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Resíduos do óleo da andiroba e do buriti em painéis de madeira sustentáveis  

Pesquisa apoiada pela Fapeam (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas), e coordenada pela doutora em engenharia química, Virginia Giacon, da Ufam, está testando resíduos agroindustriais extraídos da árvore amazônica andiroba (Carapa guianensis) e do buriti (Mauritia flexuosa). O objetivo da pesquisa é viabilizar a utilização desses resíduos na confecção de painéis de madeira sustentáveis, que podem ser empregados na indústria de mobiliário.  

No total, 13 pesquisadores da Ufam e da Unesp (Universidade Estadual de São Paulo) integram e colaboram com o projeto ‘Reuso de resíduos agroindustriais amazônicos (andiroba e buriti) na produção de painéis multicamadas’.

Em entrevista ao Jornal do Commercio, Virginia Giacon deu maiores detalhes sobre a pesquisa.

Jornal do Commercio: Para que servem, ou servirão, os painéis de madeira que a sra. está pesquisando?

Virginia Giacon: A motivação para a produção desses painéis é avaliar o potencial de reaproveitamento de resíduos agroindustriais, provenientes da extração do óleo de buriti e da andiroba, visando aplicação tecnológica. Dependendo dos resultados obtidos, estes poderão ser aplicados na indústria moveleira.

JC: Esses painéis terão vários tamanhos e espessuras?

VG: Os testes para os painéis são realizados conforme padrões normativos, assim, para o presente projeto, espessura e dimensionamento são pré-determinados.

JC: Por que a sra. está usando especificamente os resíduos dos óleos da andiroba e do buriti?

VG: Bem, temos como objetivo principal a sustentabilidade visando o máximo aproveitamento e agregando valor aos resíduos, então, a melhor forma é utilizá-los, pois são um subproduto obtido após a obtenção do óleo.

JC: Onde a sra. consegue esses resíduos de óleos, hoje bastante procurados pela indústria de cosméticos?

VG: Atualmente os resíduos estão sendo doados pela ATAE (Associação dos Trabalhadores Agroextrativistas de Eirunepé). Esses resíduos são obtidos a partir do processo de extração do óleo dessas duas espécies de árvores, no caso, são um subproduto gerado durante e após a extração mecânica do óleo.

JC: Se houver uma grande demanda para esses painéis, haverá matéria-prima para produzi-los?

VG: Esses são produtos sazonais e há muitas comunidades e cooperativas no Estado produzindo óleos a partir do buriti e da andiroba, sendo que para cada litro de óleo produzido, são gerados aproximadamente três quilogramas de resíduo. O projeto visa primeiramente verificar a viabilidade da aplicação desse resíduo na produção de painéis e posteriormente será realizado um levantamento quantitativo de resíduos gerados pelas cooperativas do Estado.

JC: Por que a sra. não utiliza outras madeiras?

VG: O nosso grupo de pesquisa Pemac (Pesquisa em Materiais da Amazônia e Compósitos) já trabalhou, e trabalha, com madeiras de diferentes espécies, porém o foco dessas nossas pesquisas de agora é a aplicação de subprodutos gerados pela agroindústria visando agregar valor a esses materiais, especialmente resíduos alternativos presentes em várias espécies amazônicas.

JC: O que falta para sua pesquisa se materializar e esses painéis serem produzidos em escala industrial?

VG: Como se trata da aplicação de um novo resíduo, há necessidade da realização de testes normativos para que no futuro o painel produzido possa ser aplicado como substituto de painéis de madeira convencionais. Inicialmente, a aplicação do resíduo em painéis-teste será para avaliar as propriedades físico-mecânicas. Posteriormente serão avaliadas propriedades como durabilidade, resistência química, entre outras, visando a necessidade da implementação de um produto de qualidade e que possa ser duradouro.

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Andiroba

De porte médio a grande, a andiroba pode chegar aos 30 metros de altura e é considerada como uma espécie de uso integral, ou seja, da qual tudo se aproveita. Suas folhas viram artesanato, seu tronco é utilizado na construção de barcos e o fruto, além de alimentar, também dá origem ao valioso óleo de andiroba, um azeite dourado muito utilizado como remédio caseiro. Extraído de forma sustentável dos frutos recém-caídos da árvore amazônica, o óleo de andiroba possui propriedades antissépticas, anti-inflamatórias, inseticidas e dezenas de outros benefícios.

Buriti

O buriti é uma árvore de ampla distribuição no território nacional. Pode alcançar até 30 metros de altura e ter um caule com espessura de até 50 cm de diâmetro. A espécie habita terrenos alagáveis e brejos de várias formações, sendo encontrada com muita freqüência nas veredas, importante fitofisionomia do cerrado. O buriti floresce quase o ano inteiro, mas principalmente nos meses de abril a agosto. A produção de frutos é intensa: segundo dados da Embrapa, são produzidos de cinco a sete cachos por ano, cada um destes com 400 a 500 frutos. O óleo da polpa é usado para frituras.

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Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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