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Trabalho remoto desacelera no Norte

Trabalho remoto desacelera no Norte

Diferentemente do início da pandemia onde a política de home office concentrou o maior número de trabalhadores, o percentual de pessoas trabalhando de forma remota no Norte do país segue sendo o mais baixo – além disso, continua em queda registrando apenas 3%. O total de pessoas em trabalho remoto no Brasil caiu de 8,7 milhões em junho para 8,4 milhões em julho. Desse total, 7,06 milhões, o equivalente a 84,1%, são trabalhadores formais. Os dados fazem parte da pesquisa ‘O trabalho remoto nos setores formal e informal na pandemia’, divulgados pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) nesta segunda-feira (21).

As mulheres estão entre a maioria que adotou ao sistema 55,7%, pessoas de cor brancas 64,5% e com idade de 30 a 39 anos 32,1%. Além disso, mais de 70% das pessoas em home office possuem nível superior completo, mostrando um predomínio de profissionais com maior qualificação: o grupo de Profissionais das ciências e intelectuais, equivale a 51% de todos os trabalhadores em forma remota.

O comportamento vai na direção da realidade do mercado hoje. Com a retomada das atividades essenciais, naturalmente, a velocidade da adesão à modalidade, retrai.  A contadora e gerente de RH, Elaine Cristina, afirma que há dois meses retornou os serviços presenciais. Mas declara que aprovou o regime de trabalho, e na percepção dela, tende a crescer e deve ser adotado em definitivo por grande parte das empresas. “Eu consegui trabalhar bem melhor em home office. O meu nível de produtividade foi bem satisfatório. É uma experiência de muito aprendizado, reinvenção e de mudanças. Se eu puder optar entre as duas modalidades não tenho dúvidas que eu prefiro o trabalho remoto”. 

O gerente administrativo Diogo Nunes, também defende a política de home office. Ele está entre os trabalhadores que retornaram às atividades presenciais. Para ele, o fato da empresa incorporar o trabalho ao novo modelo trouxe um ganho não só para ele, mas para toda equipe. “As transformações foram desafiadoras. Trouxeram resultados positivos. Foi um cenário de muita integração e muito mais comprometimento. Sou totalmente favorável a esse novo modelo. É evidente que estamos num campo que é definitivo”, considera.

Modelo híbrido

Segundo Daniela Garcia, Diretora de Operações e Associações do ICCB (Instituto Capitalismo Consciente Brasil), com a flexibilização do isolamento social, algumas empresas estão reabrindo e voltando ao modelo de trabalho “físico”, principalmente aquelas ligadas ao setor de serviços, alimentação e vestuário. A diminuição de trabalhadores remotos pode estar ligada a esse cenário de retomada gradual que temos vivido nos últimos meses.

“A diminuição do home office pode também ser reflexo da pouca infraestrutura na casa dos colaboradores (internet, espaço para trabalhar e até questões domésticas como cuidado com filhos). Na medida que a flexibilização se inicia é natural que as pessoas com algumas dificuldades desejem seguir para seus locais originais de trabalho”. 

Ela afirma que o home office já vinha crescendo como tendência em algumas capitais do país antes da quarentena, mas foi posto à prova, de fato, durante a pandemia. Os últimos meses mudaram a dinâmica de trabalho de diversas companhias, que precisaram se adaptar tanto na gestão remota, quanto nas ferramentas que compõem um “escritório virtual”.

O modelo de trabalho que foi o protagonista durante a crise do novo coronavírus, é considerado um caminho sem volta e ela acredita que muitas empresas perpetuarão esse modo de trabalho, principalmente por terem revistado o propósito e o modelo de negócios e  enxergado que é possível ter estruturas mais enxutas e flexibilizar horários – trazendo mais conforto e dinamismo ao colaborador. Um dos pilares mais importantes para o sucesso deste modelo está nos paradigmas de gestão e liderança. É preciso estabelecer uma relação de confiança entre as partes, com autonomia e transparência.

“Acreditamos que o principal motivador de um bom home office é a confiança e a transparência dos líderes com seus liderados, somado à capacidade tecnológica e psicológica de se realizar o trabalho de forma remota e ainda ter qualidade de entrega e de vida”. 

Ela também não descarta o modelo dentro de um mercado híbrido, tanto para escritórios tradicionais quanto do ponto de vista da digitalização de algumas plataformas que são complementares ao modelo físico – o caso das lojas digitais ou “e-commerces”, por exemplo. “A verdade é que praticamente tudo que se faz num escritório físico pode ser feito num escritório virtual. Cabe às companhias entenderem quais ferramentas funcionam melhor dentro do segmento que elas atuam, e pensar em alternativas para manter a cultura da empresa forte e perene”, analisou, Daniela Garcia, acrescentando que não existe uma posição absoluta na vida. O equilíbrio está no meio. Por isso, o home-office será eficaz quando houver a necessária confiança e estrutura física e psíquica. Alguns trabalhos nunca mais voltarão ao escritório, exceto para reuniões onde a confraternização seja fundamental. “Outros serão no escritório é uma boa parte será híbrida, usando o bom senso.  Empresas Conscientes trabalham com propósito e cultura fortes que deve responsabilizar as pessoas por suas entregas”. 

Em números

De acordo com a análise do Ipea, em contrapartida, grupos ocupacionais de caráter mais operacionais apresentaram menores percentuais de força de trabalho em home office em julho. É o caso de trabalhadores agrícolas, artesãos, operadores de máquinas, vendedores e trabalhadores do comércio e membros de Forças Armadas, policiais militares e bombeiros militares.

A distribuição regional do trabalho remoto indica algumas diferenças no país. A maioria dos trabalhadores remotos encontram-se no Sudeste (57,9%), seguido pelo Nordeste (16,8%), Sul (14,8%), Centro-Oeste (7,5%). Os estados que mais subiram no ranking de trabalho remoto foram Bahia, Paraná, Minas Gerais, Alagoas e Santa Catarina, enquanto Espírito Santo e Piauí registraram as maiores quedas. Distrito Federal (25,2), Rio de Janeiro (19,1%) e São Paulo (16,8%) continuaram com os maiores percentuais de trabalhadores remotos

Diretores e gerentes, trabalhadores de apoio administrativo, técnicos e profissionais de nível médio e outras concentram 41% dos trabalhadores que estão atuando remotamente, como ilustra o gráfico 3. Essa distribuição tem se mantido relativamente estável, quando comparada com os meses anteriores. Como a tabela 4 registra, o percentual de trabalhadores de cada grupo ocupacional que está exercendo suas atividades laborais de forma remota tem se mantido relativamente estável ao longo dos meses. O grupo ocupacional de profissionais das ciências e intelectuais conta com cerca de 40% de sua massa de trabalhadores em atividade remota. Entre os trabalhadores de apoio administrativo, cerca de 16% estavam em trabalho remoto, pouco acima dos técnicos e profissionais de nível médio. Já para os diretores e gerentes esse percentual era de 22,8% em julho, percentual pouco inferior ao observado para esse grupo ocupacional nos meses anteriores. 

Andréia Leite

é repórter do Jornal do Commercio
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