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Teatro amazônico resiste e mostra sua força

Evaldo Ferreira: @evaldo.am

O teatro existe no Brasil desde que o Brasil é Brasil. Os jesuítas que vieram para as novas terras portugueses a fim de catequizar os indígenas, a partir de 1500, se utilizavam de encenações teatrais para melhor serem compreendidos e facilitar a catequização. O teatro saiu das aldeias, ganhou os palcos, mas nunca foi fácil para os apaixonados por essa arte milenar. Até há algumas décadas, atores eram considerados vagabundos e atrizes, prostitutas. Nos últimos anos, porém, o status de atores e atrizes melhorou bastante, mas atuar e trabalhar com teatro continua a ser uma batalha diária, mais ainda em Manaus, longe dos grandes centros como Rio e São Paulo.  

“Vivemos uma situação periclitante, com idas e vindas, há muitos anos. Como, ao longo do tempo, não foram construídas políticas públicas fortes, e nem nós do teatro as fortalecemos, a cadeia produtiva do teatro vem se desgastando”, falou Francis Madson, presidente da Fetam (Federação de Teatro do Amazonas).

“O que seriam essas políticas públicas, os editais, por exemplo, que sempre são sazonais. Nunca há um recurso específico no sentido de a gente saber qual é o valor que vai ser implementado naquele ano pelas secretarias de Cultura do município e do Estado. Isso foi inviabilizando e desprofissionalizando os grupos ao longo de duas décadas, duas décadas e meia, porque, queiramos ou não, a gente precisa do apoio institucional, senão é impossível fazer essa atividade”, completou.

“Não se formou um público de teatro em Manaus, logo, a bilheteria para os espetáculos é muito pequena, não dá para pagar cachês e salários de atores, nem a produção de determinada peça. O apoio institucional é o que tem fomentado a produção e a difusão do teatro baré, e a sobrevivência dos grupos na cidade e no Estado”, disse.

Perdendo força

O teatro manauara teve seu auge a partir de 1968 e pelas décadas de 1970, 80 e 90 com o Tesc (Teatro Experimental do Serviço Social do Comércio) quando esta instituição ‘bancou’ produção atrás de produção e conseguiu reunir atores, profissionais do teatro e público. Desde 2016 o Sesc deixou órfão o teatro local com o fim do Tesc.

Com as novas formas de entretenimento surgidas ano após ano, o teatro foi perdendo força, não só em Manaus, mas também no resto do país. Os números mostram isso. Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que apenas 23% dos municípios brasileiros possuem teatros ou salas de espetáculo, ou seja, dos 5.568 municípios atuais, pouco mais de mil têm estes espaços.   

“Pela Fetam já passaram muitos grupos. Hoje temos por volta de 75 artistas cadastrados, mas já teve muito mais. Não tenho esse número total, agora, em Manaus, porque teria que fazer um levantamento do pessoal que trabalha no Cláudio Santoro, na UEA, e mesmo na Fetam. Esse é um dos problemas. Falta uma plataforma de indicação de quem são, onde estão, e como atuam esses profissionais, prevista pelo Sistema Nacional de Cultura, mas que até agora não foi implementada em Manaus e no Amazonas, por isso a dificuldade em constituir políticas publicas”, revelou.

“Quem tem que construir essas plataformas são as secretarias de Cultura do município e do Estado, para fazer uma busca ativa e mapear quem está atuando, se na cidade, na periferia, ou nas comunidades ribeirinhas, aí sim, teremos um diagnóstico que norteará a criação de políticas públicas para desenvolver esses grupos, que são muito heterogêneos”, acrescentou.

Grupos que ‘correm atrás’

Madson lembrou que quem deseja se tornar ator/atriz, em Manaus, cursa teatro na UEA ou frequenta cursos livres.

“Depois procuram o Sated (Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos e Diversões), que não tem escritório em Manaus, para tirar o registro profissional na DRT (Delegacia, hoje Superintendência Regional do Trabalho). A cidade tem muitos lugares de formação”, adiantou.

O diretor destacou grupos que ‘correm atrás’ e conseguem, com financiamento de editais, inclusive sair do Amazonas, indo se apresentar em outras capitais, seja em turnês ou festivais.

“Cito o Buia Teatro, com sua peça ‘Cabelos arrepiados’, o Soufflé de Bodó, com ‘Alice músculo +2’, e Ateliê 23, com ‘A bela é poc’, que têm se apresentado em outras cidades do país, inclusive Rio e São Paulo”, informou.

“Com a aproximação do 16º Festival de Teatro da Amazônia, que será realizado de 2 a 12 de outubro, em diferentes teatros e espaços culturais de Manaus, é a hora de o manauara prestigiar e conhecer o que o pessoal do teatro anda fazendo. Como disse o filósofo Arthur Schopenhauer: não ir ao teatro é como fazer a toilette sem espelho”, concluiu Francis.

A Fetam (Federação de Teatro do Amazonas) prorrogou, até dia 4 de setembro de 2022, as inscrições para a seleção de espetáculos que irão compor a programação do 16ºFestival de Teatro da Amazônia. Aberta a artistas e grupos de todo o país, a inscrição é gratuita e feita exclusivamente online, com ficha e regulamento disponíveis por meio dos canais oficiais da Federação, no link https://linktr.ee/FETAM.

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Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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