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Varejo do Amazonas encolheu em março

O varejo amazonense encolheu em março, após o esboço de recuperação anterior. A queda das vendas foi de 3,2% na variação mensal, ocorrendo em um mês sem datas comemorativas, mas com abertura de novas lojas na capital. A retração foi de 6,8% em relação ao mesmo mês do ano passado, quando o setor ainda começava seu longo ciclo de reabertura pós-segunda onda. Em ambos os casos, o Estado registrou os piores números do país, em sentido inverso ao da média nacional (+1% e +4%), que cresceu em quase todas as atividades, com destaque para material de escritório, informática e comunicação. 

O comércio do Amazonas segue positivo nos acumulados do ano (+13,9%) e dos 12 meses (+3,2%). Em sintonia com a piora dos níveis de endividamento e inadimplência, e com a alta dos juros bancários, o resultado foi pior para subsetores dependentes de crédito, como veículos e material de construção. Além de também contribuir para inibir as vendas, a inflação voltou a aumentar o descolamento entre a receita nominal e o volume efetivamente comercializado pelos lojistas do Amazonas. É o que revela a PMC (Pesquisa Mensal do Comércio), divulgada pelo IBGE, nesta terça (10).

A variação mensal do Amazonas (-3,2%) foi a pior entre todas as unidades federativas do país, ficando logo atrás de Distrito Federal (-1,6%) e da Bahia (-1,2%). O pódio foi dividido por Goiás (+3%), Roraima (+2,8%) e Pernambuco (+2,6%). O recuo experimentado pelo varejo local em relação a março de 2021 (-6,8%) também foi o maior do país. O inverso se deu no resultado do trimestre (+13,9%), situando o Estado na primeira colocação, logo à frente dos vizinhos Roraima (+12,2%) e Pará (+9,4%).

Receita e crédito

Vitaminada novamente pela inflação, a receita nominal do setor foi melhor em todas as comparações. Na comparação com fevereiro de 2022, houve alta de 0,5%, em performance mais fraca que a de fevereiro (+3,1%). Em relação a março de 2021, a elevação chegou a 2,5%, possibilitando que os acumulados do ano (+21%) e dos últimos 12 meses (+14,7%) também seguissem no azul e na casa dos dois dígitos. O Amazonas superou a média nacional (+1,5%, +10,6%, +10,6% e +14%) em todas as comparações.  

Em todo o Brasil, o varejo foi alavancado por seis das oito atividades investigadas pelo IBGE, na variação mensal. As melhores influências vieram de equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (+13,9%) e artigos de uso pessoal e doméstico (+3,4%). Livros, jornais, revistas e papelaria (+4,7%), combustíveis e lubrificantes (+0,4%), móveis e eletrodomésticos (+0,2%), tecidos, vestuário e calçados (+0,1%) também subiram. Os dados negativos vieram de hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,2%) e de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (-5,9%).

Em razão do tamanho da amostragem, o IBGE ainda não segmenta o desempenho do comércio no Amazonas. Sabe-se apenas que o varejo ampliado local, que inclui veículos e material de construção, foi pior. Entre fevereiro e março, o recuo foi de 2%, sendo que o tombo foi ainda maior ante março de 2021 (-9,6%). No trimestre (+10,7%), ficou abaixo dos dados globais do Estado, o que indica vendas menores para os segmentos. Em 12 meses (+3,2%), o incremento foi rigorosamente igual ao do setor, sinalizando estagnação.

“Redução no consumo”

O supervisor de disseminação de informações do IBGE-AM, Adjalma Nogueira Jaques, assinalou à reportagem do Jornal do Commercio que o varejo amazonense não tem conseguido deslanchar em 2022, tendo registrado duas quedas mensais no ano e apenas uma subida. O pesquisador lembra que o período analisado é sazonalmente desfavorável, mas pontua que o setor está sendo fortemente prejudicado pela conjuntura macroeconômica negativa de inflação e juros em alta, e seus impactos no emprego, na renda e no endividamento das famílias. 

“Mesmo na comparação com 2021, que foi ano de segunda onda de pandemia, o indicador teve queda em março. É certo que essa redução nas vendas é consequência da redução no consumo. Compromissos no início do ano, inflação alta e perda do poder de compra, podem ser fatores que estão levando o consumidor a diminuir suas aquisições. Mesmo a média móvel indica que o cenário está negativo, mostrando que possivelmente não haverá recuperação imediata”, frisou.

“Alta no combustível”

O presidente da assembleia geral da ACA (Associação Comercial do Estado do Amazonas), Ataliba David Antonio Filho, disse à reportagem do Jornal do Commercio que os números do setor  foram influenciados pela alta dos preços dos combustíveis e seus impactos no custo do frete da mercadoria e na inflação em geral, fazendo o consumidor agir de “maneira comedida”. “Mas, a segunda data mais importante do calendário do comércio varejista, que é o Dia das Mães, foi bastante concorrida. Isso aumenta as expectativas”, ressaltou.

Indagado a respeito do fato de que o mês em questão foi marcado também por novos investimentos para o setor, o dirigente observou que estes tendem a produzir efeitos apenas no médio e longo prazo. “As novas lojas gerarão mais empregos e renda para o comércio. Mas, só vamos ver isso realmente, quando elas estiverem em plena atividade, principalmente dentro do calendário varejista, que ainda tem pela frente o Dia dos Namorados, o Dia dos Pais, o Dia das Crianças, a Black Friday e o Natal”, explicou.

“Volta à normalidade”

Já o presidente da CDL-Manaus (Câmara dos Dirigentes Lojistas de Manaus), Ralph Assayag, questionou os dados. O dirigente considera que comparar o período atual com os meses ainda impactados pela segunda onda de Covid-19 é “covardia”, e acrescenta que “todos sabiam” que os poucos segmentos que estavam “bombando” na época retornariam à “normalidade”, tão logo a pandemia arrefecesse. Da mesma forma, destaca que as vendas estão melhores, quando comparadas a 2019.  

“No ano passado estávamos com lojas fechadas, muitas dificuldades e bastante gente desempregada. Como é que pode a gente não ter conseguido superar isso neste ano? Tudo bem que, na parte de material de construção, houve um pico muito alto na base de comparação, porque as pessoas não podiam sair e todo mundo queria reformar sua casa. A mesma coisa vale para os supermercados. Mas, no cômputo geral, as vendas não se comparam e são, disparadamente, muito melhores. Tivemos um número maior de lojas abertas e arrecadação, também”, justificou.  

Questionado sobre os próximos meses, Assayag disse que o panorama segue volátil demais para permitir projeções. “Tudo pode acontecer. Acabou de subir o valor do diesel e vai aumentar muito o nosso frete, atingindo violentamente o bolso de todo mundo. E ainda tem a situação do IPI, que não se sabe onde vai chegar. O impacto é muito forte e tem muito ataque na economia, em uma situação que muda da noite para o dia. Prefiro ficar atento, tentando trabalhar o dia a dia, até o fim de cada mês”, encerrou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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