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“Tudo é uma possibilidade de venda”

Todo negócio parte de uma necessidade não atendida somada a uma ação para atendê-la. Pelo menos é assim que as grandes ideias surgem. Você identificou a demanda de algum produto ou serviço, e percebeu que essa carência está afetando um número significativo de pessoas. Você começa a enxergar as possibilidades de rentabilizar essa necessidade, querer ingressar nesse mercado e criar uma identidade mercantil, já que você já pensou nos clientes em potencial. Agora que isso foi dito, vamos pensar num exemplo. Acredito que você bem sabe que o Brasil é sinônimo de clima tropical. Aquele calor típico das principais regiões do país, só são supridos quando a gente se joga de cabeça em uma piscina ou até mesmo nas famosas e belas praias que a gente encontra por aqui. Logo, não é de se estranhar o sucesso que a moda praia faz não apenas no Brasil, mas no mundo.  

Para se ter uma noção, de acordo com a Associação Brasileira de Indústria Têxtil (ABIT), o setor consome cerca de US$ 1,5 bilhão por ano no mercado interno. Em 2018, o varejo somou cerca de R$ 12,7 bilhões em 2018, de acordo com dados do IEMI de 2019, principal fonte de informações sobre o mercado têxtil e de vestuário no Brasil. Além disso, há uma forte presença de micro e pequenas empresas no setor de confecção, que possuem como target, a exportação para países considerados referências mundiais da moda, como França, Itália, Japão e Estados Unidos. Bom, se tratando de Manaus, uma cidade que vive no verão não é de se espantar que seja um mercado cada vez mais promissor. Quando a gente fala sobre começar um negócio existem algumas coisas que ajudam a mais mercado e ter um desempenho melhor que empresas já bem estruturadas, num menor espaço de tempo. É o que chamamos de empresas super nichadas.  


Quando você cria uma empresa, focada em atender um público específico, você passa a conhecer muito bem esta persona e tem maior potencial de se tornar referência nesse ramo. Você já parou para pensar no tamanho do mercado de moda praia no Brasil? Imagina começar agora um negócio, saindo da pandemia e competindo com diversas marcas que já estão aí há anos no mercado. Seria uma briga de tubarões enquanto você é apenas um peixinho no mar. Nesses casos, o ideal é buscar o nicho do nicho. Quer um exemplo? O mercado moda e praia tem uma super variedade de produtos, e se você decidisse vender apenas biquinis e dentro desse nicho de biquini você decidisse trabalhar exclusivamente na confecção de biquini para mulheres transsexuais? 


É o caso da minha convidada especial, da coluna de hoje, a designer de biquinis e calcinhas, dona da Louise Pantie, Louise Costa. 

Louise Costa é uma mulher Trans que desde que começou a assumir-se como tal encontrou cada vez mais dificuldade em conseguir emprego. Sua única certeza era a vontade de trabalhar com vendas na internet. E foi exatamente na internet que encontrou outras manas trans que serviram de inspiração para que ingressasse de vez no empreendedorismo. Com uma habilidade certeira em ouvir a comunidade a qual faz parte, identificou a carência no mercado de Manaus para biquinis feitos exclusivamente para trans. E assim criou a Louise Pantie.  

Importante mencionar que o T, Travestis, Transexuais e Transgêneros, é uma das letras que compõe o LGBTQI+, esse mercado movimentou US$ 3,6 trilhões no mundo em 2018, segundo estudo da LGBT Capital, consultoria britânica especializada em pesquisas sobre diversidade, que reúne dados de 31 países. O Brasil é o oitavo do ranking, à frente de nações como Itália, Holanda, Espanha e Canadá. Um mercado imenso para ser explorado. 

Qual sua formação e como chegou a sua ideia de negócio?  

Eu tenho o ensino fundamental incompleto. A ideia surgiu da minha necessidade como mulher trans e consumidora dos biquínis e calcinhas de aquendar, (expressão LGBTI+ que significa esconder, ocultar). Manaus fica logisticamente longe de outros estados, então eu gastava mais com frete do que com as próprias calcinhas. Pensei e conclui, que a gente precisava ter alguém que suprisse a necessidade das meninas trans do norte.  

Existem dois tipos muito comuns de empreendedores, o empreendedor por necessidade e o por oportunidade. Aqui temos claramente a figura do empreendedor por necessidade. Seu ponto principal é resolver um problema agora, seja a falta de emprego, de renda ou até a dificuldade de se recolocar no mercado de trabalho. Este perfil, em geral, não possui muita experiência em negócio. Porém este pequeno probleminha de formação, acaba sendo substituído pela forte necessidade de fazer dar certo.  

O que te motivou a tirar a ideia do papel e como você fez para implementá-la no mercado?  

