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Portinari nos rios da Amazônia

Em 6 de fevereiro passado completou 61 anos da morte de um dos maiores artistas plásticos que o Brasil já conheceu, o pintor paulista Cândido Portinari, e agora, pela segunda vez, os amazonenses, principalmente os ribeirinhos, das localidades mais distantes, poderão ter acesso às obras do grande mestre através do Projeto Portinari, que já existe há 44 anos. O Projeto tem à frente João Cândido Portinari, o único filho do artista, e seu objetivo não é valorizar o artista, afinal, Portinari, por toda a sua obra, tem seu lugar reservado na história.

“Nosso trabalho é possibilitar que o povo brasileiro tenha acesso pleno à obra de Portinari. O protagonismo das ações educativas é das pessoas”, explicou João Cândido.

Os quadros de Cândido Portinari mostram esse seu olhar atento às pessoas mais humildes, o real povo brasileiro. São negros escravos, negros trabalhadores, negros tocando instrumentos musicais, o samba, ainda considerado um estilo marginal, retirantes nordestinos esqueléticos sofrendo com a seca no sertão. Faltaram os amazônidas, um povo isolado e muito distante da São Paulo onde vivia Portinari.

“Até onde eu saiba, Portinari nunca esteve no Amazonas, por isso é meu sonho levar o Projeto especialmente para a Amazônia pelo fato de a última obra dele, que ficou inacabada, ser de uma índia karajá, o que mostra a importância que ele atribuía a esse tema”, contou.

“Meu pai tinha um amigo piloto e fotógrafo, que ia muito ao Xingu, e trazia diversas fotos para ele, sem falar que lia muito sobre os povos indígenas. Seu quadro mais significativo sobre esse tema mostra um grupo de indígenas assustados vendo caravelas chegando e um menininho, em cor azulada, apavorado, tapando os olhos, como se já imaginasse as coisas terríveis que aconteceriam depois”, disse.

No Amazonas

Desde 1997, dentro do Projeto Portinari, existe o Núcleo de Arte Educação e Inclusão Social, que leva exposições itinerantes e oficinas de arte para comunidades, presídios, ribeirinhos, ou seja, locais com dificuldades de acesso à arte. A tecnologia facilitou a realização das exposições itinerantes através da impressão de réplicas das obras de Portinari em alta qualidade, com isso, montam-se exposições temáticas como ‘O Brasil de Portinari’, ‘Portinari – arte e meio ambiente’, ‘Portinari – o pintor da paz’, entre outras, com obras selecionadas entre as mais de cinco mil que o artista produziu em cerca de 45 anos.

“Uma dessas exposições foi chamada de ‘Portinari nos rios brasileiros’, tendo como alvo as comunidades ribeirinhas. O primeiro momento foi no Pantanal do Mato Grosso do Sul, quando montamos a exposição no convés superior de uma chalana da Polícia Florestal, subindo 1.200 km do rio Paraguai, de Porto Murtinho a Corumbá, parando nos povoados das margens brasileira e paraguaia para receber as crianças e os ribeirinhos”, lembrou.

“No Amazonas estivemos em 2009. Naquele momento, com três navios, a Marinha percorria o rio Amazonas e seus afluentes dando assistência médico-hospitalar, odontológica e de cidadania às populações ribeirinhas. No dia 10 de novembro daquele ano, com apoio do almirante Sávio, embarcamos no Navio de Assistência Hospitalar Doutor Montenegro, percorrendo o rio Purus, durante 19 dias, e parando em várias comunidades, levando a exposição a lugares jamais imaginados por Portinari”, destacou.

Atenção arte-educadores

Agora o Projeto Portinari está trabalhando na organização de uma nova exposição, que pretende chegar a todos os Estados da Amazônia, denominada ‘Portinari e a Amazônia – os povos originários e a floresta’.

“Estamos contactando governos estaduais, universidades e iniciativa privada para conseguirmos apoio e patrocínio”, informou.

E atenção arte-educadores. O Projeto Portinari precisa de vocês.

“Não há necessidade de haver formação formal para que alguém possa trabalhar no Projeto. Precisa, apenas, ter afinidade com os valores portinarianos como a promoção de uma cultura de paz, a luta contra qualquer forma de preconceito, racismo, misoginia e capacitismo. Para aqueles que terminarem a formação online, será franqueada a possibilidade de inscrição em um programa de estágio presencial no Projeto e, a partir daí, será possível atuar conosco plenamente nas próximas exposições itinerantes”, avisou.

Há décadas João Portinari é o guardião do acervo do pai famoso, mais de cinco mil obras (pequenos esboços, telas padrões a murais imensos) e cerca de 30 mil documentos, inclusive escritos de sua infância. Seu trabalho tem sido colocar esse acervo a serviço do povo brasileiro.     

“Queremos levar esse material não só para as localidades distantes, mas principalmente mostrá-lo para as novas gerações, para que se apossem de sua identidade mais profunda, mais verdadeira, porque foi isso que Portinari retratou toda a sua vida, a alma do povo brasileiro”, concluiu.

Informações: www.portinari.org.br  

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Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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