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Demissões voluntárias crescem no Amazonas

Andréia Leite

@andreiasleite_   @jcommercio

Acompanhando o movimento nacional, o número de trabalhadores que pediram demissão voluntariamente no Amazonas cresceu nos últimos seis meses em mais de 58% em relação ao mesmo período do ano passado. Em junho deste ano foram mais de 4.684 pedidos de desligamento a mais que o junho de 2021, que foi 3.331, ou seja, um crescimento de mais de 40%. Os dados sobre as demissões voluntárias são do Novo Novo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do MTE (Ministério do Trabalho e Emprego).

No âmbito nacional esse movimento também vem ganhando força. Não à toa, dados  da gerência de Estudos Econômicos da Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro), com base nos números do Caged mostram que um em cada três rompimentos do contrato de trabalho aconteceu por iniciativa do funcionário.

Tendência que vem crescendo no Brasil. Segundo os dados, esses pedidos chegaram a 2,9 milhões entre os meses de janeiro a maio deste ano, um aumento de 32,5% em relação ao mesmo período de 2021. Essa modalidade representou 33,4% de todos os desligamentos registrados nesses cinco meses.

Em relação ao Amazonas, dados fornecidos pelo Firjan, indicam que no Estado, um em cada quatro desligamentos (25,6%) aconteceram por iniciativa do trabalhador, no período analisado de  janeiro a maio de 2022. Assim como no quadro nacional, os profissionais mais qualificados no mercado de trabalho amazonense também possuem maior propensão a pedir demissão: o percentual de trabalhadores com pelo menos nível superior completo que pediram demissão em relação ao total de desligamentos foi de 39,3%, acima da média de todas as escolaridades (25,6%).

O especialista de Estudos Econômicos da Firjan,  Marcio Felipe de Afonso, informou que apesar do percentual de demissões voluntárias no Amazonas ser inferior ao nacional, também observa-se um aumento na comparação com os primeiros cinco meses de 2021, quando o percentual de desligamentos por conta do trabalhador tinha sido de 21,0%. Além disso, em termos absolutos, o número de pedidos de demissão aumentou 42,1% entre os dois períodos, de 15 mil para 21 mil, um crescimento superior à média nacional (35,2%).

“Historicamente, sempre existiram inúmeros fatores que levavam um trabalhador a pedir demissão, desde questões pessoais à busca por novos desafios profissionais e maiores remunerações. Entretanto, as mudanças nas relações de trabalho, aceleradas pela pandemia e pela transformação digital nas empresas, introduziram novas “regras ao jogo”: a preferência por novas modalidades de trabalho, a globalização do mercado de trabalho (com a possibilidade de trabalhadores brasileiros atuarem em empresas estrangeiras sem sair do país) e um desejo crescente por maior equilíbrio entre trabalho e a qualidade de vida são algumas delas”, atribuiu Marcio Felipe de Afonso.

Cenário

Geisyng Azevedo, especialista em transição de carreiras, observa dois tipos de movimentos em relação ao cenário. Um deles é o processo de estruturação que as empresas estão realizando, o que faz as pessoas buscarem novas oportunidades. O outro recorte é que as pessoas estão refletindo se realmente está valendo a pena manter-se no trabalho ou buscar mais qualidade de vida se lançando como autônomas. “Os profissionais estão procurando ganhar dinheiro, mas sem este lugar que convive sob pressão dos ambientes corporativos. Eu acredito que a pandemia escancarou muitos lugares e muitas oportunidades para as pessoas começarem a pensar de forma diferente de se ganhar dinheiro, de se viver a vida”.

O consultor de carreira, negócios e emprego Flávio Guimarães também analisa o movimento contundente que vem ocorrendo há algum tempo em todo país, visto que, a pandemia, fez o faturamento das empresas cair significativamente. “A empresa que tinha dois profissionais decidiu enxugar o máximo possível dos seus recursos, um deles através de quadro de funcionários. Aquele profissional que fazia apenas um serviço e decidiu permanecer assumiu outras funções passando a ficar sobrecarregado. Sem aumento de salário e sem nenhum tipo de reajuste”. 

Ele frisou que a prática não é generalizada, têm situações em que a empresa reajustou o salário, mas em grande parte não. “Nós temos presenciado por esse problema financeiro capacidade de pagamento de folha no ambiente organizacional em vários segmentos onde os profissionais estão ficando extremamente sobrecarregados e estressados e têm ocasionado inclusive doenças ocupacionais, comportamentais e mentais. É um fenômeno normal que deve manter-se. Mesmo que esteja em época de crise, os profissionais estão pedindo desligamento”. 

Por dentro

Nos EUA o fenômeno é chamado de “The Great Resignation” (a grande renúncia, em português). O termo caracteriza uma tendência econômica de demissão voluntária em massa. De acordo com o Bureau of Labor Statistics, estima-se que 47,8 milhões de americanos tenham deixado a força de trabalho voluntariamente em 2021. Esse é o recorde da série, que é divulgada desde 2001.

Andréia Leite

é repórter do Jornal do Commercio
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