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Documentário conta o legado de Eunice Michiles

Eunice Mafalda Berger Michiles é paulista, mas, em 1979, se tornou a primeira senadora do Brasil, e representando o Amazonas. Aos 92 anos, atualmente ela vive em Brasília, afastada da vida pública desde 1991 quando terminou seu mandato como deputada federal.

É sobre a vida pública dessa mulher, que entrou para a história política do país, que a jornalista Maria Luiza Dacio, a Malu, acaba de finalizar o documentário ‘Depois da princesa’.

“O título do documentário é ‘Depois da princesa’ porque, na realidade, Eunice Michiles foi a primeira senadora do Brasil depois da princesa Isabel. O Senado brasileiro foi criado em 6 de maio de 1826, com senadores vitalícios. Até 1889, com o fim da monarquia, os príncipes da Casa Imperial tinham direito a assento no Senado, tão logo completassem 25 anos. Por esse critério, a princesa Isabel foi a primeira senadora do Brasil”, esclareceu Maria Luiza.

“Depois da princesa’ porque, na realidade, Eunice Michiles foi a primeira senadora do Brasil depois da princesa Isabel”

Maria Luiza – jornalista

Malu lembrou que a ideia do documentário surgiu a partir do seu TCC no curso de jornalismo. Ela queria contar a história das mulheres amazonenses que ocuparam cargos políticos e se interessou por Eunice pelo fato de a paulista ter se tornado senadora, em 1979, um cargo não ocupado por mulheres desde o distante 1889.

Eunice Michiles foi deputada estadual entre 1975 e 1979. Neste último ano, ela foi convidada pelo então governador do Amazonas José Bernardino Lindoso (1979/1982) a ocupar a suplência do candidato ao senado João Bosco Ramos de Lima. João Bosco foi eleito, assumindo a função em 1º de fevereiro de 1979, mas pouco mais de três meses depois, em 11 de maio, morreu de um ataque cardíaco e Eunice assumiu a vaga.

Vereadora cassada

A história da senadora é recheada de fatos curiosos e não muito agradáveis. O Senado só tinha banheiro para os senadores, e tiveram que construir um banheiro exclusivo para ela. No começo não sabiam como tratá-la, se senatriz ou senadora. Convencionou-se por senadora, utilizado desde então. Por ser mulher, sofreu muito preconceito por parte dos homens da Casa.

“O documentário foi realizado no contexto de sua atuação na política. Ela era professora. Em Manaus, começou como deputada estadual, de 1975 a 1979. Depois, como senadora, exerceu o mandato de 1979 a 1987. Em 1987, deputada federal, participou da Constituinte de 1988. Quando seu mandato acabou, em 1991, ela saiu da política”, falou.

Mas a história de Eunice, com os votos, começou bem antes. Ela morava em Maués (1958/1962), atuando como professora, quando se candidatou a vereadora, sendo eleita com impressionantes, até hoje, 500 votos para uma cidade do interior do Amazonas. Em 1964 a professora/vereadora teve seus direitos políticos cassados por dez anos, pelo regime militar.

“Ela está aposentada como conselheira do TCE (Tribunal de Contas do Estado) desde 1999 e já teve publicado sobre sua trajetória o livro ‘Mulheres no poder – o protagonismo de Eunice Michiles, a primeira senadora do Brasil’, de Michele Vale, além de uma biografia. Devido à sua idade avançada, mas ainda bem lúcida, o documentário foi inteiramente filmado na residência dela”, disse.

Isolada e solitária

‘Depois da princesa’, com direção, roteiro e edição de Malu, e equipe de mais de dez pessoas, começou a ser filmado em junho de 2020, mas devido à pandemia, as gravações ficaram paradas por vários meses. Foi finalizado no início de abril deste ano e está em processo de edição, que deverá ser concluído ainda este mês.              

O projeto do documentário foi contemplado no Programa Cultura Criativa – 2020/ Lei Aldir Blanc – Prêmio Feliciano Lana, da SEC (Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa), com apoio do Governo Federal.

A partir de Eunice, o documentário relaciona a atuação, representatividade e desafios de personalidades femininas da política partidária do Amazonas. Subjetivo, já que é narrado a partir das visões da diretora, o trabalho aborda a participação importante, porém isolada e solitária no meio político à época de Eunice, ligada à ainda baixa representatividade feminina na política amazonense de então.

“A previsão de lançamento do documentário, que tem a duração de cerca de 30 minutos, será no dia 23 de abril, sábado, às 15h, no Museu da Cidade, Paço Municipal. Poucos dias depois, em 12 de maio, completam 44 anos da posse de Eunice no Senado”, lembrou Malu.

“Em seguida pretendemos fazer um roteiro por várias escolas de Manaus, e até do Amazonas, para que os jovens conheçam a história de Eunice e, quem sabe, inspire muitas meninas a quererem se tornar políticas. Também queremos ‘rodar’ o Brasil com o documentário e, quem sabe, Brasília, não neste ano político, para que não o utilizem como uma forma de propaganda”, adiantou. 

Mais informações no Instagram @depoisdaprincesa.

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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