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Educadores de técnicas tradicionais

No meu último dia em Barcelos tive a oportunidade de conhecer o trabalho do Núcleo de Artes e Cultura Indígena de Barcelos – NACIB. 

Em uma oficina promovida pelo SEBRAE/AM – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, conversei com a coordenadora do NACIB, Dinalva Dias Campos, enquanto artesãs teciam a piaçava criando novas peças e produtos visando alcançar o selo de qualidade dentro do programa Laboratório de Artesanato Competitivo do Governo do Amazonas.

O NACIB completa, em 2022, dez anos e dele participam 50 artesãos. Nasceu da reunião de alguns indígenas que desejavam criar um núcleo para promover atividades voltadas à geração de renda. No site https://www.artesol.org.br/nacib temos o conceito que norteia o trabalho do núcleo: “As mãos que criam, criam o que?”

A qualidade do teçume, o ato de tecer fibras vegetais, é impressionante, aliando técnica, sustentabilidade, tradição, história…

Explicava a coordenadora que o núcleo reúne o trabalho de indígenas das etnias Baré, Baniwa, Tariano, Tukano e Tuyuca; e, nas mãos desses artesãos, as fibras (piaçaba, cipó-titica, cipó-uambé e arumã), sementes naturais e madeira tornam-se cestarias, bio-joias, peças decorativas, bancos, abanos, bolsas…. A diversidade de produtos encanta e ensina.

A maior parte da matéria prima é extraída no rio Negro e seus afluentes, rios Padauiri e Aracá. O manejo é realizado através dos conhecimentos indígenas ancestrais sustentáveis. A extração é apenas o primeiro passo do longo processo de preparação da fibra usada nos trançados. No caso da fibra da piaçaba ela é lavada até que fique bem limpa, enquanto que o cipó-titica é queimado no fogo e descascado. Depois são separadas as fibras que serão utilizadas para confecção de cestarias e as que darão forma às bio-joias.

A consultora do SEBRAE, Lilian Silva, ressaltou que antes da associação, os artesões indígenas, de forma geral, produziam sem orientação quanto às práticas de mercado, sofrendo muitas vezes com a exploração dos compradores que pagavam um preço muito abaixo do que seria justo. Após a organização associativa, o processo de produção foi aprimorado e as artesãs se encontram mais capacitadas.

Na busca por processos de qualidade, o SEBRAE proporcionou ao grupo diversas oficinas dentro do Programa Brasil Original, permitindo o compartilhamento de experiências de designer (estimulando a qualidade e diversidade dos produtos), a elaboração de catálogos e a participação em feiras nacionais de lojistas, resultando no melhor dimensionamento da valorização do trabalho e precificação justa do produto. 

A coordenadora do NACIB destaca que a estratégia de atender apenas lojistas foi definida a partir da participação numa Feira de Decoração em São Paulo. Os pedidos foram tantos, que eles tiveram que “fechar a banca e ir embora”…

Com um faturamento anual de cerca de R$ 200 mil, o núcleo já atende lojistas em vários estados federativos e prepara-se para ganhar o mundo, através da próxima oficina – Projeto Comprador – em parceria com SEBRAE e com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil).

O NACIB materializa o esforço amazonense do empreendedorismo social e dos benefícios econômicos divididos pela produção. Embora cada um trabalhe em sua casa, quem produz mais, ganha mais. 

Mas, há um diferencial em sustentabilidade que vai além da qualidade e acabamento dos produtos: o reconhecimento que cada mestre artesão tem condição de compartilhar sua técnica, todos ensinam.

Daniel Borges Nava – Geólogo, Analista Ambiental e Professor Doutor em Ciências Ambientais e Sustentabilidade na Amazônia da UEA

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