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Thiago Filgueiras: “temos que buscar acompanhamento”

Especialistas da USP apontam que o Brasil está entre os países que mais apresentam pessoas ansiosas (63%) e depressivas (59%). Esse quadro se agravou ainda mais entre 2020 e 2021 devido à pandemia.

Situações em que se deve acender o sinal de alerta são: tristeza e preocupações excessivas; cansaço sem motivo aparente; perda do prazer por atividades que antes gostava; desmotivação pelo trabalho; alterações de humor ou alucinações.

Em Manaus, em 2022, o serviço de urgência e emergência de saúde mental da Secretaria de Estado de Saúde atendeu cerca de nove mil pacientes psiquiátricos, com uma média de 25 pacientes/dia.

Visando alertar sobre as necessidades relacionadas à saúde mental dos seres humanos, o Instituto Janeiro Branco criou o movimento Janeiro Branco. O mês de janeiro foi escolhido porque representa ciclos que se fecham e ciclos que se abrem nas vidas de todos nós, já a cor branca representa folhas ou telas em branco sobre as quais podemos projetar, escrever ou desenhar expectativas, desejos, histórias ou mudanças com as quais sonhamos e às quais desejamos concretizar.

Para explicar sobre o que pode nos levar a ter problemas com a saúde mental, e o que fazer para evitar que cheguemos a isso, o Jornal do Commercio ouviu o psicólogo Thiago Filgueiras.

Jornal do Commercio: Como o sr. avalia a atual saúde mental do brasileiro?

Thiago Filgueiras: Nos últimos anos, as doenças mentais tiveram um aumento considerável. No pico da pandemia, muitas pessoas desenvolveram algum transtorno mental. Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), o Brasil é considerado o país mais ansioso do mundo e o quinto mais depressivo. Mesmo assim, parte dessas pessoas não possui assistência médica adequada quanto à saúde mental.

Movimento Janeiro Branco

JC: O que está levando tantos jovens a buscarem o suicídio? Será falta de perspectivas?

TF: Não somente a falta de perspectiva. Temos que levar em consideração vários aspectos, mas o principal é a estrutura/seio familiar desse jovem e principalmente como foi o seu desenvolvimento emocional e a sua infância. Por trás de muitos casos temos histórico de problemas psiquiátricos na família, com destaque para ansiedade e depressão, inclusive em gerações anteriores, e praticamente a metade dos adolescentes têm familiares que abusaram do uso de álcool.

JC: Antes quase não se via jovens querendo se suicidar. Seriam mais fortes emocionalmente do que os de hoje?

TF: Não digo serem mais fortes emocionalmente. As gerações anteriores foram ensinadas a reprimir-se em vez de expressar-se, mas as gerações mais novas fazem o contrário. Poderíamos citar algumas causas que levam ao aumento do suicídio no Brasil. Elas podem ser o impacto das redes sociais e o universo digital, influência de filmes e séries, falta de perspectiva no futuro, conflitos relacionados à orientação sexual e a ausência de tratamento nas nossas redes de saúde mental.

JC: Atualmente, para qualquer problema emocional, os médicos receitam remédios. Será que uma conversa franca não resolveria a situação?

TF: Existem casos que realmente o quadro clínico necessita de um acompanhamento medicamentoso, outros seriam satisfatoriamente tratados através da psicoterapia, levando em consideração que cada caso é um caso e o especialista tem a autonomia de avaliar e direcionar o melhor tratamento.

Thiago, “nos últimos anos, as doenças mentais tiveram um aumento considerável”

JC: Quais os principais problemas emocionais encontrados pelo sr. no seu dia a dia como psicólogo?

TF: Nos dias de hoje os casos de transtornos de ansiedade têm disparado de forma significativa. Não descartamos os demais transtornos como bipolaridade, transtorno depressivo e abuso de substâncias psicoativas.

JC: Não necessariamente precisamos ter problemas emocionais para cuidar de nossa saúde mental. É isso?

TF: Sim. Aconselho a qualquer pessoa a iniciar um acompanhamento psicoterápico, pois temos a crença que devemos buscar o trabalho do psicólogo quando estamos vivenciando um quadro de doença mental. Muito pelo contrário. Temos que buscar acompanhamento, até mesmo para estarmos ressignificando conteúdos que possam no futuro gerar prejuízos à nossa saúde mental.

JC: Que atitudes o sr. diria para as pessoas tomarem a fim de enfrentarem 2023 sem sobressaltos no emocional?

TF: Lembrando que ainda estamos vivenciando uma pandemia, uma transição política, presenciando a guerra na Ucrânia entre outros aspectos que podem gerar impacto no nosso humor e na nossa saúde mental. As atitudes que podemos tomar são cuidar de algumas áreas que causam impacto na nossa saúde mental como: buscar equilibrar a utilização das redes sociais, estarmos em contato com a natureza, visitar o médico regularmente e manter os exames em dia, fazer terapia e ter qualidade no sono. Dormir entre seis e oito horas por dia é essencial para melhorarmos nossa qualidade de vida.

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Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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