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Ascenção social estaciona na região Norte

O Norte teve o pior desempenho nacional no levantamento do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) sobre o número de brasileiros que subiram de classe social entre 2005 e 2008, divulgado ontem. Segundo o estudo, no movimento de ascensão para a classe mais alta, a região respondeu pela incorporação de apenas 6,7% dos indivíduos. O Sudeste, por outro lado, manteve a liderança com 51,2% beneficiados. Na sequência, ganhou importância o Sul (18,1%), o Nordeste (16,4%) e o Centro-Oeste, com 7,6%.
Entre as regiões que mais registraram ascensões entre as classes baixa e média, o Norte ficou com a quarta posição (10,4%). Sudeste (36,3%) e Nordeste (34,1%) se destacaram, uma vez que responderam por quase 71% do movimento nacional da mudança na estrutura social na base da pirâmide brasileira. Em seguida, veio Sul, com 11,1%. O Centro-Oeste ocupou a última posição nesse quesito, com 8,1%.
A pesquisa do Ipea informa que o número de brasileiros que subiram de classe social entre 2005 e 2008 somou 18,5 milhões, o equivalente a quase 10% da população do país, hoje com cerca de 193,7 milhões de habitantes. Baseado na Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o estudo mostra que 11,5 milhões de pessoas passaram para o nível de maior renda, enquanto outros 7 milhões passaram para a classe média.
Segundo o Ipea, a partir de 2005, o “Brasil registra uma importante inflexão na evolução da identidade social da população.”

Divisão populacional

O instituto repartiu a população do país em 2001 em três partes iguais. No primeiro terço, ficaram as pessoas com rendimento de até R$ 188 mensais no ano de 2008. No segundo terço, que compreende o segmento intermediário de renda, ficaram aqueles dentro do intervalo de rendimento individual de R$ 188 a R$ 465 mensais. Por fim, no terceiro, que representa o estrato superior da renda, estão os rendimentos individuais acima de R$ 465 mensais.
A partir da divisão populacional em três partes equivalentes se tornou possível retroagir e avançar no tempo em relação a 2001. Com a atualização do valor do rendimento individual, em termos reais, constitui-se a evolução da população brasileira conforme a repartição dos três principais estratos de renda (baixo, médio e alto) de 1995 a 2008.
Os dados mostram também que, nos últimos anos, a população de menor renda perdeu importância dentro do conjunto, caindo de participação de 34% no total da população até 2004, para 26%, em 2008 -a menor desde 1995. Mesmo assim, ressalta o Ipea, o Brasil ainda possui 25% de sua população vivendo com rendimentos extremamente baixos.
Como consequência, as classes média e alta ganharam maior representatividade populacional. O segundo estrato de renda passou de 21,8% de participação em 1995 para 37,4% em 2008. No caso do estrato de maior renda, o saldo foi de 31,5% em 2004 para 36,6% no ano passado.
O estudo também montou o perfil dos brasileiros nas diferentes classes sociais. O meio rural ampliou levemente a presença no segmento de maior renda, passando de 6,2% em 1998 para 6,4% em 2008. Nos estratos de menor renda, a população do campo perdeu posição relativa para o meio urbano (de 39% para 32%).

Aumento de renda minimiza efeitos da crise no Brasil

A ascensão social de 18,5 milhões de brasileiros nos últimos três anos, verificada pelo Ipea, diminuiu os efeitos da crise internacional sobre a economia brasileira. O movimento ampliou o mercado consumidor e fez girar um círculo virtuoso de alta de demanda, produtividade e emprego.
Segundo Rogério César de Souza, do Iedi (Instituto de Estudos para Desenvolvimento Industrial), foram esses fatores que colocaram o Brasil em condição favorável, em comparação a outros países. “E isso é bom para a indústria em particular”, diz, citando o consumo de alimentos e da construção civil. O Iedi reúne as maiores indústrias brasileiras.
O economista lembra que a indústria sofreu muito com a diminuição de exportações, durante o auge da crise internacional, mas ressaltou que “cresce de forma contínua se valendo do mercado interno”. Além do setor, os bancos comemoram a expansão das atividades financeiras ocorridas a partir do aumento das pessoas com renda na faixa intermediária.
Segundo dados da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), entre 2005 e 2008 o número de contas correntes passou de 95 milhões para 125,7 milhões. As contas de caderneta de poupança saltaram de 71,8 milhões para mais de 92 milhões. O total de cartões de crédito teve o maior crescimento: passou do patamar de 68 milhões para 124 milhões.
O diretor de Estudos e Políticas Sociais do Ipea, Jorge Abrahão de Castro, considera que a elevação desse “conjunto grande de pessoas” no mercado se dá também com a diminuição das desigualdades sociais. Para ele, a sustentabilidade do movimento depende da manutenção da política de ganhos salariais efetivos e políticas sociais que favoreçam a incorporação de produtores, e pode ser incrementada com a diminuição dos juros.

Eleições gerais

A trajetória de ascensão apontada pelo Ipea poderá também repercutir nas eleições gerais do próximo ano. Para o cientista político Alberto Carlos Melo de Almeida, o processo já é verificado há algum tempo e não favorece diretamente nenhum candidato, mas influencia a pauta eleitoral.
De acordo com Almeida, o eleitor vai querer mais ascensão de renda nos próximos anos. “A sensação de insatisfação pode aumentar entre as pessoas que melhoraram sua condição de vida”, avaliou. Para ele, a aquisição da casa própria e automóvel pode alimentar sonhos de consumo dos setores emergentes da população.
A participação da população na base da pirâmide social (pessoas com rendimento individual de até R$ 188) diminuiu cerca de 23%, de acordo com o estudo do Ipea. Sete em cada dez pessoas que ascenderam são do Sudeste e Nordeste. Apesar do avanço, a região Nordeste concentra a metade dos brasileiros pertencentes ao primeiro estrato social.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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