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Black Friday perde força no comércio amazonense

Black Friday perde força no comércio amazonense

Diante dos entraves de abastecimento, repique de registros de casos de covid-19 em âmbito local e, agora, limitações ao uso da marca ‘Black Friday’, FCDL-AM (Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas de Manaus) e ACA (Associação Comercial do Amazonas) já trabalham com a hipótese de queda de vendas no evento promocional deste ano. A Fecomercio-AM (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Amazonas), por outro lado, ainda aposta na alta.

Em paralelo aos estoques em baixa e à indicação do governo estadual de que as vendas se restrinjam ao modo online e sem promoções in loco, a Defensoria Pública do Amazonas está recomendando aos comerciantes locais que substituam o termo ‘Black Friday’ por ‘Semana Promocional’. O órgão informou que a orientação busca promover o “respeito às comunidades afrodescendentes”. Ofício com essa determinação já foi encaminhado no último dia 4, à CDL-Manaus (Câmara dos Dirigentes Lojistas de Manaus) e à ACA. 

Diante da novidade, os lojistas avaliam que, o que já era ruim, acabou de piorar. Especialmente porque boa parte das empresas do Amazonas estava apostando nas vendas da reta final do ano para reverter as perdas decorrentes dos meses mais duros da pandemia, marcados por fechamento de lojas e isolamento social.

“É claro que vai haver uma mudança, em virtude dessa pandemia. A gente espera até uma queda. Ainda mais pela imposição quanto ao não uso do nome ‘Black Friday’, que eles acham que discrimina os afrodescendentes”, declarou o presidente da ACA (Associação Comercial do Estado do Amazonas), Jorge Lima. 

O dirigente considera que a limitação das vendas aos canais digitais deve penalizar pequenas empresas, carentes de expertise e recursos para atender ao custo adicional da nova modalidade. Avalia também que os entraves podem contribuir para alterar o perfil de vendas de produtos da data, que costuma gerar aquecimento para itens de maior valor agregado. “Essa limitação é complicada, porque o pequeno lojista não tem essas ferramentas digitais, como acontece com os médios e grandes. Essa mesma restrição deve influenciar a saída de produtos. Acreditamos que haverá queda”, lamentou.

“Repercussão negativa”

Embora saliente que a entidade trabalha com perspectivas de crescimento global para o varejo no último bimestre do ano, o presidente da FCDL-AM, Ezra Azury, já admite que, diante das limitações, o Black Friday deste ano pode se encerrar com “uma pequena queda” de vendas em relação ao desempenho registrado no ano passado.

“Os lojistas entenderam que não há maneira de fazer Black Friday com aglomeração. Tudo que os empresários menos querem é ter algum tipo de repercussão negativa, com aumento de casos de covid-19 sendo decorrentes da promoção. Aí junta a falta de estoque, porque ninguém está com tantos produtos assim para fazer promoções. A Black Friday do Amazonas já seria limitada mesmo”, asseverou.

Segundo Azury, Manaus foi a única capital a amargar limitações na realização da Black Friday em razão dos cuidados necessários para conter a propagação da pandemia. O dirigente estima também que, de um modo geral, as empresas varejistas que ainda não trabalham com canais digitais são minoria no Estado, mas ressalta que mesmo quem não estiver nesse grupo deve conseguir alguma forma de capitalizar o evento.

“O lojista teve tempo de se preparar e já sabe que existe um novo modal de vendas. Quem não está conseguindo entender isso, vai ter dificuldades neste ano. O evento vai acontecer, sim, sem propaganda e talvez na parte interna da loja, com seus clientes. Vai ser um Black Friday diferente, mas ele vai acontecer”, frisou.

“No vermelho”

O presidente em exercício da Fecomercio-AM, Aderson Frota, conta que a atividade já vinha enfrentando dificuldades para repor os estoques nos meses anteriores, materializados pela falta de navios e contêineres, em um primeiro momento, e de embalagens – especialmente metálicas – e produtos para a indústria desovar no varejo, no segundo. Outro entrave veio do pico dos casos de covid-19, que acendeu a luz amarela às vésperas da Black Friday. 

“A pandemia acabou registrando algumas contaminações acima do que estava acontecendo, forçando o governo a emitir uma série de recomendações e preocupações em relação ao Black Friday. Sempre aderimos a todos os protocolos e vamos fazer isso mais uma vez. Estamos recomendando a todos, para oferecer todos os cuidados, como distanciamento, álcool em gel e preferência para vendas online”, comentou.

Aderson Frota ressalta que a preocupação quanto a eventuais conotações racistas em torno da marca são indevidas e explica que, em sua origem, o “black” equivale em significado ao que seria nomeado no Brasil como “no vermelho”. Ou seja, seriam promoções de um nível que deixariam em perigo a margem de lucro das empresas. Mesmo diante de tantos entraves, o presidente da Fecomercio-AM mantém expectativa de um saldo positivo a promoção.  

“Fomos obrigados a rever nossa projeção para o fim de ano, que deve ser de 2% a 2,5% de alta, e não mais de 5%. Ainda não temos números para a Black Friday, mas tenho certeza de que conseguiremos alcançar um crescimento positivo. Apesar das dificuldades, o consumidor ainda está com propensão a comprar”, amenizou.

“Sem tradição”

Em função dos gargalos, muitas lojas, como a TV Lar, estão estendendo a promoção pelo mês inteiro. O diretor da TV Lar, e também tesoureiro da ACA, Johnny Azevedo, conta que o setor teve um início de ano muito ruim, com melhora a reabertura de junho e julho, e desaceleração no final de setembro e em todo o mês de outubro.  Por isso, salienta que muitas lojas estavam apostando na Black Friday para garantir a recuperação das perdas impostas pela pandemia e conseguir fechar o ano no azul. 

“Acho que as pessoas estavam segurando para comprar nas promoções de Black Friday, evento que vem superando o Natal em vendas, nos últimos três anos. Nossa expectativa era grande, mas estamos sendo prejudicados pela falta de produtos, principalmente de motores, moveis e alguns eletroportateis. Conseguimos fazer algum estoque e acreditamos que podemos pelo menos igualar o desempenho de 2019”, informou.

Quanto à preocupação em relação à supostas conotações racistas da ‘Black Friday’, Azevedo informa que a empresa está estudando uma maneira de usar a marca evitando problemas, pois “o comércio precisa dessa venda”. Em relação ao uso dos canais online para vendas, observa que estes têm baixa tradição no Amazonas, inclusive entre as empresas que já trabalhavam com ela. Segundo o dirigente, a TVLar passou a investir mais nos canais digitais, que antes da pandemia respondiam por 5% dos ganhos da companhia e agora já são responsáveis por 13% a 15% dos resultados. 

“Tivemos um aumento de mais de 100% nesse meio. Por isso, diversificamos os canais digitais, com presença nas redes sociais e abertura de um call center. Mas, a maior parte de nossa clientela ainda prefere ir à loja para poder pegar no produto e leva-lo para casa no mesmo dia. E o número de empresas que trabalham com vendas online não deve ser maior do que 20 por aqui, todas de grande porte. As lojas pequenas e de periferia, não têm”, concluiu.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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