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Sustentabilidade, pioneirismo e utopia na Amazônia

Alfredo Lopes (*) BrasilAmazoniaAgora/CIEAM 

Gilberto Freyre, o pernambucano de Casa Grande & Senzala, reconheceu em Samuel Benchimol a referência necessária, teórica e vivencial para a compreensão da esfinge amazônica.

Atribui-se ao Relatório Brundtland, mais conhecido por Nosso Futuro Comum – publicado pela Comissão Mundial do Meio Ambiente, em 1987, a primeira aproximação e ensaio do conceito de sustentabilidade na história da relação entre Meio Ambiente e Desenvolvimento, tema da Conferência da ONU, no Rio de Janeiro, em 1992. Gro Harlem Brundtland, primeira ministra da Noruega, foi a responsável pela Comissão preparatória da Conferência Rio-92, onde foi uma das celebridades mais badaladas. Em 1991/92, antes do evento, esteve na Amazônia e com ela, alguns dos mais importantes líderes mundiais desfilaram pela floresta a partir de Manaus. Ninguém dos visitantes conseguiu constatar a tal das queimadas. Alguns foram destaques Helmut Khol, Príncipe Charles, Príncipe Phillip, fundador da WWF, ambos da família real inglesa, Al Gore, que seria vice-presidente dos Estados Unidos na gestão Bill Clinton, a partir de 1993, o líder chinês Deng Xiaoping, entre outros pesos pesados. A Amazônia e suas queimadas estava na berlinda do aquecimento global.  Entretanto, foi a partir da Amazônia que o termo ganhou nuances de singularidade e de vertentes de universalidade na dinâmica das premissas e no alcance das suas exigências. Com a palavra, o amazonólogo Samuel Benchimol, remanescente de uma saga pioneira que desembarcou na Amazônia nos primórdios do Ciclo da Borracha. 

Para entender a Amazônia 

Com a autoridade de uma vivência bicentenária dos judeus marroquinos na Amazônia, podemos afirmar que o conceito mais amplo, ambientalmente mais abrangente e mais coerente com a conservação da biodiversidade e suas implicações socioambientais, econômicas e políticas, emerge com a força desta saga representada pelos  Benchimol/Minev, sua labuta florestal com 40 frentes empreendedoras do extrativismo e de beneficiamento de produtos regionais, foi construída uma narrativa poética na base da antropologia econômica e cultural, reconhecida por Gilberto Freyre. O pernambucano de Casa Grande & Senzala atribuiu a Samuel Benchimol a referência necessária teórica e vivencial para a compreensão da esfinge amazônica. Há 10 anos, Samuel passou a figurar na galeria dos maiores empreendedores do país, na coleção dos Pioneiros e Empreendedores do Brasil, publicada pela EDUSP/FEA, sob a batuta de Jacques Marcovitch, professor emérito da Universidade de São Paulo. 

A nova Terra Prometida

Os antecedentes da família Benchimol são judeus marroquinos/sefarditas, perseguidos pela Inquisição Espanhola, que chegaram ao Brasil no início do Século XIX. A chegada empreendedora dos Benchimol na Amazônia, a nova Terra Prometida, se deu nas três últimas décadas daquele século e está relacionada ao Ciclo da Borracha. Isaac Benchimol, com a retaguarda de D.Nina, ou Lili, a Matriarca, fundou a Benchimol &Irmaos –  depois chamada Bemol –  em 1942, com três de seus filhos, Issac, Samuel e Israel. Samuel destacou-se, além do lado empresarial, a figura de um dos maiores intelectuais amazonenses, com 115 títulos. A família deu sequência ao processo de consolidação do Grupo Bemol e Fogás, ambos com quase 80 anos de memória. O conceito de Sustentabilidade, nesta jornada, é fruto da ação e da reflexão,  e condiz com a  expectativa dos amazônidas em relação às políticas públicas e do empreendedorismo liberal na geração de riqueza na floresta. Ou seja, sustentabilidade é um paradigma de  desenvolvimento economicamente viável, ecologicamente adequado, politicamente equilibrado e socialmente justo.

