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Novo jornalismo pede novas habilidades

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Com o avanço das mídias eletrônicas e das redes sociais, as redações atuais ganharam mais dinamismo e junto a isso, a necessidade do uso de novas ferramentas fazendo com que o profissional de comunicação imergisse no ‘mais novo jornalismo’, um ambiente em constante mutação. Ser esse profissional multiplataforma acaba sendo o diferencial na hora de contratar ou de ter seu conteúdo espalhado nas diversas mídias. Ainda assim, “o saber de tudo um pouco” pode caminhar ao lado de especializações e essa divergência de pensamentos não esconde uma verdade: o futuro é a convergência.

Vinda de uma geração de jornalistas que podia escolher uma área e se especializar nela para atuar, a jornalista Tânia Brandão afirma que os constantes desafios e mutações da profissão, pedem do estudante ou profissional de comunicação uma maior abrangência de conhecimentos, porém avisa “Não há receitas, há buscas e a constituição de iniciativas que têm mostrado que o bom jornalismo tem uma vida longa”.

“Hoje com a convergência se algum estudante focar nessa postura de ser monotemático, está perdido, não sobreviverá. E penso que sobreviver é bem o tom da atuação do jornalista. Assim como outras profissões, nós que lidamos com produção de conteúdo informativo precisamos ter uma perspectiva, uma leitura de como as pessoas se informam para oferecermos produtos de qualidade, diferenciados”, disse Tânia.

De uma outra geração, Cíntia Valadares, que acumula experiência em TV (merchandising, campanha eleitoral e noticiários), rádio e impresso, confirma que ser jornalista nesse período de grandes avanços tecnológicos tem se tornado uma missão cada vez mais árdua.

“Hoje não atuo no rádio, preciso apenas de áudios para as minhas matérias, no entanto, isso não é o suficiente, vivemos em uma época que tudo precisa ser visto, curtido e compartilhado, com isso, além de ir às ruas buscar esses áudios, acabamos fazendo fotos, transmissões ao vivo do local convidando o ouvinte a acompanhar aquela matéria no jornal. Então tudo converge, um meio complementa o outro”, comenta a jornalista que ainda assessora o Esporte Clube Iranduba da Amazônia.

Defendendo especializações e de olho nos novos tempos, está o jornalista e analista de comunicação no WWF-Brasil Jorge Eduardo Dantas, analista de comunicação no WWF-Brasil para quem “O novo jornalismo pede muitas habilidades do profissional, o domínio de ferramentas como áudio, vídeo e internet. Ao mesmo tempo, especializações em determinados temas também são requisitos, já que novos formatos foram criados”, ressalta.

Questionado se é válido investir nas especializações e ao mesmo tempo buscar o uso de multiplataformas, Dantas sintetiza: “Sim. Um dos grandes princípios da profissão, que é contar boas histórias, permanece, e o modo como você faz isso depende das afinidades que você tem com as diferentes linguagens. Então saber escrever bem ainda é uma habilidade útil: mas se você souber manejar a linguagem radiofônica e audiovisual, por exemplo, e conseguir contar boas histórias por meio delas, isso com certeza é um diferencial e facilita a entrada e permanência do profissional no mercado de trabalho”.

Cíntia não descarta o aprofundamento em temas que lhe sejam mais afins e completa dizendo que há por aí mais do que o encontrado no ambiente acadêmico. “Essa especialização busco por meio de cursos online, presenciais, palestras, rodas de conversas, além da curiosidade, procuro sempre me cercar de pessoas que tenham mais experiência no campo das mídias sociais”, comentou.

Novos tempos e competências

O jornalismo meramente informativo está perdendo espaço para análises, leituras históricas sobre os temas, diz Tânia. “A questão não é mais falar sobre quantos homicídios ocorreram em Manaus no fim de semana, mas fazer uma leitura sobre todo o sistema de segurança, cruzando temas que aparentemente nada tem a ver com isso. Esses cruzamentos são fundamentais para que possamos formar opinião. É um trabalho de fôlego”, afirma.

“Quanto a formação do jornalista o desafio é desenvolver competências que integrem conhecimento técnico e bom repertório cultural. Outro dia, um amigo me solicitou um jornalista com um perfil bem específico: tinha que ter bom texto, domínio mediano da língua inglesa, editar vídeos, fazer roteiro e elaborar pautas. Esse tipo de profissional que ele está buscando é o que fazemos um esforço para formar nas faculdades”, diz a professora.

Mesmo reconhecendo suas duas paixões -o rádio e o jornalismo esportivo, Cíntia Valadares afirma que a convergência é o futuro do jornalismo. “Hoje em dia quem não se adequar a essa realidade acaba perdendo lugar no mercado de trabalho. Quer um exemplo? na faculdade de jornalismo a grade curricular era produzida para que fôssemos empregados de veículos tradicionais. Se você pegar a grade de um curso mais atual de jornalismo, perceberá a diferença, pois ele te prepara pra ser empreendedor, para essas novas possibilidades do mercado, e quem não se inteirar disso, vai ficar de fora”, opina.

“Não acho que necessariamente você precise produzir o tempo inteiro para diferentes plataformas -mas ter noções de roteiro, entender de fotografia, saber a importância de uma boa locução e dicção são sim coisas úteis e que ajudam no dia a dia do profissional de jornalismo”, opinou Jorge Eduardo Dantas.

Descobrindo paixões e habilidades

De acordo com Tânia o profissional e o aluno de comunicação deve ter a iniciativa de descobrir no que é bom, no que faz bem e a partir disso, começar a investir na formação. “Vejo com muita alegria o exemplo da Amazônia Real (amazoniareal.com.br), uma agência de notícias formada pela Kátia Brasil e Elaíze Farias. As duas eram empregadas em jornais de grande circulação que as demitiram por redução do quadro, mas veja só que barato: as duas têm fontes, conhecimentos e são jornalistas com um repertório cultural, uma leitura sobre a Amazônia que vai muito além daquele clichê do exótico, do pulmão do mundo que alguns meios teimam em reforçar. E elas criaram esta agência com matérias bem apuradas, bem escritas. Esse pra mim, é o exemplo que deve ser seguido”, recomenda.

Foi em campo, literalmente, que Cíntia descobriu uma nova habilidade. “Fiquei três meses transmitindo os jogos do Campeonato Amazonense, do Brasileiro série D e Copa Verde, trabalhei fazendo transmissão dos jogos de dentro do campo e depois fui convidada a ser assessora do Esporte Clube Iranduba da Amazônia”, comemora.

“Hoje como assessora o trabalho é ainda maior, porque tenho que atender a todos os veículos. Pensando em todos os meios por onde passei, produzo meus materiais, mas procuro sempre mandar áudios, fotos e vídeos. Durante os jogos atualizo as redes sociais, faço fotos e até vídeos se for o caso. Então é ‘câmera na mão, celular no bolso e muito trabalho'”, encerra a profissional multimídia.

O jornalismo está mesmo em mutação?

Para o analista de comunicação no WWF-Brasil, o melhor do jornalismo “antigo” será mantido. “O cenário em que o jornalismo nasceu e cresceu, como as grandes redações de jornal e emissoras de tevê movidas a dinheiro de publicidade, estão mudando e estamos caminhando para outros modelos de negócio. Mas o cerne da profissão -a capacidade de selecionar, fazer curadoria, editar e fazer um recorte do que é mais importante para a sua audiência -permanece e os bons profissionais ainda são aqueles que mantêm essa habilidade, mesmo com as mudanças tecnológicas e de ferramentas que vemos em nosso mercado”, concluiu Dantas.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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