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Nossa História, nossos atrasos.

André Ricardo Costa

Professor da UFAM

A demora para resolver nossos problemas e aproveitar oportunidades nos é apresentada por diferentes percepções. Há o orgulho de termos um dos primeiros portos fluviais de relevo, inaugurado em 1906, e sermos uma das primeiras cidades brasileiras a receber energia elétrica, em 1895. Há a reclamação do quanto iniciativas demoraram a se estabelecer – a navegação a vapor no Amazonas iniciara em 1850 e o ciclo da borracha em 1880. A energia elétrica se disseminou rapidamente no mundo ocidental, e chegou a Manaus oito anos após Tesla inventar a corrente alternada. O porto foi bem mais demorado, seu estabelecimento ficou à mercê de disputas e gargalos ao longo da década de 1890. Ambos os serviços, energia e transporte aquaviário, são ambíguos quanto ao desempenho e bateção de cabeça na governança. 

O Porto de Manaus esteve com os concessionários até a expropriação pelo governo federal no mesmo ano de criação da Zona Franca de Manaus, em 1967. Por quase três décadas o atual modelo ainda dependeu da herança logística do ciclo da borracha para receber os insumos e enviar seus produtos pelo modal aquaviário.

Somente na década de 1990 outros portos de relevo se estabeleceram na orla de Manaus, e foram fundamentais para consolidar o caráter industrial da ZFM, propiciando a vinda de navios de longo curso ao longo da década de 2000. As fábricas locais receberam garantias de provisão a um custo cuja evolução compensou parte da vertiginosa subida dos preços do petróleo daquela época.

Agora, nossa logística receia sofrer novamente o estrangulamento da Seca de 2023. Realmente foi extraordinário. Mas foram os mesmos pontos de menor profundidade que desde sempre costumam fazer os navios de grande porte reduzirem a capacidade, elevando sobremaneira o frete aquaviário nos meses de seca. A dragagem que tanto demorou em 2023 poderia ter sido feita em qualquer momento dos anos anteriores desde quando as autoridades tomaram conhecimento do aumento sazonal do frete. Uma solução está na concessão de hidrovias. O plano de outorgas divulgado no ano passado é promissor. Contudo, deve trazer efeito zero para este ano. Que a dragagem não atrase novamente.

A prontidão em usufruir da energia elétrica contrasta com as idas-e-vindas de privatização e estatização já a partir de 1902. Quando estatal e isolada do sistema elétrico nacional, fazia com que Manaus sofresse constantes apagões. Houve uma solução parcial com termelétricas a diesel. Mas, somente na década de 2010 com a conexão ao sistema nacional pelo Linhão de Tucuruí e o gasoduto Coari-Manaus foi que disponibilidade de energia aos lares em empresas amazonenses foi estabilizada.

Resolvida a estabilidade da oferta, o gargalo atual é só valor. Exceto aos que dispõem de superfície suficiente para instalar painéis solares, todos reclamam da conta de luz. A oportunidade que pouco se fala é que, uma vez que nossa matriz energética é largamente composta pelo gás natural, a conta de energia deveria estar muito mais barata. E não o é pelo mesmo motivo que nos deu estabilidade de fornecimento: A integração com o sistema nacional faz com que eventuais ganhos de economicidade na geração sejam disseminados por todo o Brasil. A solução é trabalhar o gás natural em geração distribuída, à semelhança da energia fotovoltaica. O gás natural está nas mínimas históricas no mercado internacional. Tudo indica, mais uma oportunidade que estamos demorando para usufruir.

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