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Hopkins: “acho que só descobrimos 50% das plantas na Amazônia”

O Programa de Apoio a Organização, Restauração, Preservação e Divulgação das Coleções Biológicas e de Museus do Estado do Amazonas – Coleções Biológicas/Museus, via Fapeam (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas), tem apoiado diversos projetos de pesquisas. ‘Apoio Herbário Inpa’ é uma das propostas contempladas através de edital do Programa, cujo objetivo é atualizar bancos de dados, ampliar acervos e implantar novos métodos de preservação das coleções biológicas em museus do Estado, além de dar suporte à organização, informatização, gestão e divulgação de acervos biológicos institucionais, considerados estratégicos para o Amazonas. O apoio é bem-vindo, mas ainda é necessário muito mais, segundo falou ao Jornal do Commercio o coordenador do ‘Apoio Herbário Inpa’, o biólogo Michael John Gilbert Hopkins. 

Jornal do Commercio: É verdade que o herbário, hoje sob sua curadoria, surgiu com a criação do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), em 1954?

A Fapeam está apoiando algumas atividades, incluindo contratação de bolsistas

Michael Hopkins: Sim, os dois surgiram, na prática, no mesmo dia, em 1954, mas o Inpa havia sido criado, por decreto, uns anos antes. O Dr. William Rodrigues, o primeiro curador do herbário foi, por um tempo, o único pesquisador com doutorado no Inpa. Era engenheiro florestal, e não botânico, mas aprendeu, e ensinou, a como coletar plantas e manuseá-las num herbário.

JC: Nesses 68 anos se formou um acervo com mais de 290 mil plantas e fungos, um dos maiores do país.

MH: Esse número de 25 mil foi uma estimativa de todas as espécies no herbário, que temos coletadas do restante do Brasil e de outros países, porém, fiz uma análise e descobri que temos 290.925 coletas de plantas (e fungos) registradas no herbário, com 22.964 espécies distintas das quais 16.245 ocorrem na Amazônia brasileira. É a quinta maior coleção de plantas no Brasil, e o maior acervo da Amazônia brasileira.

“Fiz uma análise e descobri que temos 290.925 coletas de plantas (e fungos) registradas no herbário”

Michael Hopkins- Biólogo

JC: Onde foram realizadas as primeiras coletas e atualmente onde são realizadas? Quem foram os primeiros pesquisadores do herbário?

MH: As primeiras coletas ocorreram em Manaus, ou em regiões próximas, como a estrada para Itacoatiara e rios. Os primeiros pesquisadores foram William Rodrigues e Jaccoud. Na época, o herbário teve vários técnicos botânicos participando das coletas, como Joachim Chagas de Oliveira, os irmãos Dionísio e Luís Coelho, entre outros.  Muito importante no crescimento do herbário foi a chegada do botânico britânico Iain Prance, em 1964, vindo do Jardim Botânico de Novo Iorque. Iain organizou dezenas de expedições botânicas em toda Amazônia, especialmente através do projeto Flora Amazônica. A maioria das coletas ainda é feita perto de Manaus, e o interior do Estado é bem pouco conhecido botanicamente. Continuam muito difíceis financiamentos para grandes expedições de coleta.

JC: Qual a importância de se manter esse herbário?

MH: O herbário é fundamental para qualquer estudo ou planejamento para a Amazônia brasileira. Como uma biblioteca, é a raiz de toda nossa informação sobre a flora da região. Serve como base para cientistas catalogarem e descreverem a flora, além de os cientistas que pesquisam plantas poderem depositar o resultado de seus trabalhos, e onde podem encontrar identificações com confiança. É a fonte principal para botânicos que trabalham com a classificação e descrição de plantas (taxonomistas). Também conseguem muitas informações sobre a distribuição das espécies, em quais ambientes ocorrem, entre outras. 

JC: Tem ideia de quantas espécies de plantas ainda podem ser desconhecidas na Amazônia? Quais as descobertas mais recentes?

MH: É um assunto controverso. Estimativas recém-publicadas, somente para as árvores, sugerem um total de 16 mil espécies com aproximadamente quatro a seis mil ainda não descritas. Pessoalmente acredito que existam muito mais espécies desconhecidas do que isso. Acho que, até agora, só descobrimos 50% das plantas da região. Novas espécies estão sendo descobertas o tempo todo. Algumas recentemente descritas por alunos do Inpa são a Chromolucuma brevipedicellata; Tovomita cornuta; Annulohypoxylon duckei (fungo); Catasetum sophiae; Coccoloba gigantifolia; e Mauritiella disticha.

Hopkins: “como a biblioteca, herbário é a raiz de toda nossa informação sobre a flora da região”

JC: De que forma esse apoio da Fapeam será importante para os trabalhos no herbário do Inpa?

MH: Todo apoio é muito importante. A Fapeam está apoiando algumas atividades, incluindo contratação de bolsistas, novas coletas, visitas de especialistas, distribuição de duplicatas e colocação de códigos de barras. Esta última, então, vai melhorar muito a eficiência de nosso trabalho. Também adquirimos novos armários e equipamento óptico. Sempre precisaremos de mais apoio porque o número de plantas no acervo não para de aumentar, gerando mais trabalho, enquanto o número de funcionários, no Inpa, tem reduzido bastante nos últimos anos.

JC: Qualquer pessoa pode fazer pesquisas no herbário, presencial ou virtualmente?MH: O herbário é aberto para visitas de pesquisadores, estudantes de plantas, visitantes comuns e alunos de escolas do ensino fundamental e médio. É preciso fazer agendamento. Virtualmente o herbário pode ser visitado através do: https://specieslink.net/

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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