A pandemia ao mesmo tempo que veio como um balde de água fria, também me serviu como motivação para tirar a ideia do papel. Antes da pandemia eu já tinha projetos de trabalhar com confecções, mas desisti por conta de tudo que estava acontecendo. Esse ano eu já não podia mais esperar, foi quando lembrei da ideia das calcinhas e biquínis. Para colocar a ideia no mercado eu estudei um pouco sobre marketing, na internet mesmo, fiz alguns cursos sobre empreendedorismo no Sebrae, para ter um pouquinho de noção, mesmo porque era tudo muito novo para mim, além de criar coragem porque eu estava com muito medo de dar errado. 

Com foco no estímulo ao empreendedorismo e no desenvolvimento sustentável dos pequenos negócios, o Sebrae atua em: educação empreendedora; capacitação dos empreendedores e empresários; articulação de políticas públicas que criem um ambiente legal mais favorável; acesso a novos mercados; acesso à tecnologia e inovação; orientação para o acesso aos serviços financeiros. Agende um atendimento e saiba mais sobre negócios no Sebrae. 

Quais as dificuldades que você encontra no ramo em que atua?  

Não tenho muito do que reclamar do meu ramo, felizmente tenho clientes maravilhosas, que fazem parte da minha comunidade LGBTI+, então recebo muito apoio de todos. Acredito que a principal dificuldade mesmo é encontrar bons fornecedores de tecidos, acessórios pra roupas de praias e essas coisas da parte da confecção.  


O que mais te motiva a acordar todo dia e fazer o que fazes?  

É saber que eu estou feliz e realizada fazendo o que faço agora. Não é aquele trabalho chato que a gente acorda pensando na hora de acabar. Sem contar nas experiências que a loja me dá oportunidade de ter, de conhecer outras histórias, outras vivências, isso é muito gratificante.  

O que foi mais difícil dentro da empresa, neste período da pandemia?  

A minha empresa começou durante a pandemia, então acredito que as minhas maiores dificuldades foram como empreendedora iniciante, não exatamente por questões criadas pela pandemia, apesar de algumas dificuldades não posso reclamar, mas se o começo já foi bom, acredito que vai ser ainda melhor com a liberação do acesso às praias e clubes. 

Como você identifica oportunidades? Está buscando se manter atualizada? Você estuda sobre o seu negócio?  

Eu fico muito atenta no que as clientes pedem e com as ideias que elas trazem. Para mim tudo é uma possível oportunidade de venda. Acho que é muito importante estudar o nosso negócio, hoje em dia tudo se atualiza muito rápido e a gente não pode ficar para trás, então sempre procuro buscar novos tecidos, estampas e cores diferentonas, e o mais importante de tudo, incluir tamanhos maiores que os tradicionais, é preciso deixar todos os corpos felizes. 

Pesquisas de satisfação ou até aqueles formulários de feedbacks dos clientes são extremamente importantes para descobrir se você está no lugar certo. É muito comum empreendedores fazerem uma profunda pesquisa de mercado para iniciar uma empresa, mas depois que já estão abertos se mantem funcionando com a mesma ideia e os mesmos dados de quando começaram. Atualize-se, conheça e reconheça seu cliente estipulando um prazo para o recontato. Empresas de sucesso são aquelas que conhecem não apenas seu mercado, mas pincipalmente quem consome o seu produto. 

Para você, o que é uma empresa de sucesso?  

Acredito que seja uma empresa não só consolidada, mas humanizada também, que se preocupa com questões sociais, e respeita também acima de tudo os seus clientes. Eu digo que a Louise Pantie será um sucesso quando estivermos conhecidas entre todas as manas trans do norte, quero que elas deixem de pagar fretes tão caros e tenham oportunidade de ter suas calcinhas e biquínis com mais facilidade. 

Se você tivesse um recado para o seu eu do passado o que você diria?  

Menina, deixa esse medo de lado, acredita em ti. Tô te prometendo que vai dar tudo certo e tu vai começar a enxergar milhões de possibilidades. 

Que recado você daria para aqueles que querem empreender, mas ainda não começaram? 

Eu acho que antes de começar um negócio, a gente precisa ter certeza que é aquilo que a gente quer fazer e que vai nos fazer feliz, depois disso, estude, seja no YouTube, seja com os cursos de graça que a Sebrae oferece. Quando a gente começa com um pouquinho de noção do que estamos fazendo, tem mais chances de dar certo. Às vezes é difícil, dias sem vendas, sem dinheiro entrando, mas não desista, toda pequena empresa começa assim, e busque melhorar sempre. 

A Louise Pantie é uma loja online de roupa íntima pensada exclusivamente para mulheres trans e travestis, feita justamente pela carência que o público T sentia no Amazonas. Fabricação própria e apesar de ainda tão recente, buscamos inovar a cada dia. Acesse @louisepantie e venha conhecer melhor esse projeto de inclusão. 

Foto/Destaque: Divulgação

Raquel Omena

é especialista em negócios digitais, editora da coluna Mais Empresárias
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