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Paulo Takeuchi: “ZFM é fundamental”

O diretor-executivo da Abraciclo (Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares), Paulo Takeuchi, garante que estar na Zona Franca de Manaus é fundamental para o polo de duas rodas, assim como o reconhecimento do nível de qualidade e valor agregado de seus produtos. O segmento vem de um ano vitorioso em termos de produção e vendas de motocicletas, embora o mesmo não possa ser dito das bicicletas, cujos resultados ficaram bem abaixo das expectativas iniciais. No entendimento de Takeuchi, no entanto, os veículos a mobilidade sobre duas rodas é um movimento que veio para ficar, em função das mudanças de hábitos do consumidor após o advento da pandemia, e tal conjuntura favorece o crescimento. O executivo salienta, contudo, que a entidade está atenta a possíveis obstáculos nessa trajetória, como a elevação dos custos globais de produção, as incertezas em torno da política econômica do novo governo, e o andamento das reformas política e administrativa, entre outros fatores. Na entrevista exclusiva à reportagem do Jornal do Commercio, o dirigente fala ainda de tendências de mercado, investimentos em novas tecnologias, e da importância dos programas de ESG. Leia, a seguir

Jornal do Commercio – Há um consenso de que a mudança de costumes do consumidor imposta pela pandemia ajudou a alavancar o polo de duas rodas. De que forma essa mudança de cenário está impactando no segmento? 

Paulo Takeuchi – Sim, tanto o início de 2021, quanto o começo de 2022, foram marcados pela pandemia, que impôs restrições ao funcionamento das fábricas e freou a produção. No ano passado, com a redução dos casos da covid-19, as linhas de produção retomaram suas atividades, mas sempre seguindo os protocolos sanitários para garantir a saúde e segurança do trabalhador. Vale lembrar que a maior distância entre os postos de trabalho, aumenta o tempo de fabricação de um produto. Agora, estamos acelerando o ritmo para atender a demanda que continua alta.

JC – O ano de 2022 registrou crescimento acima do esperado para as linhas de produção de motocicletas. A que fatores o senhor atribui esse movimento ininterrupto de ascensão, levando em conta os resultados de produção diversos por cilindrada? O setor não teme alguma reversão nesse cenário, no curto prazo?

PT – A motocicleta representa hoje uma ótima opção para deslocamentos urbanos, pois é ágil, tem baixo custo de manutenção e é fácil de estacionar. Além disso, pode ser utilizada como instrumento de trabalho ou para complementar a renda para quem atua nos serviços de entrega. Há, ainda, as pessoas que optaram pelo modal para fugir da aglomeração do transporte público. Por isso, acreditamos que este ano deverão ser produzidas 1.550.000 motocicletas. Existem alguns fatores que podem atrapalhar essa projeção de expansão. Por isso, estamos atentos a possíveis incertezas econômicas, como a elevação dos custos globais de produção. Também acompanhamos com muita atenção a definição da política do novo governo, o andamento das reformas política e administrativa, além do fator Custo Brasil, entre outras variáveis.

JC – As linhas de produção de bicicletas do PIM atravessaram 2022 em queda e registraram novo recuo em janeiro de 2023. O desempenho foi atribuído ao problema de abastecimento de insumos e à necessidade de adequação do mix a um cenário econômico adverso. O senhor vê algum fator adicional? Bicicletas sem câmbio, entre outros produtos, ficaram de foram da salvaguarda concedida pelo governo federal à ZFM para os decretos de IPI. Como explicar um desempenho tão divergente do registrado pelas motocicletas?

PT – Podemos afirmar que o segmento de bicicletas enfrenta dois grandes desafios. O primeiro é a falta de insumos, que atinge todas as fabricantes do mundo. O outro é nacional, que exige que as fabricantes reprogramem o mix de produção para atender a nova demanda do mercado por modelos de médio e alto valor agregado. Isso exigiu que a indústria alterasse todo o seu planejamento, que vai desde a cadeia logística até ajustes nas linhas de produção. É importante enfatizar que as mudanças não ocorrem de uma hora para outra. Tivemos, ainda, a conjuntura econômica que derrubou o poder de compra da população e elevou os níveis dos estoques de modelos de entrada nas lojas e nos centros de distribuição.

JC – Quais serão as tendências para os novos produtos da indústria de duas rodas em 2023? Elas incluem o segmento de veículos elétricos? Há estimativas de abertura de novas linhas de produção e/ou chegada de novos players do setor na Zona Franca de Manaus?

PT – O mercado de motonetas e ciclomotores elétricos tem crescido, mas ainda se restringe basicamente a alguns países da Ásia, como a China e a Indonésia, e outros europeus. No Brasil, os modelos elétricos responderam por 0,54% dos emplacamentos em 2022. A chegada de novos players ao Brasil é muito bem-vinda porque amplia as possibilidades de mobilidade urbana. Porém, a eletrificação não é nenhuma novidade, temos inúmeros projetos já desenvolvidos por marcas como Harley Davidson, Honda, Yamaha e BMW Motorrad, entre outras.

