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Cartões de crédito e carnês são cada vez mais vilões do endividamento

A proporção de consumidores de Manaus endividados no comércio sofreu refluxo em abril e ainda está abaixo da média nacional, mas seguiu elevada. Cartões de crédito e carnês seguiram como os principais vilões. Ao menos 65,9% das famílias manauenses –ou 425.021 delas –se dizem endividadas. Houve pouca melhora em relação ao mês anterior (66,9% e 430.968), ou mesmo na comparação com 12 meses atrás (66,2% e 420.724). Os dados são da Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor), da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo).

Já a inadimplência estagnou. O índice de negativados permaneceu empatado entre março e abril, atingindo 28,8% (185.648) das famílias da cidade e até um pouco mais baixo do que o patamar de abril de 2021 (30% e 190.838). Mas, ao menos 15,7% (101.473) declararam já não ter condições de quitar dívidas atrasadas, número superior ao de março (15,3% e 98.840), embora ainda aquém do registro do mesmo mês do ano passado (18,6% e 118.317). O endividamento e a inadimplência, contudo, seguiram crescentes na faixa de renda de dez salários mínimos em diante.

Ainda assim, o desempenho do Estado foi melhor do que o da média nacional. A proporção de brasileiros endividados alcançou novo recorde, no mês passado. A proporção de famílias nessa situação chegou a 77,77%, sendo a maior já registrada nos 12 anos do levantamento. Há um ano, essa parcela era de 67,5%. Já o percentual de famílias com contas em atraso foi de 28,6%, enquanto 10,9% dos consumidores brasileiros admitiram não ter mais condições de pagar contas atrasadas.

Mesmo sendo mais caro, a facilidade de uso do cartão de crédito contribuiu para sua predominância no endividamento em Manaus, respondendo por 85,7% das dívidas, e com novo predomínio das famílias com mais renda (98,3%). Os juros da modalidade de pagamento já estão em 13,68% ao mês e em 365% ao ano, conforme a pesquisa mais recente da Anefac (Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade). O comprometimento financeiro com financiamentos residenciais (16%), por outro lado, também é predominante nessa faixa de renda, conforme a CNC.

Os carnês (57,4%) seguiram na segunda posição, e continuam sendo impulsionados também pelos que recebem mais (66,1%). Já o cheque especial (24,6%) é usado apenas pelas famílias mais pobres. A modalidade de pagamento é a segunda mais cara da lista (7,89% de juros mensais e 148,76% anuais). A lista inclui ainda crédito pessoal (22,6%), financiamentos de carro (18,8%), crédito consignado (3,6%) e “outras dívidas” (0,2%). Um indicativo da crise é que o cheque pré-datado (0,5%), uma invenção brasileira, voltou a ser usado com frequência e exclusivamente pelos que ganham menos. 

Renda comprometida

A sondagem mostra que houve uma melhora mínima no nível de endividamento dos manauenses. Uma fatia pouco inferior à do levantamento anterior se diz “muito endividada” (39,2%), com predomínio das famílias com renda até dez salários mínimos mensais (40,1%). Em seguida estão os “mais ou menos endividados” (15,5%) –situação onde prevalecem as famílias mais ricas (35,4%) –e os “pouco endividados” (11,2%). 

Em média, as famílias de Manaus devem levar 37 semanas para quitar as dívidas. A situação ficou menos pior também nas estimativas de tempo de comprometimento com as dívidas, já que caiu o percentual dos que estimam levar mais de um ano para tanto –de 43,3% para 41,6%. Em paralelo, a proporção dos devedores comprometidos entre seis meses e um ano (25,7%) e de três a seis meses (18,8%) também aumentou. O grupo dos endividados até três meses estabilizou em 13,1%. 

O nível de comprometimento de renda aumentou. Em média, as famílias manauenses já consomem 40,5% de seus ganhos com dívidas. O grupo dos que recebem mais de dez mínimos (41,7%) seguiu gastando proporcionalmente mais, pelo oitavo mês seguido. A maioria (54,7%) gasta mais da metade de seus rendimentos mensais com dívidas, em número igualmente pior do que o de março. Na sequência estão os que gastam de 11% a 50% (39,6%) e os que limitam os dispêndios a 10% de seus ganhos (4,1%).

Entre os consumidores com compromissos em atraso, apenas 22,8% garantem que conseguirão quitar integralmente no próximo mês –contra os 24,2% anteriores. Outros 22,5% estimam que conseguirão pagar apenas parcialmente e o restante diz que vai seguir devendo. Ao menos 24% devem há mais de 90 dias. A fatia de manauenses com dívidas atrasadas entre 30 e 90 dias (61,8%) ainda é majoritária, enquanto o grupo pendente há menos de um mês responde por somente 14,1% do bolo. Em média, as dívidas das famílias inadimplentes de Manaus estão atrasadas há 61 dias.

“Consumidor engessado”

Para o presidente em exercício da Fecomércio-AM (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Amazonas), Aderson Frota, os números da CNC mostram as dificuldades enfrentadas pelo consumidor em um cenário internacional conturbado, com seus reflexos negativos no ambiente doméstico, inclusive no mercado de trabalho. O dirigente ressalta, entretanto, que o setor está confiante de que os entraves serão contornados nos próximos meses e acrescenta que os resultados dos Dias das Mães, a serem divulgados nos próximos dias, podem ser um começo de retomada.

“O aumento da inflação e dos juros está engessando o consumidor brasileiro e gerando uma série de dificuldades a serem diluídas paulatinamente. No nosso caso, tivemos uma pequena queda percentual no endividamento, mas isso demonstra que as coisas estão mudando gradualmente, apesar de todos os custos que se elevaram neste período. Estamos em um processo de recuperação, que vai nos dar uma tranquilidade para que a economia possa voltar a funcionar a todo o vapor”, ponderou. 

Inflação e juros

Em âmbito nacional, o percentual de endividados e inadimplentes seguiu crescente. Em texto distribuído pela assessoria de imprensa da CNC, a economista responsável pela pesquisa, Izis Ferreira, avalia que o principal motivo é a inflação. “Os orçamentos mais acirrados têm levado mais famílias a atrasarem os pagamentos e usarem mais o cartão de crédito, que é a modalidade de dívida para o consumo de curto prazo”, explicou.

De acordo com a economista da CNC, os dois indicadores de inadimplência da Peic apontam tendência positiva maior entre as famílias de menor renda. Ela avalia também que o contínuo encarecimento do crédito e a fragilidade apresentada no mercado de trabalho devem seguir afetando negativamente a dinâmica da inadimplência.

No mesmo texto, o presidente da CNC, José Roberto Tadros, reforça que a tendência de alta no endividamento das famílias brasileiras se mantém ainda com os juros de mercado mais elevados. “A inflação alta, persistente e disseminada, com um IPCA já em 11,3% ao ano, mantém a necessidade de crédito para recomposição da renda, fazendo com que as famílias encontrem nos recursos de terceiros uma saída para a manutenção do nível de consumo”, arrematou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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