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Você sabe como identificar a piramutaba?

Pesquisadores desenvolveram um kit que torna possível identificar se filés e postas de piramutaba, espécie de bagre encontrado nos rios da Amazônia, vendidos em supermercados e frigoríficos, correspondem de fato à espécie indicada nas etiquetas dos produtos. O projeto denominado ‘Kits biotecnológicos para certificação molecular de filés de pescado comercializados no estado do Amazonas’, tem o apoio da Fapeam (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas) e conta com a atuação de onze profissionais do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) e do Ifam (Instituto Federal do Amazonas). De acordo com a coordenadora do estudo, a doutora em genética, Kyara Martins Formiga, do Inpa, o mecanismo desenvolvido para identificação é eficiente, rápido e seguro. Para isso, é necessário utilizar um pequeno pedaço do filé ou posta do peixe, e aplicar o teste, conforme explicou ao Jornal do Commercio.

Jornal do Commercio: Por que se faz necessário identificar se tal filé, ou posta, é realmente de piramutaba? A carne desse peixe é de baixa qualidade?

Kyara Formiga: A identificação molecular de espécies de peixes é necessária uma vez que, há algum tempo, se tem registros de ocorrências de troca de espécies devido a piramutaba ser um peixe valorizado principalmente no mercado nacional e internacional

JC: Por que a necessidade de agir de má fé por parte dos peixeiros já que a piramutaba é bem abundante do Solimões/Amazonas?

KF: Não sabemos ao certo onde e em que circunstâncias ocorre essa troca de espécies, mas existem vários registros de fraude de carnes de peixes de alto valor comercial por outras de menor valor. Cabe aos órgãos de fiscalização descobrir isso. 

Kyara, “troca de espécies ocorre devido a piramutaba ser um peixe valorizado”

JC: A carne da piramutaba é tão boa como a carne do dourado, do mapará ou de qualquer outro peixe liso, então, por que identificar somente ela?

KF: Os bagres em geral são saborosos, no entanto cada um tem seu sabor particular. A identificação da espécie é importante para assegurar a conformidade das informações contidas no rótulo (nome da espécie do peixe), de forma que o consumidor tenha a segurança de que não está comprando uma espécie de peixe e levando outro, o que tem acontecido particularmente com a piramutaba.

JC: O seu kit serve apenas para identificar a carne de piramutaba, ou também outras carnes como a de jacaré, que também é vendida como se fosse de pirarucu?

KF: Por enquanto, o kit desenvolvido por nosso grupo de pesquisa, coordenado pela Dra. Jacqueline Batista, também pesquisadora do Inpa, é específico para a piramutaba. Com ele só é possível identificar essa espécie.

JC: Explique, de forma didática, como funciona seu kit e se existem outros, do gênero, pelo Brasil ou pelo mundo?

KF: A metodologia utilizada para a identificação molecular de filés e postas de piramutaba é a qPCR (quantitative Polymerase Chain Reaction), em português, reação em cadeia da polimerase quantitativa. Esta metodologia é também uma das técnicas utilizadas para a detecção do vírus sars-cov-2, causador da covid-19. Com a qPCR é possível gerar várias cópias de um trecho de uma amostra de DNA que tenha uma ou mais mutações presente apenas na espécie alvo. Desta forma, é possível identificar se o DNA encontrado no material coletado corresponde, ou não, à espécie informada pelos fabricantes no rótulo.

JC: A senhora pensa em criar kits de identificação de outras espécies, e quais seriam essas espécies?  

KF: Sim, há a previsão de desenvolvermos novos kits de identificação molecular para outras espécies de peixes, mas por enquanto seguem em sigilo por se tratar de produção no âmbito de propriedade intelectual. 

JC: Seu kit já está sendo produzido? Onde pode ser adquirido?

KF: O kit encontra-se em fase final de validação, mas a ideia inicial não é oferecê-lo em si, mas o serviço de identificação pelo kit biotecnológico, uma vez que sua utilização requer recursos humanos especializados.

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A amazônica piramutaba

A piramutaba (Brachyplatystoma vaillantii) é um peixe de couro, de água doce, que pode alcançar até 1m de comprimento e chegar a 10 kg de peso. Possui, além dos barbilhões comuns, dois muito compridos na cabeça, e outros dois enormes, começando na cabeça e indo até a cauda, um de cada lado. Sua reprodução se dá no início da enchente, ao que tudo indica no alto Solimões, com os alevinos crescendo no estuário nas proximidades da Baía de Marajó. A piramutaba é a única espécie do gênero que forma grandes cardumes, podendo ser capturada aos milhares ao longo da calha do Solimões/Amazonas. É muito bem aceita tanto para o consumo local quanto para exportação devido seu sabor agradável e qualidade nutricional satisfatória.

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Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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