Se o Código Florestal, que tramita no Congresso Nacional, for aprovado sem modificações, já estará permitindo o desmatamento de mais cem milhões de hectares de floresta no território brasileiro, especialmente na Amazônia. Essa é a conclusão de um estudo, provavelmente o mais detalhado sobre o assunto, feito pelo professor Gerd Sparovek, da Esalq/USP (Escola Superior de Agricultura da Universidade de São Paulo) e apresentado ontem pela primeira vez, durante um workshop para jornalistas promovido em São Paulo por três das principais ONGs ligadas ao movimento ambiental no país: Greenpeace, WWF-Brasil e SOS Mata Atlântica.
Em meio a acirrada discussão que envolve a bancada ruralista do Congresso e os ambientalistas, o estudo de Sparovek conta com um levantamento minucioso sobre APPs (Áreas de Preservação Permanentes), Reservas Legais e Unidades de Conservação/Terras Indígenas, com um cuidado de separar cada caso e evitar redundâncias no cálculo, o que ainda não havia sido alcançado. A pesquisa, que será publicada na íntegra daqui a cerca de um mês em uma revista científica americana, poderá ser utilizada como forte argumento dos ambientalistas, que lutam para que o código não seja ainda mais flexibilizado. Do outro lado, os ruralistas contam com um estudo publicado pela Embrapa, assinado pelo pesquisador da instituição Evaristo Miranda, mostrando que a implementação de áreas de Reserva Legal de acordo com o que está previsto no Código inviabilizaria a agricultura brasileira.
Com o cruzamento de mais de cem tabelas, o professor da USP chegou a conclusão de que, se a pecuária fosse expandida em terras extensivas já utilizadas para pastagem, ela liberaria algo em torno de 60 milhões de hectares, dobrando o potencial da produção no país: “Não podemos continuar permitindo uma agropecuária que mantém um só boi em areas imensas. Mas os números agora mostram que, se a produtividade for ampliada, é possível liberar mais 60 milhões de hectares em áreas com alto potencial para pecuária”, explicou Spavorek.
Levantamento do biólogo e professor da USP, Jean Paul Metzger mostrou que os índices estabelecidos pelo Código também estão abaixo do que seria necessário para preservar a biodiversidade em todos os biomas, inclusive na Amazônia. Segundo a pesquisa, seria necessário manter 60% de cobertura vegetal nativa em cada bioma.
Código florestal vai permitir desmatamento
Redação
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