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 Interior segue gerando empregos no Amazonas

Reportagem: Marco Dassori

Twitter: @marco.dassori

O interior do Amazonas registrou seu sétimo mês seguido de saldo positivo de empregos formais, em agosto. As contratações (+1.922) voltaram a superar as demissões (-1.435), gerando acréscimo de 487 postos de trabalho com carteira assinada e alta de 1,20% sobre o estoque anterior (40.608). Foi um resultado abaixo do atingido em julho de 2022 (+569), mas superior ao de 12 meses atrás (+384). Com isso, os municípios também conseguiram ampliar o quadro de trabalhadores formais no acumulado do ano (+3.625) e dos últimos 12 meses (+3.870). Os dados são do Novo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).

Em um mês fraco em termos gerais, a geração de empregos com carteira assinada no interior foi sustentada principalmente pela agropecuária e pela retomada das contratações em Presidente Figueiredo. O movimento inverteu a tendência dos últimos meses, e ocorreu em sintonia com a redução das incertezas em torno da crise do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), após a revisão mais recente no decreto do governo federal. Indústria, comércio e serviços seguiram no azul e a uma certa distância. Mas, a construção eliminou empregos, apesar das obras públicas realizadas na reta final das eleições. 

A quantidade de municípios com saldos positivos caiu. Em agosto, 27 dos 61 do interior do Amazonas tiveram mais admissões do que desligamentos, em performance abaixo da alcançada em julho (+36). Ao menos dez pontuaram estabilidade e os 24 restantes extinguiram empregos. Mas, o volume de vagas geradas na maioria das cidades foi novamente irrisório. Em termos absolutos, a maior parte da oferta veio de Presidente Figueiredo (+247 e +7,76%). Humaitá (+70 e +2,61%), Coari (+66 e +3,46%) e Iranduba (+33 e +1,25%) também se destacaram. O maior tombo veio de Nova Olinda do Norte (-12 e -3,41%).

Em oito meses, 48 prefeituras comemoraram geração de empregos, dois ficaram na mesma e 11 amargaram destruição de empregos. Parintins (+389 e +14,21%), Humaitá (+388 e +16,39%), Iranduba (+314 e +13,35%) e Itacoatiara (+290 e +4,51%) encabeçaram a lista. Eirunepé (-15 e -6,20%) liderou os cortes. Em 12 meses, o rol de municípios com empregabilidade no azul sobe para 51. Somente três estancaram e os outros sete fecharam no vermelho. Iranduba (+450 e +20,31%) e Codajás (-17 e -10,83%) ficaram nos extremos.

Estoques e atividades

Os números de agosto confirmaram ainda que a oferta de trabalho formal no interior segue concentrada. A soma dos estoques de empregos –que é a quantidade total de vínculos celetistas ativos –dos sete municípios mais populosos do interior respondeu por mais da metade de todo o volume de vagas contabilizadas fora da capital (41.095). A lista inclui Itacoatiara (6.713), Presidente Figueiredo (3.423), Parintins (3.145), Manacapuru (3.139), Tabatinga (2.879), Humaitá (2.704) e Iranduba (2.700).

Assim como no mês anterior, nem todos os setores econômicos conseguiram saldos positivos, na passagem de julho para agosto de 2022. Mas, desta vez, as contratações nos municípios do interior foram carreadas pela agropecuária (+276). O motor das contratações em Presidente Figueiredo, por exemplo, foi a produção de lavouras temporárias de cana-de-açúcar (+287). A indústria (+154) também alavancou o interior e ajudou a dar lastro aos saldos de Humaitá (+72) e Iranduba (+54). Comércio (+74) e serviços (+61) ficaram em segundo plano, enquanto o dado negativo veio novamente da construção (-71). 

De janeiro a agosto, a agropecuária (-8) ainda é a única atividade econômica a eliminar empregos no interior. Comércio (+1.094) e serviços (+1.079) puxaram as contratações com folga, como ocorrido em Parintins, onde o varejo (+71) e a saúde humana e serviços sociais foram (+140) destaque. A indústria (+810) veio logo em seguida e alavancou o mercado de trabalho de Iranduba –especialmente nos segmentos de equipamentos de transporte (+125), produtos alimentícios (+117) e minerais não metálicos (+30). A construção (+290) foi o setor que menos empregou, mas ajudou a gerar empregos em Itacoatiara –em construção de edifícios (+60) e serviços especializados (+28).

“Dentro da curva”

Para a consultora empresarial, professora e integrante da seção regional da Abed (Associação Brasileira de Economistas pela Democracia) no Amazonas, Denise Kassama, a boa notícia é que a geração de empregos foi disseminada em muitos municípios, e atingiu “variações significantes”. A economista ressalva, no entanto, que os saldos continuam acanhados e abaixo do crescimento vegetativo do mercado de trabalho das localidades em questão, em razão da falta de projetos econômicos estruturantes fora da capital amazonense. 

“Em termos absolutos, o crescimento foi pequeno. Presidente Figueiredo tem uma população de 37 mil pessoas, então 267 empregos gerados não são algo fora da normalidade. Já a atividade industrial é muito baixa no interior. Esse é o grande desafio para os futuros governantes: na maioria dos municípios, a atividade econômica é muito pequena e o maior empregador é a prefeitura. Nesse cenário, as atividades que se desenvolvem são aquelas que dão sustentação a ela, como comércio e serviços”, lamentou.

Na análise de Denise Kassama, os números configuram uma “flutuação normal”, e “dentro da curva”, embora os resultados possam ter sido comprometidos –paradoxalmente –pelas políticas anticíclicas de estímulo ao consumo. “As desonerações tributárias, promovidas direta e indiretamente pelo governo federal, como a do ICMS sobre combustíveis, reduziram os repasses às prefeituras. Mas, a tendência de curto prazo, de uma forma geral, ainda é que aumente o número de vagas, em função da proximidade das vendas natalinas”, ponderou.

Auxílio e concentrados

Já o ex-presidente do Corecon-AM (Conselho Regional de Economia do Estado do Amazonas), e também consultor empresarial, professor universitário e Francisco de Assis Mourão Júnior, destaca que o aumento na quantidade de empregos vem ao encontro da difusão de um Auxílio Brasil já reforçado pelo governo federal, e também da amplitude do auxílio estadual, já que ambos alcançam número significativo de famílias do interior. “Pela teoria econômica, a renda gera consumo e produção. O lado positivo é que esses complementos de renda geram consumo e empregos”, frisou. 

No entendimento do economista, o crescimento da agropecuária assinalado nos dados do Novo Caged confirma a importância do polo de concentrados como indutor de empregos nos municípios, apesar deste supostamente estar “na mira da Receita Federal e do Ministério da Economia”. “Esse resultado se deve também ao dinamismo da atividade no Sul do Estado. Se ela gera mão de obra, há necessidade de ajuda do governo. Os auxílios geram consumo, mas o crescimento do setor primário sustenta a geração de empregos”, concluiu. 

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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