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O fotógrafo e o poeta

Começa hoje (5), e segue até o domingo (8) a 38ª edição da Feira de Livros do Sesc. O evento será realizado no Centro de Convenções Vasco Vasques, das 8h às 22h. No domingo encerra às 18h. A entrada é livre.

A Feira reunirá leitores, autores, editoras e livrarias e contará com exposições, atrações musicais e teatrais, painéis temáticos, palestras e mesas redondas e lançamentos de livros. Também terá o Cuca Sesc Festival, voltado para os amantes da cultura pop.

Este ano, o evento vai homenagear um dos grandes nomes da poesia amazonense, o acreano Jorge Tufic Alaúzo. Tufic nasceu em 1930, na cidade de Sena Madureira onde passou boa parte de sua juventude antes de vir para Manaus. Sua família era libanesa e chegou ao Brasil durante o período áureo do comércio da borracha. Na capital amazonense, Tufic continuou seus estudos e atuou como jornalista nas décadas de 1940 e 1950. Entrou para a história da literatura amazonense ao se tornar um dos fundadores do Clube da Madrugada, em 1954. Junto com amigos, seu ponto de encontro era a praça Heliodoro Balbi (da Polícia), onde ficavam até a madrugada debatendo sobre os mais diversos assuntos numa bucólica Manaus.     

Em 1956, Jorge Tufic lançou seu primeiro livro, ‘Varanda de pássaros’, e até o fim de sua vida publicou mais de 30 títulos, se firmando como um dos maiores poetas da literatura amazonense. Foi membro da Academia Amazonense de Letras, ocupando a cadeira nº18, atuou no Conselho Estadual de Cultura e idealizou a Fundação de Cultura do Amazonas, que originou a Secretaria Estadual de Cultura. Um grande marco na carreira de Jorge Tufic foi ter escrito a letra do Hino do Amazonas, com música de Cláudio Santoro. O hino foi oficialmente instituído em setembro de 1980.

O poeta acreano/amazonense morreu em 14 de fevereiro de 2018, em Fortaleza, onde residia fazia alguns anos.

Menassa tem uma relação de amor com Manaus e a Amazônia há quase 40 anos

Menassa e Tufic  

A terra dos ancestrais de Jorge Tufic, o Líbano, aquele cuja bandeira tem uma árvore de cedro, é habitada por árabes descendentes dos fenícios. Tufic nunca pôde conhecer o país de onde vieram seus parentes, muito embora um libanês, o fotógrafo Jacques Menassa, um apaixonado pela Amazônia, que morou em Manaus, tivesse tentado algumas vezes levá-lo até lá. Mas o destino não quis.

Nascido na cidade de Ghosta, Menassa tem uma relação de amor com Manaus e a Amazônia há quase 40 anos.

“Tenho familiares, em Manaus, descendentes de um tio paterno que foi morar aí em 1926. O pai desse tio já estava em Manaus desde 1885, mas voltou para o Líbano em 1903”, revelou Menassa numa entrevista ao JC, em 2021.

Em 1984, por causa da guerra em seu país, o fotógrafo veio para Manaus onde ficou até o ano seguinte quando retornou ao Líbano. Em 1989 voltou à capital amazonense e aqui ficou até 1998. Nesse tempo realizou inúmeras exposições. 

Nos dez anos em que morou na capital amazonense, Menassa viajou por inúmeras cidades do interior do Amazonas e do Pará, também no Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais.        

Depois que a guerra do Líbano acabou, em 1990, e o país se normalizou, Menassa resolveu morar em definitivo em sua terra, mas sempre vem a Manaus.

Sabendo da homenagem que Jorge Tufic irá receber durante a Feira do Sesc, o libanês escreveu um texto revelando como foi sua amizade com o poeta.

Soneto de Tufic sobre seu passado com o Líbano. Ao fundo, as ruínas de Baalbeck

Tufic e o Líbano

“Em 1984/1985, durante minha primeira visita a Manaus e ao Brasil, comecei a coletar informações sobre os libaneses da cidade e da Amazônia e fiquei surpreso e feliz ao saber que quem escrevera a letra do Hino do Amazonas era alguém de origem libanesa. Naquela época eu não conheci Jorge Tufic pessoalmente, então voltei ao Líbano.

Durante minha segunda estadia em Manaus, de 1989 a 1998, continuei pesquisando sobre os libaneses daí. Fiz várias entrevistas com eles e coletei muitos documentos e fotos, mas nessa época Jorge Tufic havia se mudado para Fortaleza e visitava muito pouco Manaus. Durante esse tempo entrei em contato com ele por telefone até conhecê-lo no lançamento do livro ‘A colônia árabe no Amazonas’, de Gaitano Antonaccio, em 1996.

Em 1998 voltei ao Líbano e comecei a escrever uma série de textos sobre a Amazônia, Manaus e a presença libanesa aí, muitos dos quais foram publicados no jornal Annahar, um dos principais jornais do Líbano e dos países árabes.

Em 2008 o jornal publicou uma grande matéria sobre Jorge Tufic com fotos e documentos contando sua trajetória, além de um soneto seu sobre o Líbano.

Para fazer a matéria tivemos contatos telefônicos e trocamos e-mails e ele sempre manifestou sua vontade de conhecer o país de sua família. Quando o convidei para vir, por causa da idade, ele disse que precisava de companhia. Falei com nosso amigo em comum Assaad Zaidan, também poeta e escritor libanês-brasileiro, que visita o Líbano todos os anos, para realizar seu desejo, porém, quando Zaidan contactou com Tufic, ele já estava doente e não pôde vir”.

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Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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