“Neblina é diferente de fumaça” 

Este conceito foi formalmente apresentado na Conferência Rio-92, onde a Amazônia seria previamente acusada de favorecer as queimadas das mudanças climáticas e seu suposto alcance planetário. Uma conversa furada para escalar um bode-expiatório no tribunal dos países poluentes, com destaque para Estados Unidos, 25% das emissões dos gases do efeito estufa na atmosférica na ocasião. “Os satélites da NASA, talvez por limitações tecnológicas, não diferenciam neblina de fumaça, e isso torna as coisas difíceis pra todo mundo”, ironizava  o governador Gilberto Mestrinho na ocasião, uma das poucas vozes de defesa da Amazônia no evento, sempre respaldado nas teses do professor Samuel Benchimol e sua vasta literatura sobre a Amazônia e sua ocupação.

Guerra na Floresta 

Depois da Conferência, encerrada em junho de 1992, foi publicada, como Síntese e Recomendações do evento, a Agenda 21, com o registro dos avanços e decisões dessa Cúpula da Terra, bem como as instruções para os países repercutirem na vida cotidiana de suas populações. Diz o texto em sua introdução:  sustentabilidade supõe o atendimento das demandas sociais e reposição dos estoques naturais.  Aqui, claramente, se deduz a a influência de Samuel Benchimol, que havia lançado durante a Rio-92, um de seus mais proféticos trabalhos, Guerra na Floresta,  onde usa a autoridade de um integrante destacado da saga empreendedora do povo hebreu na floresta, que empreende há dois séculos em dezenas de setores da economia da Amazônia.  No livro, ele recomenda um diálogo transparente entre o hemisfério Norte e Sul, com a denúncia de que a intocabilidade proposta para a Amazônia por parte dos países centrais, de clima boreal, não atende às expectativas, à cultura e às necessidades humanas nos trópicos amazônicos: “… a Amazônia tem valor, mas não tem preço; não tem preço, mas tem custo”. Assim, já nos anos 90, defendia que o Primeiro Mundo pagasse os serviços ambientais que gratuitamente são dados pela floresta ao planeta. 

Governança Bemol 

Passadas duas décadas, o legado de Samuel Benchimol, além de sua contribuição empreendedora, ao lado dos irmãos Saul e Israel, incluem antevisões que podem ser identificadas atualmente no mundo corporativo, no debate político e nas pesquisas acadêmicas. Diríamos que ele sedimentou as bases do  pensamento amazônico, para substituir a folia dos especialistas da Hileia, pelo adensamento de uma teoria crítica e de uma nova prática empreendedora para essa esfinge irresistível. É preciso decodificar as intuições e trilhas sugeridas em Samuel Benchimol. sua vasta herança de vida e respectiva reflexão teórica a partir no cotidiano da floresta. Decodificar e utilizar suas premissas é a melhor investida na compreensão do que é empreender na Amazônia. As implicações deste conceito de sustentabilidade deve orientar o relacionamento entre empreendedores e seus compromissos socioambientais em novos formatos de governança. Isto está presente nesta nova narrativa do figurino imposto pelo mercado, e resumido na sigla ESG, Environmental and Social Governance. Isso pode ser percebido no padrão Bemol de atendimento com clientes, colaboradores e fornecedores, uma interação dinamização, construtiva e visionária no sentido da antecipação da utopia amazônica. É este o conceito em movimento de sustentabilidade, que será sempre atual e atualizável pelo modo Amazônia de empreender,  economicamente viável, ecologicamente adequado, politicamente equilibrado e socialmente justo, ou seja, sustentável.

 (*) Alfredo é consultor do CIEAM e editor-geral do portal BrasilAmazoniaAgora 
(**) Coluna Follow-up é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, no Jornal do Comércio sob a responsabilidade do CIEAM e coordenação editorial de Alfredo Lopes 
Foto/Destaque: Divulgação

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