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Modelo Errado: Ineficaz e Injusto

O Amazonas atravessa um período social muito difícil. Crise na saúde, com falta de remédios e insumos, equipamentos quebrados e sucateados, salários atrasados de médicos, pessoal de enfermagem e outros profissionais de saúde. Crise na segurança, com indicadores tenebrosos de violência. Crise na educação: índices de qualidade de ensino despencando ladeira abaixo. Crise na distribuição de renda: quase 50% da população na linha da pobreza… Sem falar em outras mazelas.

Mas o Amazonas é economicamente rico, principalmente Manaus, a capital onde se concentra mais da metade da população do Estado e com cerca de 90% do PIB (Produto Interno Bruto). Zona Franca, com seu Polo Industrial Incentivado, gera bilhões de divisas em impostos para o Governo Estadual e as Prefeituras, de forma direta ou indireta, principalmente por meio da arrecadação de ICMS. No entanto, sua empregabilidade estagnou desde o início deste século, com aproximadamente 100.000 funcionários nas fábricas, o mesmo número atual, 24 anos depois. Mecanização, informatização, robotização… Mais produtividade, lucros para as empresas e menos empregos. 

Mesmo assim, acredito que o problema não está na Zona Franca, e sim no modelo de gestão pública que se amoldou de forma tão equivocada aos seus benefícios. Como filhos mimados por generosas verbas (os impostos arrecadados e os empréstimos), sucessivos governos gastaram muito, gastaram mal, recursos que “sobravam”, mas parece que hoje faltam. Inversão de prioridades, desperdícios, privilégios, falta de foco. Um modelo infeliz de governança pública, que foi sendo “aperfeiçoado” no pior sentido. Cada vez mais desviado do superior interesse público, paternalista, clientelista, comprometido por práticas nefastas.

Há exceções? Certamente. Há ou houve bons projetos? Sim. Um exemplo foi a reorganização da gestão de saúde estadual no período de Samuel Hanan, então vice-governador de Amazonino Mendes. Outro, a criação da UEA (Universidade Estadual do Amazonas). Houve mais boas intenções? Acredito que sim, como no Terceiro Ciclo e no Zona Franca Verde. Mas falhas técnicas, de planejamento e de execução, interferências políticas e a descontinuidade das ações jogaram por terra até o que parecia acertado. Prevaleceram outros interesses, politiqueiros ou financeiros. Houve obras importantes? Claro, as do Prosamin, a pavimentação da BR-174 e a ponte sobre o rio Negro são úteis até hoje. Mas todos os avanços alcançados não representaram uma mudança transformadora da sociedade por meio de políticas públicas de Estado.

A situação socioeconômica do Estado do Amazonas pode parecer promissora. Mas não é. Ao reverso, sem um processo de inclusão social consistente, sem uma melhor distribuição de oportunidades, mais justa e equilibrada, sem alternativas consistentes para gerar cadeias produtivas diversificadas, sem uma governança pública eficaz e transformadora, a dependência excessiva de uma única matriz econômica está nos conduzindo a uma completa decadência.

Falo sobre estas coisas há vários anos. Descobri que este modelo do paternalismo, clientelismo e fisiologismo não pode nos levar para um patamar de verdadeiro desenvolvimento. É necessário gerar oportunidades mais amplas e sustentáveis de emprego e de renda, o que significa a valorização do trabalho e da cooperação. Mas se insiste em tornar os cidadãos submissos à favores e compras (mal) disfarçadas de votos.

A população, em sua grande maioria, parece anestesiada, entorpecida, como dependente química de uma droga destrutiva. Não posso ser omisso. Está errado. Muito errado. É preciso reagir. Sem violência. Com sentimento de amor ao próximo. Começa pela consciência ética política de não vender o voto, não negociar sua dignidade em troca de favores. Buscar de verdade o bem comum.

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