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Eu e as minhas hemorroidas

Carlos Silva

Aproximando de quatorze lustros de vida, muito bem vivida, prossigo na missão, fantástica e acalentadora, de rever e revisar memórias construídas ao longo do caminho. E hoje, vou homenagear minhas “amigas” residentes lá onde o vento faz a curva, no meu corpo. Na época em que nos conhecemos, eu sentia algumas comichões na terra de ninguém, após atos fisiológicos, mas logo a sensação passava e a vida seguia. E isso já completou mais de cinco décadas. Bem, em determinada ocasião, as comichões se transformaram em incômodo e logo, logo, evoluíram para dor insuportável mesmo. Um dia, após ficar rouco de tanto gritar alucinadamente de dor, os amigos me “convenceram” a ir ao hospital. Até hoje tenho as marcas do “convencimento” na carcaça. Em lá chegando, um infeliz, vestido de discípulo de Hipócrates, mas, na minha visão um torturador sádico, me diagnosticou com a seguinte frase: “bem-vindo ao mundo das hemorroidas, meu jovem”. Nesse dia, passei a pesquisar em que lugar do universo nascem os coloproctologistas, ou proctologistas ou proctos, como os colegas de profissão os chamam. Bem, vai ali e vai acolá, marcaram a tal da cirurgia. Claro que, desde então, meus amigos divulgaram aos seres vivos de todo o universo conhecido, o meu novo problema. E, na manhã marcada para o início dos procedimentos cirúrgicos, só faltou trio elétrico na porta da clínica. Fizeram a festa ! Naquele dia eu conheci, de verdade, o que é constrangimento. Mas, fazer o quê? Apenas curtir o momento, né? Enfim, acordei da anestesia geral. Em frações de segundos, percebi que tinha algo diferente “lá”. Não era dor, nem incômodo. Era, apenas, a sensação de uma facada nos rins, bem “lá”. Berrei por ajuda e me aparece, provavelmente do meio dos infernos, um monstro de origem nipônica, que, me olhou, deu um sorriso sarcástico de serial killer e me disse, com toda empáfia: ”bom dia e vamos fazer o toque”. Gelei! E, na minha total ignorância e inocência, perguntei: “Doutor, vai doer?” O desgraçado respondeu, com ar de galhofa: “Vai!”. Eu fiz, então, uma viagem à fossas dos infernos ! Aquilo não doeu, apenas. Me matou e ressuscitei. Simples, assim! Eu não só xinguei o sacripanta, que hoje em dia é um grande amigo, de verdade, como roguei todas as pragas conhecidas até aquele dia, na História. Mas, o resto do dia passou e chegou a noite. Veio uma cretina, trajada de enfermeira, provavelmente era de uma gangue de assassinas, e, querendo tentar me agradar disse: “está quente e vou abrir a janela”. Espirrei ! Pessoal, naquele momento eu descobri que tudo que acontece na carcaça, reflete “nele”. Foi um pouco pior do que o tal toque. Pelo menos, dormi, à custa de mais anestésicos, que me foram aplicados devido aos meus berros escandalosos de dor. Passou. No terceiro dia, tive que ir ao banheiro expelir fezes. Não foi divertido, nem um pouco. Devido às consequências desastrosas e repercussões dramáticas, tive que ficar mais três dias no hospital. E a vida seguiu ! Sobrevivi ! Hoje em dia, vou ao Urologista, ou apenas Uro, receber, uma vez por ano, o toque para acompanhar a próstata. Já fui iniciado em sofrer com “ele”. Agora, curtir a vida ! Com cervejas ! Geladas !

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