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Vernissage ‘Jaraquiart’ homenageia o jaraqui em Manaus

Acontece hoje, às 9h, a vernissage do artista plástico Jandr Reis, denominada ‘Jaraquiart’, na galeria Manuel Alves, localizada no Palacete Provincial, organizada pela SEC (Secretaria de Estado da Cultura e Economia Criativa). A exposição fica aberta até dezembro e pelo nome já dá para perceber que o artista homenageia um dos peixes mais populares no Amazonas, e principalmente em Manaus, o incomparável Semaprochilodus taeniurus, ou simplesmente, jaraqui.

Com estes novos trabalhos, Jandr Reis comemora 30 anos de atividades nas artes plásticas e também homenageia o pai, que era pescador, no município de Óbidos/PA, e o artista americano Jean-Michel Basquiat.

O artista comemora 30 anos de arte e homenageia o pai, pescador – Foto: Divulgação

“Na realidade meu pai não era pescador. Ele era filho de um dos maiores fazendeiros da região. Quando casou com minha mãe, que era filha adotiva do prefeito de Óbidos, ele acabou com a herança dele e dela, e eu e meus irmãos nascemos na pobreza”, revelou. “Minha mãe havia recebido uma excelente educação, então sabia cozinhar, bordar, costurar e pintar. Dela recebi grande influência para a arte. Já meu pai era um boêmio, por isso se tornou pescador, porque ia pescar a hora que quisesse. Ele saía em geleiros e passava dias pescando, peixes lisos, principalmente”, contou.

“O jaraqui me marcou porque algumas vezes, quando eu tinha 13, 14 anos, o meu pai me levou para pescar junto com ele. Mas eu não gostava daquilo. Nunca gostei, porém, me impressionou bastante a piracema do jaraqui, que vi algumas vezes, os peixes pulando para dentro da canoa dos pescadores. Aquilo ficou marcado na minha mente”, disse.

Em ‘Jaraquiart’ o peixe aparece em todos os momentos, sob variadas formas, junto a canoas, cuias, cacuris, inclusive tendo até a cúpula do Teatro Amazonas como cenário.

Cacuri, entre outras peças de pesca compõem os quadros de Jandr Reis – Foto: Divulgação

Admiração por Basquiat   

‘Jaraquiart’ é uma coleção de obras criada sob a influência da paixão do artista pela arte do americano Jean-Michel Basquiat.

Basquiat tinha ascendência porto-riquenha por parte de mãe e haitiana por parte de pai. Desde cedo mostrou uma aptidão incomum para a arte e foi influenciado pela mãe, Matilde, a desenhar, pintar e a participar de atividades relacionadas ao mundo artístico. Ganhou popularidade, primeiro como grafiteiro, em Nova Iorque, cidade onde nasceu, depois como neo-expressionista. As pinturas de Basquiat ainda são influência para vários artistas e costumam atingir preços altos em leilões de arte. Ele morreu em 1988, com apenas 27 anos.

Jandr Reis ficou conhecendo o artista, na década de 1990, depois de assistir a um filme onde era contada a história dele, um garoto negro, pobre, marginalizado, do bairro do Brooklin, que vivia pixando e grafitando muros. Em busca de fama, Basquiat passou a seguir o já famoso artista Andy Warhol até que conseguiu falar com ele num restaurante e mostrar seu trabalho. Andy ajudou Basquiat e alavancou a carreira do rapaz, que ficou rico e famoso da noite para o dia.

“Comigo foi bem parecido. Quando cheguei a Manaus, com 17 anos, querendo vencer como artista, fui muito ajudado pelos artistas Jair Jacqmont e Sérgio Cardoso, depois Óscar Ramos. Eu e Óscar morávamos no Rio de Janeiro, mas viemos nos conhecer em Manaus, em 1996, quando ele foi a uma vernissage minha, e nos tornamos grandes amigos. Me ajudou muito, com o conhecimento que tinha. O texto curadorial do ‘Jaraquiart’ foi escrito por Óscar um mês antes de morrer. Sobre Basquiat, já fui a várias exposições dele, em países da Europa”, lembrou.

Comeu jaraqui…

Durante a vernissage, Jandr Reis irá finalizar a obra ‘Piracema de jaraca’, que acontecerá na própria galeria, onde público e convidados poderão observar o artista trabalhando.

“Meus amigos dizem existir outra pessoa que pinta em meu lugar, porque nunca me viram pintando. A concentração não será fácil. Corre o risco de não sair nada. Espero conseguir fazer alguma coisa com o que já tenho em mente. A obra está semi-pronta, com fundo, bem adiantada, então só terei que fazer o acabamento, os detalhes, preencher os espaços. É um jaraqui grande cheio de jaraquizinhos. A obra mede 2mx5m”, adiantou.

A ideia do ‘Jaraquiart’ surgiu em 2017, quando Jandr buscava algo diferente, que se aproximasse da obra Basquiat, mas que tivesse algo dele.

“Juntei orquídeas, com traços do Basquiat, e comecei a colocar peixes, o Teatro Amazonas, aí o Óscar disse para eu fazer algo mais universal. Então mesclei. Tirei mais o orquidário e foquei na pesca: canoa, cuia, remo, lamparina (muito presente na minha obra), cacuri, o tambaqui, o pirarucu, e uma agulha de pesca, de madeira. Tenho uma agulha de madeira, que era do pai, e eu a guardo como um amuleto”, revelou.

“Por que o jaraqui? É um dos peixes que mais gosto, jaraqui frito com baião de dois, farinha e pimenta. Quem não gosta de jaraqui?”, indagou.

Todos os quadros da ‘Jaraquiart’ estarão à venda, e Jandr já anunciou a próxima exposição, em novembro, na MS Casa.

Foto/Destaque: Divulgação

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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