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Transporte coletivo: calcanhar de Aquiles no Governo de Arthur

Transporte coletivo: calcanhar de Aquiles no Governo de Arthur

Num desses dias em que o prefeito de Manaus estava inaugurando e fiscalizando obras, por toda a Cidade Manaus, nós aproveitamos uma pausa nessa verdadeira maratona, tempo do prefeito chupar um picolé, para conversar com ele sobre o transporte coletivo da Cidade de Manaus.

Mesmo transformando a cidade num canteiro de obras, o prefeito muda de semblante quando o assunto é transporte coletivo. A mudança se justifica porque foi esse o setor que mais foi criticado pela população. E de acordo com o próprio prefeito, o povo tem razão. “Esse foi sempre o meu calcanhar de Aquiles”, reconhece o mandatário.

JC – Prefeito, qual a avaliação que o senhor faz do atual sistema coletivo da Cidade de Manaus

Arthur Neto (AN) – Na minha avaliação o transporte coletivo de Manaus não teve o mesmo desempenho, na prestação de serviço, de outros setores, por vários motivos. No início do meu governo, os empresários tinham comprado ônibus com o preço em dólar. Dinheiro que foi emprestado de um banco e que ao meu ver a casa cambial foi incompetente ou usou de má fé para com os empresários. Disse aos representantes do banco que eles teriam muitas dificuldades para receber o que emprestaram.  Essa reunião aconteceu com o Banco Bamerindus Holandês e com o próprio embaixador.

JC – Qual a relação dessa dívida com a qualidade do serviço?

NA – Esse começo, com essa dívida quase impagável, considero que  fez com que o sistema não tivesse o desempenho a contento. Vou mais além e digo que a crise financeira que se instalou no Brasil, também atingiu o sistema, pois, a renovação da frota foi atingida em cheio. Sem ônibus novos e os empresários inadimplentes, os carros começaram a quebrar com o povo dentro, ou seja, rodando. Para um gestor essa situação era a mais difícil possível, pois comecei a me dar conta de que a solução desses problemas não dependia exclusivamente de mim. Assim como para a população a sensação de caos se instalava, para mim, a condição de impotente para apresentar uma solução viável e rápida foi me magoando ao ponto de esculachar os empresários e até realizar a intervenção no sistema. Diante desse quadro se via, perfeitamente, o tamanho do problema, mas não se enxergava uma solução imediata. Com o passar do tempo foi se delineando o perfil das empresas.  Hoje, nós temos três empresas bem  administradas, duas pessimamente administradas e restante tentando chegar ao regular.

JC – A  Intervenção era a solução? Resolveu alguma coisa?

NA – Penso que a intervenção ´serviu para um recado muito duro aos empresários. Isso ´porque antes nós tínhamos um sério problema com o Sindicato dos Rodoviários. A todo momento, uma greve era anunciada por causa do não pagamento de salários dos trabalhadores. Era hora extra, era vale-alimentação e algumas vezes até condições de trabalho, pois os ônibus velhos além de se tornarem uma ameaça para os usuários, era também uma perigo para os trabalhadores. A intervenção focou nesse problema maior com os rodoviários. Com parte dos recursos arrecadados ficando com o a prefeitura, por meio do interventor essas questões diminuíram bastante.

JC – Então, com a intervenção se equilibrou de certa forma o sistema?

NA – Acredito que ao intervir também ficamos mais próximos da realidade do sistema. Assim como punimos também reconhecemos a necessidade da continuidade do subsídio. Diante desse quadro a administração pública  tomou algumas medidas. Entre elas a de manter o subsídio para não ter aumento na tarifa. Mesmo assim reconheço que essas greves dos rodoviários que estouraram ou ficavam no campo das ameaças, além do socorro dado aos emrpesários pela prefeitura, foi uma tônica do meu governo.  Também traço um  outro  paralelo. De certa forma me sentia um quanto tanto engando pelo  empresários.  Lembro das várias promessas não cumpridas por parte deles. Me prometeram trezentos novos ônibus, por isso aumentei a tarifa, mas não efetivaram completamente a promessa. Trouxeram alguns, dizem que tem outros pra chegar, enfim, não sei se é verdade ou será mais uma das enrolações dos empresários.  A verdade é que até o Sistema BRT que me foi vendido como a solução de todos os problemas não foi pera frente. Passei a missão ao meu vice prefeito na época,  o hoje eleito vice Marcos Rota. Não sei o que aconteceu para as coisas não seguirem em frente. Talvez, ele agora retome o projeto e o implante definitivamente. Como eu quero o bem de Manaus, espero sinceramente que dê certo. Mas aviso: Esse projeto de implantação do BRT não é para somente um governo. Precisa de muitas parcerias e algum tempo de no mínimo dois mandatos.

JC – Qual a informação oficial que o senhor tem do lado dos empresários, eles tiveram mesmo dificuldades, principalmente financeiras?

NA – Alguns representantes deles declararam, por outro lado, que a chegada dos Aplicativos, a regularização do mototaxistas, a indefinição dos Alternativos e Executivos, provocaram uma fuga dos passageiros do ônibus convencional. Uma perda de quase quarenta por cento no número de usuários também foi enfrentada pelo empresários, durante esse tempo.  Para atenuar essa dificuldades deles instalei   a “Faixa Azul”. Com os ônibus trafegando por corredores exclusivos, as viagens ficaram mais rápidas. Ganhou o usuário com a diminuição do tempo de viagem e ganhou o  empresário que podia realizar mais viagens.

JC – Prefeito, falar sobre o Transporte Coletivo de Manaus, rende um livro. Mas, para encerrarmos esse bate-papo, fale sobre o pagamento do Décimo terceiro para os trabalhadores?

AN – Por isso, fiz questão de afirmar que nessa reta final do meu mandato, sentirei saudades dos Rodoviários , dos empresários não. Eu gostaria de dizer a eles que novamente entramos em campo para evitar mais uma paralisação nessas época natalina. Quero que eles saibam que a prefeitura de Manaus está pagando 50 por cento do décimo terceiro salário dos rodoviários. Estamos gastando algo em torno de quatro milhões e meio de reais. Como uma pessoa que quer o bem da cidade e de quem mora nela, não podia deixar prosperar  esse movimento grevista. A população seria atingida em cheio, numa época tão especial.

JC – Apesar de tudo, o senhor se sente com o dever cumprido?

AN – Sim, afinal, eu faço uma pergunta. Será que um prefeito que consegue grande realizações na Educação, na Saúde, um prefeito que está deixando um legado de obras que vão beneficiar  toda uma população, quer seja na mobilidade urbana com os complexos viários do Manoa e da Constantino Nery, sem falar nas antigas paradas transformadas em estações  de transferência de passageiros  e um grande terminal, o T6 ou ainda as conquistas no meio ambiente ou até mesmo no esporte e no lazer, não gostaria de deixar um sistema de transporte melhor para o povo? Eu mesmo respondo. Sim eu gostaria. Não é possível que um gestor que deixa uma prefeitura saneada com seus recursos previdenciários, ganhando vários prêmios, uma prefeitura que conseguiu o resgate de prédios do centro histórico, além de  praticamente, resolver um problema de anos e anos que sempre foi o sistema viário do Distrito Industrial com o asfaltamento das ruas e a implantação de um paisagismo que nos enche de orgulho, iria querer que só o sistema de transporte não fosse o melhor? Por isso, e várias outras obras importantes que eu deixo na cidade, repito, saio de cabeça erguida e com o dever cumprido.

Caubi Cerquinho

é jornalista, editor da coluna Transporte, Trânsito e Cia
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