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Manaus tenta recuperar nascentes

Manaus já foi referência de preservação do verde. Rios, lagos, igarapés e outras nascentes tiveram o seu auge em anos passados, atraindo grande público para recreação e lazer. Com águas tão límpidas e salubres, esses points ainda fazem parte do inconsciente coletivo da população de maior faixa etária. Mas, tudo ficou no passado.

Agora, as autoridades públicas se empenham em recuperar o que foi um Eldorado da biodiversidade, que cortava a capital amazonense nos últimos 50 anos. Igarapé do Mindu, Igarapé do Quarenta, balneário do Parque 10, balneário do Tarulmã, e balneário da Ponte da Bolívia, estão entre outras grandes atrações da natureza que deram lugar a uma expansão desordenada, que contaminou o leito dos rios.

Em vez do brilho de outras épocas, quando os recursos naturais vicejavam, o que se observa hoje é um amontoado de entulhos. Sem ter por onde escoar, águas paradas deterioram, contaminadas pelos lixos descartados, causando uma má impressão para quem visita a capital do modelo ZFM.

“Triste ver tanta degradação. Vemos a tecnologia avançada das indústrias do Amazonas contrastando com a miséria que emerge dos igarapés. Não há nenhum cuidado com o ambiente. As nascentes estão contaminadas. E exalam um odor que incomoda quem passa por suas proximidades”, lamentou o biólogo e mestrando em Biologia Molecular, Amindo Pereira.

Para o acadêmico, não adianta estar mergulhado em inovação tecnológica de ponta, se a cidade demonstra não ter o menor cuidado com o ambiente que a rodeia. “Hoje, vivemos uma outra realidade ambiental, que mobiliza lideranças nacionais e estrangeiras. Não dá mais para conviver com situações tão precárias”, desabafou.

Pressionada por órgãos ambientais e pela própria população, a Prefeitura de Manaus tem realizado mutirão de limpezas em áreas centrais e periféricas da cidade. Exércitos de trabalhadores percorrem os bairros de Educandos (zona Sul) e São Raimundo (zona Oeste), entre outros, em ações de conscientização, além de medidas para a descontaminação de rios e igarapés.

Diariamente, são retiradas toneladas de entulhos de córregos na cidade. Porém, o vício de jogar lixo nas águas é recorrente. “É como enxugar gelo”, diz a dona de casa Amada Leda. Ela é moradora de uma área no Prosamim, programa ambiental do governo do Amazonas para revitalização de áreas alagadas, que visa dar mais dignidade à população, em termos de moradias e benefícios sociais.

Bolsões de miséria

Os problemas ambientais que os cidadãos de Manaus veem hoje resultam da expansão desordenada da cidade, inclusive com invasões. A capital cresceu em todos os ângulos, empurrando a população para áreas verdes onde os recursos naturais eram preservados, até então.

Com o advento da Zona Franca de Manaus, houve um êxodo do interior para a capital, que também atraiu migrantes de outras regiões brasileiras, notadamente o Nordeste. A ilusão formada em torno de um suposto Eldorado inchou a cidade, gerando grandes bolsões de miséria, agravando a situação social.

Mas, nem todos os migrantes tiveram a sorte de conseguir um trabalho nas fábricas que se instalavam no parque industrial de Manaus. “Muitos vieram na esperança de desfrutar dias melhores, mas acabaram sobrevivendo do subemprego, habitando moradias que não proporcionavam a menor salubridade”, avalia o sociólogo e professor universitário, Benício Maia. “Basta ver as favelas, que são um retrato dessa desigualdade social”, completou.

“Área vermelha”

Hoje, o Parque do Mindu resiste às invasões de banhistas clandestinos que poluem as águas limpas das nascentes, pondo em risco o igarapé. Ele corta mais de dez bairros da capital, segundo a prefeitura. O local é símbolo de preservação da selva urbana existente na cidade.

Próximo ao Musa (Museu da Amazônia), o Parque Nascentes do Mindu se encontra na rua Andorinha, no bairro Cidade de Deus, zona Leste. O espaço possui uma área de reserva florestal de aproximadamente 22 quilômetros de extensão.

“Nossa principal função é monitorar a nascente que está com vida. Aqui, temos diversas espécies de animais, como pássaros que habitam no parque. Desenvolvemos atividades com a comunidade”, informou o gestor do local, Mazinho da Carbrais.

Segundo a fonte, um dos maiores desafios é a violência que prolifera na região do Mindu. Facções espalham o terror. A guerra entre criminosos deixa um rastro de sangue, afugentando a população que busca sossego e lazer na área.

“Na realidade, o Mindu é uma área vermelha. Mas, lutamos para manter a nascente do parque, que é a mais preciosa que temos. Às vezes, tem pessoas que entram, que invadem para tentar tomar banho dentro da nascente e a gente está ali, monitorando, cuidando e preservando. Todas essas estratégias são para poder preservar o que ainda está vivo. Ainda é possível dizer isso”, avaliou.

Qualidade monitorada

Uma ação coordenada avalia constantemente a qualidade da água do Mindu, que hoje é totalmente limpa, garante a prefeitura. O trabalho é feito em parceria com os pesquisadores do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia) e os profissionais da Semmas (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade).

Os dois órgãos púbicos monitoram frequentemente o local. “Os técnicos vêm, fazem a coleta da água e levam para os laboratórios para fazer exames e analisar como está a qualidade da água. De três em três meses, é feito esse exame aqui, na nascente do Igarapé do Mindu”, contou Mazinho da Carbrais.

Também há projetos de arborização. A reserva florestal é monitorada para evitar novas invasões. Apesar de estar rodeada por uma vegetação verde e abundante, Manaus é uma das cidades do Brasil que menos planta árvores em áreas urbanas, segundo especialistas, impactando em mudanças climáticas, que acabam provocando desastres naturais.

Marcelo Peres

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