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Transformando arte em decoração

É na hora do aperto que surgem algumas das importantes decisões na vida. É o caso do artista plástico parintinense Alessandro Oliveira. Sem Festival Folclórico, Carnaval de São Paulo e de Manaus há dois anos, o artista nunca havia se visto numa situação tão ruim em termos de falta de dinheiro, como nesses dois últimos anos. Vivendo com o auxílio emergencial do Governo Federal, e recebendo doação de ranchos, Alessandro resolveu levantar a cabeça, se reinventando para além do Festival e do Carnaval. Passou a produzir cocares emoldurados, para decoração. E não é que a ideia vem dando certo?

Alessandro começou a circular pelos galpões dos bois quando estava com 16 anos, como faz a maioria dos adolescentes da ilha Tupinambarana, em busca de ajudar os artistas e ganhar algum dinheiro na época do Festival.

“Comecei no galpão do Caprichoso, ajudando o Helerson Maia, que já era um artista consagrado. Depois passei a trabalhar com o Zilkison Reis, quando havia me tornado mais do que um ajudante, pois já dominava a arte das fantasias, tanto que ele me levou para ajudá-lo a preparar o Carnaval da escola de samba Gaviões da Fiel, em São Paulo. Zilkison foi o primeiro parintinense a trabalhar em escolas de samba de São Paulo. Quando me levou, há doze anos, ele já estava há bem mais tempo lá”, contou.

Alessandro Oliveira e cocares para o mundo ver
Foto: Divulgação

De 2016 a 2018, Alessandro trabalhou na escola de samba Mocidade Alegre, e desde 2016 é artista do Garantido.

“O pessoal de São Paulo gosta dos artistas parintinenses pela criatividade e a capacidade que têm de utilizar matéria-prima mais barata fazendo com que tenham o mesmo efeito de beleza de uma matéria-prima cara o que gera uma boa economia para a escola”, destacou.

Cocares como decoração

Alessandro começou no galpão do Caprichoso, aos 16 anos
Foto: Divulgação

Como boa parte dos parintinenses, Alessandro sempre teve facilidade para criar e fazer arte, por isso evoluiu nos bois e escolas de samba tanto de São Paulo quanto de Manaus.

“Eu não sou muito bom no desenho, então faço rascunhos das fantasias, que repasso para os arte-finalistas. Como nossos temas são sempre amazônicos, eu vejo os animais, as plantas, as tribos indígenas, e crio em cima disso”, falou.

Atualmente, no Garantido, Alessandro é o responsável pelas fantasias da cunhã-poranga, do pajé, da porta estandarte e da rainha do folclore. Até 2019 ele ainda era o responsável por criar as fantasias da tribo especial, que concorre na competição, mas desde então a diretoria do bumbá pediu que ele se dedicasse apenas às fantasias dos quatro itens. Mas a pandemia fez parar tudo.

No Garantido, Alessandro é o responsável pelas fantasias de quatro itens
Foto: Divulgação

“Essa situação de parar e fechar tudo, foi terrível para os artistas de Parintins. Imagina dezenas de artistas, assistentes e demais funcionários sem ter trabalho nos bois, e nas escolas de samba de São Paulo, Rio e Manaus há dois anos. Muitos, como eu, conseguiram se reinventar, mas a maioria continua vivendo com a ajuda do auxílio emergencial e de ranchos doados. Só de auxiliares, eu tenho sete, que estão sem ter o que fazer, em Parintins”, lamentou.

Mas quando menos Alessandro esperava, em junho do ano passado, num momento em que se encontrava triste pela situação de dificuldades, a sorte bateu na sua porta. Uma arquiteta, amiga dele, ligou e disse que estava fazendo a decoração da casa de uma pessoa e precisava de objetos indígenas para usar na decoração.

Na casa da Anita

“Foi então que eu tive a ideia de emoldurar algumas peças: dois cocares, uma saia de pajé, brincos indígenas, colares e arco e flecha. Minha amiga arquiteta, fazendo sigilo, disse apenas que eles estariam na parede da casa de uma pessoa famosa no Brasil. Depois de alguns dias ela me mandou as fotos das peças nas paredes da casa da Anita”, recordou.

Em algumas lives da cantora, as peças confeccionadas por Alessandro aparecem ao fundo.

Nem demorou para acender a luz da criatividade de Alessandro. Ele produziu cinco cocares, divulgou nas suas redes sociais e vendeu todos. Participou do edital do prêmio Feliciano Lana, da Secretaria de Estado de Cultura, através da Lei Aldir Blanc, e foi contemplado. Produziu vários cocares e os colocou à venda no mercado municipal de Parintins, e novamente o estoque acabou.

“Alguns foram vendidos no mercado mesmo, outros as pessoas viram nas minhas redes sociais e pediram, e foram vendendo. Vendi até para o Rio e São Paulo”, disse.

De Parintins para Manaus. Desde o dia 7 passado, Alessandro está expondo suas peças na Galeria +, no Shopping do Artesanato e Economia Solidária, na av. Djalma Batista, entre os shoppings Amazonas e Manaus Plaza.

“Comecei com 20 peças, já venderam cinco. Espero vender as restantes nos próximos dias”, avisou.

Alessandro lembrou que as penas dos cocares são sintéticas e de faisão real, legalmente comercializadas.  

“Espero que as pessoas ajudem, não só adquirindo o meu trabalho, mas os de outros artistas parintinenses, que estão produzindo os mais variados tipos de peças e quadros para venda”, pediu.

Quem quiser conhecer o trabalho do artista, pode acessar o Instagram: @aleoliveira.arts

Foto/Destaque: Divulgação

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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