7 de outubro de 2024

Reino da vagabundolândia 

Reginaldo de Oliveira*

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Vagabundolândia era um reduto feudal que alimentava aspirações de grandeza; uma nação composta, em grande parte, de gente trabalhadora, mas o lado podre concentrava aspectos execráveis do ser humano. O senhor máximo das terras era o eminente Pilantronyldus Vagabbolynus que comandava seus domínios, auxiliado por inúmeros funcionários da realeza. Essa turminha privilegiada era apelidada de parasita, já que seus luxos e mordomias eram pagos com o suor daqueles que verdadeiramente trabalhavam, como, por exemplo, camponeses, artesãos, pequenos comerciantes etc. O povão sofrido habitava o lado externo de fortificações que protegiam a cidadela e seus moradores ilustres, os quais exigiam reverências, privilégios e imunidades. O gentílico de Vagabundolândia é vagabundo, assim conhecido pelos feudos vizinhos. 

Como ninguém da nobreza trabalhava, o sustento e a vida luxuosa desses notórios vagabundos dependia dos saques e das extorsões patrocinadas pelo rei Pilantronyldus, que, periodicamente mandava seus mercenários pilhar as casas dos pobres trabalhadores. A vagabundagem era total entre os funcionários da realeza. Tinha gente que marcava presença no local de trabalho, mas logo retornava para sua residência. Muitos ganhavam férias dobradas ou salários maiores que o do rei. Mas o pior mesmo eram os pontos facultativos, onde qualquer evento incomum virava feriado. Por exemplo, um festival folclórico foi motivo de folga. O rei também prometeu liberar sua turminha para assistir aos jogos femininos (que ninguém gostava). Mesmo assim, os vagabundos da realeza ficaram revoltados porque as jogadoras foram eliminadas na fase de grupo. Na verdade, pra não chamar vagabundagem de vagabundagem, o rei criou o termo “ponto facultativo”.

Eis que dentre os senhores feudais havia surgido um movimento de formação dum Estado, onde vários territórios vinham organizando suas estruturas institucionais para se juntar ao bloco de poder que crescia em tamanho e importância. O rei Pilantronyldus cuidou então de modernizar seu reduto para cumprir os requisitos exigidos. Desse modo, e com base na ordem religiosa, ele instituiu um colegiado de notáveis vagabundos que ficaram incumbidos de estabelecer os mandamentos reais, cujo nomeado para o cargo máximo foi o nobre camarada Corrupcínyus Puxchassácus. Tais mandamentos visavam fixar códigos de conduta e de ordenamento social. 

Foi necessário também, criar um grupo de sábios para dirimir conflitos de uma sociedade que começaria a observar tais mandamentos. Para o comando de tão nobre missão foi escolhido o camarada Whysthagrossa Conyventts. Na verdade, tais figuras eruditas eram tão vagabundas quanto os demais. Na sequência, a nova elite empossada cuidou de trazer meio mundo de amigos e parentes para ajudar na árdua missão real. Era gente aos montes; todos escolhidos, com cargos e funções, onde poucos trabalhavam enquanto outros passavam o dia coçando o saco numa vagabundagem ostensiva e descarada. Mesmo assim, a reclamação de qualquer plebeu virava crime de desacato a funcionário da realeza, punido com enforcamento em praça pública. 

No processo de estruturação, um especial conjunto de pessoas habilidosas precisava ser reunido para organizar as pilhagens, que, daquele ponto em diante iria acontecer como sempre aconteceu, só que ornamentadas por uma roupagem ideológica. Isto é, os mercenários continuavam subtraindo o patrimônio dos plebeus, mas então diziam que os valores roubados eram revertidos em benefício de todos, na forma de proteção armada do reino ou eram aplicados na construção de estradas. O pior é que o povaréu passou a acreditar no papo furado do rei Pilantronyldus. Só que, de fato, tudo servia para enriquecer mais ainda os nobres vagabundos. O escolhido, então, para sistematizar a captação de recursos foi o camarada companheiro Jahoubbas Prahcaramba. 

Prevalecia no reino uma roubalheira desenfreada, onde todo mundo da nobreza roubava, e, com isso, vários plebeus pés-de-chinelo seguiam no mesmo caminho. A situação de modernidade não comportava tamanha bagunça, sendo necessário punir os salteadores. O rei se viu num dilema: Como proteger os ladrões da nobreza e ao mesmo tempo punir os ladrões de galinha? A resposta estava na construção do paradigma de que “só pobre vai pra cadeia”. O rei não poderia de forma nenhuma atacar a roubalheira do alto escalão, já que ele próprio era o mais vagabundo de todos. Desse modo, as masmorras foram sucateadas até torná-las inabitáveis. E, sendo impossível manter malfeitores em condições insalubres, o sábio Whystagrossa mandava soltar os criminosos nas audiências de custódia. Só ficava preso aquele que falava a verdade sobre os governantes. 

O povo honesto e trabalhador se revoltava com tanta impunidade, mas a gentalha não poderia se acostumar com o ideário de justiça, uma vez que, se o arquétipo de justiça prevalecesse no imaginário popular, toda a sociedade iria se insurgir contra a pilantragem dos governantes. Curta e siga @doutorimposto. Outros 483 artigos estão disponíveis no site www.next.cnt.br como também está disponível o calendário de treinamentos ICMS.

* é consultor empresarial, palestrante, professor do ensino superior e especialista em capacitação profissional nas áreas de ICMS Básico e ICMS Substituição Tributária.

Reginaldo Oliveira

é consultor empresarial, palestrante, professor do ensino superior e especialista em capacitação profissional nas áreas de ICMS Básico e ICMS Substituição Tributária

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