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Vida sexual começa mais cedo no Amazonas, aponta IBGE

Ao menos 45,8% dos estudantes do Amazonas, com 13 a 17 anos de idade, já tiveram relação sexual pelo menos uma vez. O Estado apresenta a maior fatia de crianças e adolescentes nessa condição, em todo o país. Manaus (43,2%) aparece no segundo lugar do ranking das cidades, perdendo apenas para Macapá (44,8%). A sexualização precoce não se traduz em uma proporção direta de gravidez indesejada. Apenas 7,6% das meninas amazonenses que tiveram relação sexual nessa faixa etária engravidaram, sendo que o percentual é ainda menor para aquelas que residiam na capital (4,4%).

O lado reverso – e perverso – é que os dados locais de violência sexual também seguem significativos, dado que 17,6% dos estudantes do Amazonas, e 16,7% dos de Manaus já foram manipulados, beijados ou tiveram partes de seus corpos expostas contra a sua vontade. Em paralelo, 9,4% dos amazonenses, e 8,7% dos manauenses nessa faixa etária  já foram ameaçados, intimidados ou obrigados a fazer sexo. O Estado e a cidade ficaram acima da média nacional (15,07% e 6,3%) em ambos os casos. É o que mostra a PeNSE (Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar) 2019, do IBGE.

O estudo mostra que, no grupo de crianças e adolescentes do Estado que relataram já ter tido alguma relação sexual, 40,7% disseram que começaram aos 13 anos de idade ou menos. Em Manaus, esse percentual foi de 38,8%. O IBGE-AM alerta, no texto de divulgação da pesquisa, que a precocidade da iniciação sexual pode estar relacionada com “práticas sexuais não seguras” e, consequentemente, à exposição aos riscos de contrair infecções sexualmente transmissíveis ou o vírus da HIV, assim como a chance de engravidar antes da hora.

Gravidez e violências

Os dados locais mostram que, apesar de seus “escolares” começarem mais cedo, Amazonas (7,6%) e Manaus (4,4%), aparecem com fatias menores de meninas que engravidaram “alguma vez na vida”, quando comparados à média nacional (7,9%). O texto de divulgação do IBGE-AM informa ainda que “80% dos estudantes de 13 a 17 anos do Estado receberam orientação na escola sobre prevenção de gravidez” – e 80,7% na capital.

Em sintonia, entre as crianças e adolescentes do Amazonas ouvidas pelo IBGE 64,9% usaram camisinha (preservativo) na primeira relação sexual, 38,1% optaram pela pílula anticoncepcional, 20,9% escolheram a pílula do dia seguinte, 17,9% meios injetáveis e 25,4% não sabiam, ou usaram outro método – que poderiam ser implantes, diafragmas, DIU, tabelinha ou coito interrompido. Em Manaus, os respectivos percentuais foram 66%, 40,4%, 21,4%, 14,9% e 23,4%.

O mesmo estudo aponta que 17,6% dos “escolares” do Amazonas, relataram já terem sido tocados, manipulados, beijados ou terem tido partes do corpo expostas por alguém, sem sua autorização – novamente com um número menor para Manaus (16,7%). No âmbito estadual, era mais comum a vítima ser do sexo feminino (22,5%), do que do gênero masculino (12,5%), ou estudar em escola pública (17,6%), em detrimento da particular (16,1%). O agressor era “namorado, namorada, ficante ou crush” (28,1%), amigo ou amiga (22,8%), pai, mãe, padrasto ou madrasta (9,2%), “outros familiares” (19,8%), desconhecidos (23,4%) ou “outros” (14,1%)

No que se refere aos escolares do Amazonas (9,4%) que afirmaram ter sofrido ameaças, intimidações ou terem sido obrigados a ter relações sexuais ou qualquer outro ato sexual contra a sua vontade, os casos eram muito mais frequentes entre as meninas (12,1%) do que entre os meninos (6,6%). As ocorrências também foram mais comuns em instituições de ensino públicas (9,6%) do que privadas (6,9%). Os desconhecidos (25,1%) foram os principais algozes, seguidos por namorado/namorada (23,3%) e “outros familiares” (21,4%), entre outros.

Camisinha e orientações

O supervisor de disseminação de informações do IBGE-AM, Adjalma Nogueira Jaques, reforçou à reportagem do Jornal do Commercio que a relação sexual entre os estudantes de 13 a 17 anos é muito mais frequente no Amazonas, do que no restante do país, tanto entre homens, quanto entre as mulheres. “A escola pública é responsável pela maior incidência. Estudos têm mostrado que as características sociais e demográficas constituem os principais fatores associados a iniciação sexual precoce, com prevalência para os adolescentes de famílias mais pobres”, destacou.

O pesquisador ressalta, entretanto, que a incidência de caso de gravidez indesejada entre as adolescentes do Amazonas e de Manaus é uma das mais baixas do país. “A razão é que elas estão entre as quatro do país, em que os parceiros usaram camisinha. Um outro aspecto é que os estudantes locais compõem o segundo maior grupo do país que recebe orientação na escola sobre a prevenção de gravidez, HIV/AIDS e Doenças Sexualmente Transmissíveis”, asseverou. 

“Cultura permissiva”

Em texto postado na Agência de Notícias IBGE, uma das analistas da PeNSE, Cristiane Soares, informa que o método de coleta de informação da pesquisa, por meio de um dispositivo móvel usado pelo próprio adolescente, garantiu o anonimato e a individualidade da vítima. “Conseguimos captar melhor as informações sobre casos de violência sexual que, normalmente, não chegam a ser reportados a nenhuma autoridade ou figura de autoridade, principalmente no caso de menores de 18 anos, que não sabem a quem recorrer”, frisou.

A pesquisadora lembra que é preciso “estar atento”, já que aquilo que muitas vezes pode ser caracterizado como “brincadeira”, é de fato importunação ou assédio sexual, que pode assumir contornos de estupro e levar as vítimas ao medo e ao abandono escolar. Acrescenta ainda que esse tipo de violência pode ter várias consequências para os jovens, podendo criar uma cultura permissiva quando tais atos não são vistos como sérios e passíveis de punição.

“Ao se pensar em políticas públicas para ajudar esses adolescentes, é preciso estar muito atento ao fato de que os agressores, grande parte das vezes, são pessoas do ambiente doméstico das vítimas, ou pessoas com quem elas têm relação de afetividade. Isso provoca um sentimento de desamparo e de não ter a quem recorrer. O adolescente sente que não tem com quem falar sobre o que está acontecendo com ele”, alertou, lembrando que a escuta deve vir com acolhimento, acompanhamento e orientação. “A culpabilização afeta social e emocionalmente essas pessoas”, concluiu.

Foto/Destaque: Divulgação

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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