiu.      

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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