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Madeira de lei amazônica, matamatá mostra utilidade

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Dados publicados em 2013 pelo Centro de Biodiversidade Naturalis, segundo pesquisa realizada por Hans ter Steege, estimam que a Amazônia possua 16 mil espécies de árvores, mas apenas 227 destas são tão abundantes que representam 50% de todas as demais espécies. Das 16 mil espécies, pouco mais de 50 são exploradas comercialmente, de acordo com pesquisas do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia).

Foi de olho nas milhares de espécies não exploradas comercialmente que a engenheira florestal Daniele Feitosa Fróes começou a estudar a primeira de uma série de outras espécies, o matamatá. Ela pesquisa duas variedades da árvore, a Eschweilera coriácea e a Eschweilera truncata.

“A minha linha de pesquisa é a tecnologia da madeira, ou seja, saber como utilizá-la. Precisamos conhecer detalhadamente a madeira para saber de que forma ela pode ser útil, desde a sua densidade e retratibilidade, passando pela parte mecânica, química e, por último, da usinagem, que é a confecção da modelagem dos produtos”, informou.

“Sei que a Mil Madeiras, em Itacoatiara, explora cerca de 50 espécies e realiza pesquisas para descobrir outras que podem ser exploradas”, disse.   

A Mil Madeiras está em Itacoatiara desde 1994 atuando no Manejo de Impacto Reduzido e no comércio de madeira em toras e serradas, oriunda de seu próprio manejo florestal sustentável.

Uma madeira muito bonita

As pesquisas de Daniele mostraram que as duas variedades do matamatá são abundantes na Amazônia, amplamente distribuídas na floresta e com características importantes para o manejo florestal, porém não são exploradas devido à escassez de estudos sobre sua caracterização tecnológica e potencial.

“Um dos erros que as serrarias cometem, por exemplo, é não deixar a madeira secar. Por isso entortam e até trincam. Uma madeira úmida não deve ser colocada junto com outra, seca, pois pode passar a umidade para esta outra. Existem madeiras que suportam o sol, outras a água, assim como existem as que não suportam o sol ou a água”, explicou.

“O matamatá, apesar de seu potencial de utilização, não é explorado, ao menos no Amazonas. Descobri que faziam postes com seu tronco, mas isso no interior, o que é uma pena porque é uma madeira muito bonita”, lamentou.

“Outro motivo dessa não exploração, acredito, seja pelo fato de dificilmente os troncos das duas variedades ultrapassarem os 50cm de diâmetro o que, pela lei, seria proibida a sua derrubada”, falou.

Atualmente, o manejo florestal é regulamentado pela Instrução Normativa (IN 05) de 11/12/2006, a qual não leva em consideração as variações no crescimento das espécies, mas define o DMC (Diâmetro Mínimo de Corte) para qualquer espécie em 50cm.

“Mas, desde que sejam realizados estudos prévios mostrando que a espécie tem grande quantidade de indivíduos na natureza, a exploração pode ser feita. Esse é um dos objetivos da minha pesquisa. A partir de quando as madeireiras conhecerem melhor o matamatá, passarão a explorá-lo tirando a pressão de outras espécies que estão na lista de protegidas do Ibama”, completou.

“Durante o estudo, o matamatá apresentou excelente desempenho na avaliação de usinagem (utilização da peça de madeira), tendo recebido conceito excelente para os testes de plaina, lixa, perfuração por broca, moldura no topo e torno; bom para o teste de rasgo lateral por broca e; ruim para o teste de perfuração por prego”, disse.

Matamatá foi aprovado nos testes

“O fato de ter tido a avaliação ruim para o teste de perfuração de prego é excelente, pois mostra que é uma madeira dura, de alta densidade, ou seja, é uma madeira de lei. As madeiras de lei demoram mais para apodrecer”, ensinou.

Após o estudo e avaliação das madeiras, foram desenvolvidos produtos com peças utilizadas nos processos de usinagem como móveis, artigos de decoração, armação para óculos e escala para instrumento musical.

 “Concluiu-se que a madeira do matamatá está apta para ser empregada na confecção de produtos de alto valor agregado, podendo ser considerada como alternativa para subsidiar o mercado madeireiro, uma vez que apresenta características similares às espécies comercializadas e também por ser espécie de grande ocorrência em toda a Amazônia”, ressaltou.

Os produtos foram desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar composta por engenheiro florestal, designer, luthier e arquiteto, com o intuito de projetar peças que possam ser replicadas pela indústria.

O projeto de Daniele recebeu apoio da Fapeam (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas), por meio do Posgrad (Programa Institucional de Apoio à Pós-Graduação Stricto Sensu), na Ufam, e teve como orientadora a professora Claudete Catanhede do Nascimento, do Inpa, além do apoio do INCT (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Madeiras da Amazônia).

“Aguardamos o apoio financeiro de outras instituições científicas para que continuemos nossas pesquisas sobre outras espécies de árvores, a fim de que, ao conhecê-las, passemos a explorá-las de forma sustentável”, finalizou.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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