JC – O crescimento de produção do polo de duas rodas certamente é acompanhado por investimentos produtivos. E também em novas tecnologias e processos produtivos em suas plantas de Manaus? O senhor poderia destacar algumas?

PT – O polo de duas rodas investe constantemente em suas linhas de produção e em novas tecnologias. É o caso recente da adoção da 5ª fase do Promot (Programa de Controle da Poluição do Ar por Motociclos e Veículos Similares) nas motocicletas.  Desde janeiro de 2023, os produtos brasileiros passaram a ser equipados com uma série de novas tecnologias, permitindo seu alinhamento aos níveis de emissões permitidos nos mais exigentes mercados (Euro 5). Dessa forma, o Brasil consolida sua posição de referência internacional e apresenta uma das legislações mais avançadas do mundo no que se refere a emissões veiculares. No segmento das bicicletas, mesmo diante das dificuldades, as associadas nantêm seus aportes. A mobilidade sobre duas rodas é um movimento que veio para ficar, principalmente nos grandes centros urbanos, onde o ir e vir das pessoas está cada vez mais difícil. Por isso, é fundamental investir no aprimoramento dos processos fabris que vão resultar em maiores ganhos de qualidade para oferecermos ao consumidor modelos com alto valor agregado.

JC – O que o polo de duas rodas faz para trabalhar dentro do conceito da ESG no parque fabril da capital amazonense? O senhor poderia nos dar alguns exemplos?

PT – A adoção de práticas ligadas aos conceitos ESG ganha cada vez mais espaço na estratégia das associadas da Abraciclo. Estamos atentos e procuramos adotar em nossos sistemas produtivos, processos capazes de aliar altos níveis de qualidade e tecnologia, à sustentabilidade do planeta. Uma das associadas, por exemplo, implantou algumas medidas como aterro zero, neutralização de 100% das emissões de CO2 geradas nas corridas e em toda a cadeia logística (11 mil árvores plantadas), racks retornáveis para o transporte de motocicletas (deixando de gerar mais de 9 mil toneladas de resíduos de aço), utilização da água da chuva no processo da pintura, reciclagem e reaproveitamento de 93% de todos os rejeitos gerados na produção, entre outros. Já outra associada desenvolveu uma série de processos para contribuir com a preservação da natureza. Entre eles, estão uma cisterna que coleta a água do processo de geração de ar comprimido. Depois ela é reaproveitada na refrigeração de processos produtivos, gerando uma economia de cerca de 700 mil litros ao ano. A unidade conta com estação de tratamento de efluentes, capaz de tratar 75 milhões de litros ao mês, que equivale, em média, ao consumo de uma cidade com população de até 30 mil habitantes. Após a utilização da água nos processos de produção, refeitórios e sanitários, ela passa por um rigoroso processo bioquímico de purificação antes de ser devolvida ao meio ambiente. Parte do efluente final tratado é reutilizado na irrigação de jardins, nos processos industriais de limpeza de peças e limpeza da estação; e a outra parte é devolvida para a natureza, contribuindo com a preservação do ecossistema de igarapés.

JC – A ZFM está completando 56 anos em 2023. Levando em conta o balanço de sua trajetória, qual é a importância da Zona Franca para o polo de duas rodas?

PT – A Zona Franca de Manaus é fundamental para o polo de duas rodas. Aqui, produzimos motocicletas e bicicletas que são reconhecidos pelo mercado por seu excelente nível de qualidade e alto valor agregado. Esse reconhecimento é resultado dos avançados processos tecnológicos implantados nas linhas de produção, o que garante melhores índices de produtividade e competitividade. As associadas da Abraciclo investem constantemente em suas unidades fabris, geram postos de trabalho e garantem o desenvolvimento sustentável da região amazônica.

JC – Durante todo esse tempo, a ZFM enfrentou diversos desafios e a bola da vez ainda é a reforma Tributária. Que tipo de mudanças nesse sentido a Abraciclo aguarda do Congresso, e quais são suas expectativas em relação à tramitação dessa matéria? O senhor vê riscos à ZFM?

PT – A Abraciclo apoia tanto a reforma Tributária como a Administrativa, pois acredita que é necessário que elas aconteçam. Porém é preciso manter os incentivos à Zona Franca de Manaus. A indústria nacional, dentro e fora do PIM, sempre investe e se esforça para produzir com qualidade e alta tecnologia para atender aos consumidores. Estamos acompanhando atentamente as atuais discussões sobre o tema, sendo ainda prematuro emitir qualquer tipo de opinião.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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