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“Estamos usando a tecnologia de forma errada”, diz Vivian Cristina

Estudo publicado na revista científica Nature mostrou que o comportamento de assistir à TV, usar o celular, navegar na Internet e enviar mensagens, tudo ao mesmo tempo, está associado a lapsos de atenção e esquecimentos. Pesquisa feita pelo Instituto Ipsos comprovou que sete em cada dez brasileiros possuem esse hábito. A multiplicidade de telas e informações pode resultar na síndrome do FOMO (Fear Of Missing Out), uma sensação de que algo é perdido ao se desconectar. Para saber mais sobre essa aparentemente nova síndrome, o Jornal do Commercio ouviu Vívian Cristina Rio Stella, doutora em Linguística pela Unicamp.

Jornal do Commercio: Por que o excesso, e a necessidade, de sermos bombardeados por informações está se tornando no FOMO?

Vívian Cristina: Estamos usando a tecnologia de forma errada. O celular oferece uma série de informações a todo momento, mas a tecnologia, apesar de ser uma coisa boa, precisa ser usada com sabedoria porque nosso cérebro não foi treinado para a hiperconectividade. Muitas vezes, as notificações do celular e dos grupos de WhatsApp atrapalham a produtividade e chegamos ao fim do dia sem concluir tudo que planejamos, por exemplo, e isso pode gerar alguns problemas.

JC: Que tipos de problemas podem resultar desses comportamentos?

VC: A hiperconectividade gera ansiedade, transtornos de humor e dispersão de atenção, além de causar tristeza quando a pessoa se compara com as outras. É como se nós esquecêssemos que cada um tem uma realidade diferente. Além disso, se estamos conectados e consumindo informações o tempo todo, o cérebro tem dificuldade para desligar ao final do dia. Então, a insônia é mais um problema desse excesso ou mau uso do celular. Isso acontece, por exemplo, porque nós temos o hábito de checar o aparelho mesmo quando já estamos na cama. Isso causa agitação mental e atrapalha o sono.

JC: A questão é que o nosso cérebro não aguenta tanta informação ao mesmo tempo?

VC: O nosso cérebro não foi treinado para isso. Quando pensamos em pessoas multitarefas, que dizem fazer muitas coisas ao mesmo tempo, alguns estudos mostram que, na verdade, é impossível fazer bem essas várias tarefas ao mesmo tempo, alguma coisa vai acabar ficando para trás. A boa etiqueta do uso das redes sociais exige uma análise de quando, como e porque usar. O que é positivo? Essa é uma avaliação que deve ser feita constantemente.

JC: A longo prazo, o cérebro pode sofrer algum tipo de dano?

VC: Algumas atividades demandam mais atenção e, por isso, exigem mais do nosso cérebro. Então, se a pessoa faz várias atividades ao mesmo tempo, ela vai ficando cansada e cada vez mais no mundo da lua. O excesso de informação faz com que nós não consigamos ter atenção plena em nada. Estamos em reunião, mas ligados no celular. Se estamos conversando e o celular acende, desviamos o olhar na hora. Isso corta o raciocínio. Nosso cérebro ainda não se adaptou a isso.

JC: O brasileiro é realmente o povo que mais fica ligado na Internet?

VC: O Brasil é, sem dúvidas, um dos países que mais acessam a Internet, principalmente quando falamos em redes sociais. Um estudo da empresa Comscore, que avalia o impacto da comunicação digital, mostrou que estamos atrás apenas do México no tempo de permanência nas mídias sociais. Outros estudos apontam que o principal meio de acesso, por aqui, é o celular. O fato é que o brasileiro adora novidades e encontrou na Internet uma forma de consumir e comunicar com rapidez e alcance. O problema é o excesso, que pode nos levar a desenvolver problemas como a síndrome do FOMO.

JC: O que é a síndrome do FOMO?

VC: FOMO é quando a pessoa tem medo de perder alguma coisa, então ela assiste televisão enquanto acessa as redes sociais. Existem estudos que apontam que nós desbloqueamos o celular em média oito vezes por hora. Essa síndrome causa uma sensação de que estamos deixando de ler ou ver a informação mais atualizada, o último furo. Vamos dormir e acordamos olhando o celular, lendo as notícias e as mensagens. Isso é um traço comportamental desse estilo de vida hiperconectado, em que consumimos muita informação o tempo todo.

JC: O que fazer, então? Se isolar do mundo?

VC: Cada um de nós tem que encontrar suas próprias estratégias para minimizar essa sensação de ansiedade, de estar perdendo alguma coisa. Isso é importante porque é impossível dar conta de tudo isso. Então, é importante entender o que é positivo e o que não é, ser curador de si mesmo. Isso significa selecionar quais páginas devemos seguir, acessar conteúdos que fazem bem e ter cuidado com as fake news, principalmente porque elas podem nos contaminar.

Foto/Destaque: Divulgação

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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