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E a república chega a Manaus trazendo novo comando ao Amazonas (veja foto inédita)

No dia 15 de novembro de 1889, como resultado do enfraquecimento da monarquia desde o final da Guerra do Paraguai, em 1870, militares, tendo à frente o marechal alagoano Manuel Deodoro da Fonseca destituíram do poder o imperador Dom Pedro II, proclamando e instalando a república no Brasil.

Naquela época, desde o dia 1º de julho de 1889, governava o Amazonas o paraense Manuel Francisco Machado, o barão de Solimões. Com o novo regime político vigente no país, logo os governantes republicanos trataram de indicar nomes de sua confiança para ficar à frente das ex-províncias, agora Estados. Apenas uma semana depois da proclamação, no dia 21 de novembro uma junta governativa assumiu o comando político do Amazonas afastando Manuel Francisco. Eram eles os militares Antônio Florêncio Pereira do Lago, coronel do Exército; Manuel Lopes da Cruz, Capitão de Fragata; e o civil Domingos Theophilo de Carvalho Leal. 132 anos, eis que vem à luz uma foto, até então esquecida num álbum de família, mostrando a posse dos três governadores, que permaneceram pouco no poder, até 4 de janeiro de 1890, quando foram substituídos pelo militar gaúcho Augusto Ximeno de Villeroy. A foto foi tirada exatamente no dia 21 de novembro de 1889 e, há pouco tempo, entregue ao pesquisador e jornalista Adriel França por Raphael Souza, trineto de Carvalho Leal.

“Eu pesquiso a história de militares no Amazonas. Um amigo, que trabalha no Arquivo Público, e conhece o Raphael, falou sobre minhas pesquisas para ele, que resolveu me mostrar a foto de seu trisavô”, contou Adriel.

Curiosidades e indagações

Como toda foto de época, esta traz curiosidades e indagações. Adriel descobriu que a foto foi tirada no Theatro Éden, uma construção de madeira no qual foram encenadas as primeiras peças teatrais de Manaus. O Theatro ficava localizado onde hoje está o prédio do INSS. Interessante é que a sede do Palácio do Governo, desde 1876, onde hoje é o Paço Municipal, era logo lá perto, mas não foi ocupada para tal cerimônia. Adriel acredita que seja porque o Palácio não tinha auditório que pudesse comportar os interessados no evento. Será que um grande público ocupava as cadeiras da platéia?

A foto mostra o capitão Manuel Lopes discursando e, atrás, uma infinidade de homens cujas identidades se perderam com o tempo.

“Eu acredito que o Carvalho Leal seja o homem, de bigode, logo atrás do capitão, quanto ao coronel Antônio Florêncio, tenho uma foto dele. Ele usava barba, e na foto os únicos dois militares que aparecem, não são barbados. Se prestarmos atenção, na mesa tem um vaso e, atrás desse vaso, outro militar. Quem sabe não era o coronel?”, indagou.

“Ainda podemos ver outros dois militares da Marinha entre os civis. Como até hoje, quem fica no centro da mesa é alguém de relevância, acho que o personagem entre os dois vasos talvez fosse o presidente da Assembleia Legislativa. Mas são apenas conjecturas”, avisou.

Outro detalhe que chama a atenção é o pano de fundo, uma floresta com muitas árvores e plantas, certamente o cenário de alguma peça encenada no Teatro. Qual seria essa peça? O teatro, então, era a principal diversão dos manauaras. O cinema só seria exibido pela primeira vez, em Manaus, em 1896, no Teatro Amazonas. Os vasos, lá atrás, e sobre a mesa, possivelmente foram colocados como decoração para o momento.

“Uma coisa que eu também pergunto é: quem tirou essa foto? Naquela época, raríssimos eram os fotógrafos, estrangeiros, que passavam por aqui. Infelizmente ele não assinou a foto”, revelou.

Discurso do capitão de fragata Manuel Lopes da Cruz assumindo o governo republicano no Amazonas

A junta governativa

No início do ano seguinte a junta governativa entregou o cargo para Augusto Ximeno e seus integrantes continuaram exercendo suas funções, em Manaus.

Manoel Lopes da Cruz nasceu em Macaé, no Rio de Janeiro. Tomou parte das últimas ações de combate naval na Guerra do Paraguai. Comandou a Flotilha do Amazonas por diversas vezes entre 1882 e 1889, na graduação de capitão de fragata, sendo nomeado comandante da Flotilha pela última vez em 21 de julho de 1889. Em 1897, como contra-almirante, era membro do Conselho Naval. Foi reformado compulsoriamente no posto de contra-almirante em 16 de maio de 1904, recebendo os proventos de vice-almirante, sendo declarado almirante graduado. Com 55 anos foi para a reserva remunerada.

Antônio Florêncio nasceu na povoação de São José dos Touros, Rio Grande do Norte.

Quando da proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, era comandante d’Armas da província do Amazonas. A notícia da queda da monarquia chegou ao Amazonas no dia 21 de novembro, trazida por uma comissão vinda de Belém no vapor Manaus, da Companhia Brasileira de Navegação. Ao tomar conhecimento dos fatos, o Club Republicano do Amazonas convocou uma assembleia ainda no dia 21, no Theatro Éden, para formar uma junta de governo provisória a fim de substituir o presidente da província.

Carvalho Leal era maranhense, integrante do Club Republicano do Amazonas e fervoroso propagandista da república, por isso foi chamado para integrar a junta governativa, porém, logo se desentendeu com o grupo, se afastando. O historiador Arthur Reis escreveu que ele “se indispôs com os companheiros da junta aos quais acusava de inimigos do novo regime, se recusando até a dar a sua assinatura ao orçamento para o exercício financeiro de 1890”. A coisa foi tão séria que uma passeata promovida pelo Clube Republicano, provocou a ira dos militares, mas não chegou às vias de fato.

Por Evaldo Ferreira: @evaldo.am

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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